quinta-feira, 9 de agosto de 2007

PÉS NA CALÇADA DO ROSSIO (ESTAÇÃO FERROVIÁRIA DO ROSSIO)







PÉS NA CALÇADA 
DO ROSSIO 
(ESTAÇÃO FERROVIÁRIA DO ROSSIO)






Vislumbrei numa premonição de segundos
todo aquele galgar de gentes cruzadas
no fim de mais um dia de trabalho juntos,
cansados, com a vontade de chegar a casa.

Foi no Terminal do Rossio à hora de ponta
vinha eu dos Restauradores a passar
era Verão, e sem saber porquê (que bronca!)
 Hipnotizado, fixei os pés no olhar...

Eram pessoas a entrar!
 Iam pessoas a sair!
É pessoas a descer!
É pessoas a subir!
É pessoas a correr!
É pessoas a tropeçar!
É pessoas a sorrir!
É pessoas a tremer!
É pessoas a transpirar!
É pessoas a tossir!
É pessoas a empurrar!

São pessoas que não querem falar!
São pessoas que querem chegar!
São pessoas que querem fugir!
Fixei vários pés a sumir...
É o stress dos passos
na sua mímica de palhaços.

 Desviando o olhar…
Vi ondas sem mar
vi pés de formas exactas
são tantas patolas!
Dar-se-ia trocas e baldrocas
a DisneyLândia das patas.

Não vi tamancos e socas
vi o cano das peles!
Vi a sola das botas!
Vi sapatilhas reles!
E sandálias com presilhas tortas.

O passado dos passos…
Esses, a um dado ápice, ido
no flash do olhar,
o calçado da gente a trotar
pela câmara do espírito
o sonho nos passos…

E um passo que é outro passo
outro, mais um, mais e mais!
Um outro, passo a passo…

Um e outro de cada vez
um cada, cada um!
Em marcação, de compasso…
Uns outros, e outros mais!

Passo entre passo
batendo o tom
soando o som
repetindo o dom
que som não é!
Mas passos.

Passinhos, passões, passadas!
Conforme os passos das pernas
ou as perninhas dos passos.

Um é!
Ainda até.
Outro de certeza,
Não é!

O pé do nu no nu do pé
numa bota que é bota
que outra bota não é…
Mas passos!

Uns e outros
um cada… e cada um!
Tudo isto eu vi
no meio dentre tantos!
Num só!
Único!

Um passo.