segunda-feira, 6 de julho de 1998

 






/POVOA DE LANHOSO/


AS MINHAS AMIGUINHAS





Eu tinha umas amiguinhas que visitava todas as tardinhas de verão… Com meus sete anos de alta impressão.
Ajudava a limpar as carreirinhas de areia, trazia migalhas de pão que eu espalhava de mão cheia como os pães e as sardinhas do mar, e elas puxavam no ar com unhas e dentes restos de alimentos para as suas tocas, sem pararem um segundo sequer às voltas. 

Todos os dias visitava aquelas criaturinhas, tinha fascínio no que faziam e praticavam, admirava a sua persistência, e elas o hábito da minha presença.
Eu comunicava e elas falavam todas aos milhares, parecia uma central de comunicações pela terra dentro, falando pelos corredores e todos os subterrâneos e altares, dizendo que tinham um amigo com mãos gigantes… e que também sabia fazer milagres dos tempos que eram… como dantes. 

Um dia, pararam.
Coisa que elas não faziam nem um segundo por nada deste mundo, e puseram-se a olhar lá de baixo cá para o alto com suas antenazinhas no ar, a enviar…
De princípio não entendi, mas depois, mentalmente traduzi pelo emissor a onda que saía sensivelmente, como se de um contacto em voz telegrafada, enviasse um pedido de ajuda em letra de carta… queriam que eu colocasse as migalhas nas tocas em vez de elas puxarem cansadas, quase mortas. E como nada custava a um gigante… já noutras alturas resultara, principalmente naquele inverno que mais cedo começara.

E assim, passava horas loucas a cuidar das minhas amigas, a vê-las passear em fila indiana, e eu sempre ali… e elas à espera de mim, todos os dias da semana. 
 Eu adorava o porte daquelas amigas cuidadas, na maneira como elas se movimentavam e me olhavam, e vivia no amor delas como um gigante de tal sorte, por serem as minhas pequeninas… amadas.
Por serem as minhas pequeninas… cuidadas e amadas… eu amava aqueles minúsculos bichinhos, que eram minhas amigas, e todas andavam de mão dada… as minhas bichinhas.

Eu tinha umas amiguinhas que visitava todas as tardinhas de verão… em fileirinha naquelas fininhas patinhas…

E eram as minhas formiguinhas… amadas do coração.