domingo, 24 de dezembro de 2000

RITUAL





/EM VILA FRANCA DE XIRA/
RITUAL


Por vezes, sentia-me dividido, partes confusas, tudo andava depressa no meu espaço, as horas do dia eram escassas e as da noite diminutas, insensatas, para o ritmo que levava.
Pisava o chão como se estivesse minado de agulhas, nunca fui capaz de permanecer na duração do sítio inventado…

E as horas passavam nos segundos, como a máquina do tempo à volta do mundo…
Eu não tinha paz no minuto, e os anos da juventude eram sempre frescos, irresistíveis para quem se aproximasse, rostos que eu amava com a entrega do ser, passavam como o vento, não davam descanso para ver a idade.

Um dia seriam a desgraça, quando quisesse parar… onde devia estar e a quem tinha feito a promessa de encontrar a verdade no amor.

O sol era o meu relógio e a lua o esquecimento dos bafos quentes, dos panos amarrotados no chão da cama, dos gemidos profundos em intermináveis paredes desconhecidas, dos corpos reunidos em braços e pernas encolhidos, das vozes que faziam promessas sem sentido, na podridão do sentimento vivido depressa.

Não tinha pressa de viver, mas momentos vividos valiam uma vida sem nada ter pedido, não tinha hora de chegada nem de partida, andava um pouco à revelia da liberdade, sem sentido, meus passos não tinham contrato efectivo, era abstracto e desconhecido e o mundo demasiado fácil, e a minha vontade fraca no querer parar, e forte no dominar.