quarta-feira, 4 de junho de 1997

RETRATO

Poucas semanas de vida



MOSCAVIDE
RETRATO







Deixa-me ser assim pequenino, bebé eterno no meu retrato, vivendo no mundo sem antiguidades nem humanidades complicadas.
Deixa-me ser a foto da criatura naqueles olhinhos de sono nos braços da sua protegida, a única palavra que ninguém lhe ensinou nem tradução necessita, envolto naqueles galhos ternurentos, que é amor doce de Mãe.

Deixa-me ser assim eternamente pequerrucho, viver no meu retrato o carinho daquele peito aconchegado, no afeto envolto em abraços daquela voz melosa e quente… 
Deixa-me, peço-te.

Deixa-me ser como aquele retrato, sempre menino daquela idade, ser querido por entre beijos e calores humanos sem crescimentos de idades, com aquela felicidade de viver o perpétuo, constante coração amado.

Deixa-me viver dentro do passado, tu que podes parar o tempo embalsamado… nos braços do meu retrato.
Deixa-me, peço-te.
















domingo, 25 de maio de 1997

DE MIM


MOSCAVIDE




Eu, sou gémeo que me invento
“Eu”, sou balança de corpo isento
Um e outro irmão, sou omnipresente…
Sou eu, e "eu" não sou quem de mim sente.




DE MIM





Porque acordo neste envoltório, amando outro corpo
oferecido e não estranho? 
Que antes de ter sido, foi ser o que foi… e sou, 
sobrenome dum irmão germano.

Matéria inocente, me tornei parte aquém de Odin
estereotipia de mim… 


Sentindo que era, donde sem saber, donde?
Solta quimera  por onde o mundo fôra... livre sim.

















sexta-feira, 25 de abril de 1997

DE… MEU IRMÃO






Meu irmão nasceu dois anos antes de mim
com o mesmo nome que eu tenho e faleceu
com três meses por doença.



DE… MEU IRMÃO

 

Às vezes sonho com ele.

Pressinto o eco pingo de uma gota d’água, 
lusco-fusco de um fosco baço, 

um pisco pisca num espelho sem forma definida, 

um treme-treme arco-íris numa alma colorida, 

fantasma da minha fantasia, peão de meus passos.