segunda-feira, 8 de julho de 2013

CONFIDÊNCIAS DE UM LIVRO - II PARTE





CONFIDÊNCIAS DE UM LIVRO


II PARTE

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Um dia... viverei nas cores do arco-íris. 
O azul será a minha casa do céu... as remanescentes serão os meus mundos.


Em soturnas horas que não quero, ensombradas pelos círculos do enegrecer, algo vai de certeza antecipado como a moleza no trabalho, coisas que executo sem estímulos do que faço em perdidos desinteresses, porque são autómatos os reflexos dos actos, e esquecidos os momentos mecânicos em voltas distraídas.
Parece uma preparação do sono que trago durante o dia, abrindo de quando em vez a boca de pasmo, as noites com intervalos interrompidos, pensando que escrevo ao reler tanta vez… o eco que me vai na cabeça até cair na leveza do adormecer.
Daqui advém inúmeros extravios, perdidos desencontros, que não sei se estou dentro do sonho ou fora dele… se ando acordado dormindo em pé, ou a sonhar com a realidade. 
Enfim, é o dormitar vigilante, do espectro que é o meu dormir parecido com o espelho do meu repouso, e a angústia de sentir, o que antevejo na dor como um mago do futuro no único modo de resistir – o oxigénio fatal para viver.  




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Embora o dia esteja ensolarado, está um frio de rachar… tanto frio, que sinto o gelo do ar passar as calças de ganga, engelhando os ossos e a carne das tíbias, procurando o jeito de agasalhar as partes que são mais sensíveis, sem descuidar as mãos dos bolsos…

Como prisioneiro do tempo sinto o cerco contínuo da noite esfriando meu corpo… da solidão do dia entregue ao abandono da alma nos lados desertos do coração gelado, da cor esbranquiçada posta a descoberto em lençóis de orvalho matinal… 

... do sentido do existir como único ser do universo, como todo aquele que sofre inconsciente – por saber que estou só com os meus fantasmas, embora esteja rodeado das criaturas que me fazem viver o silêncio no além-mundo…
Eu não me possuo, porque se esgotou o tempo da minha linha da vida.
E sinto-me feliz.
Um dia que passa é sempre um dia a mais, que já não devia. Em vez de diminuir – aumenta. É como um bónus que dá vida à não vida.  




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Tudo que é acaso me cerca.
Um dentro de outro até à milionésima parte incerta
quando cativo dos ares, prisioneiro de lugares...
acorrentado a um ecossistema na minha outra humanidade
inventando o problema do condenado à prisão com liberdade.
… E o meu rosto impassível, vai adicionando bocados que faturam nos instantes ininterruptos do cálculo mental, como se nada fosse… um registo das coisas, que incita a busca do ser incessante na sua complexidade abrupta e existencial.
O caos carrilhonando espirros da comoção, leva no remoinho do furacão, sugando tudo que apanha como uma teia de aranha… e leva o eu de mim, destroço cheio de pó esquecido a um canto do tempo, à espera de ser limpo com aspecto de vivo.
No centro ego, permanece imperturbável sem que nada altere minha equação matemática do que me rodeia, lugares do meu firmamento parecendo loucamente vazio, quando estou ocupado comigo mesmo na visão celular do que é livre… nesta luta entre mim e o outro eu que não está aqui.  




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Por vezes, no conflito permanente a que me obrigo, prejudico tudo que possuo dentro, subindo o degrau mais difícil sem dar por isso, compensando a troca aos que me são queridos. Cabe agora cuidar dos tempos que estão mais perto do fim.
Outros, são ajudados por não terem nada, todo o bem material que é necessário para dar início às suas vidas… e respirarem de alívio por Deus lhes dar graças de prosseguir.


Ao escrever, faço-o porque não sei…
que desígnios me estão reservados?
Nem sequer sigo a lei…

 

Quid pro quo isso da lenda?
Esta necessidade, meu Deus dos amados!
Aqueles que estão acordados…
ou será que o meu espírito me ordena?
Juntinho a nós, eu e outro quem pensa,
não consigo parar se dói.
Mesmo que o meu corpo desapareça!
Só a inquietação mói.



Esvoaçando em círculos no calvário da punição, sobrevive numa alma penada habitando a carne, uma criatura de esqueleto e coração. Não é para me defender, mas sim, para me concertar em dias que tenha tempo antes do dia do juízo, por outros em que a vaga conduta andou às avessas com os modos do pensamento, e de tais atos que foram errados, e não eram da consciência.  





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E sigo na esteira das minhas letras, como a mulher que borda seu rendado com artifícios, de atos que foram doutros ensinos, quando a agulha cruzada no seu tricot em ponto de cruz se transforma como artes mágicas… 
É como a minha tinta cheia de ilusões - esqueço-me de quem sou, sonhando como quem quer, porque não vivo quando sonho, e sinto as palavras de meus escritos vindo do meu passado como um arauto da fé… que não sabendo mentir, vão sendo sinceras por serem corretas e religiosamente proféticas.



Meus olhares de olhos
com olheiras queimadas,
denunciam mil e uma vidas
no prazer de costumes,
e vícios proibidos duma adolescência
à voltagem de altas horas…


Boémio pela vida fora,
com dentinhos de tubarão
mastigando noites em efervescência
como coleções do tempo em erosão.


Numa destas páginas, se houver coragem nas vontades, talvez aqui venham relatadas Confidências… por agora, só umas pequenas incongruências…



 


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As velas disputam o cheiro do incenso, em vez do vento fustigando o pavio sem descanso. Assim que temperarem, talvez se ateiem. Até lá ouvem-se vozes, vêem-se sinais luzentes no olhar, arfam as gargantas atulhando quem sopra, range o soalho de tábuas estaladas, mudam-se os seres para lá das portas… 


A claridade, veio na ponta da chama.  
Influi a mecha com o rastilho do pau fósforo, 
iluminando trevas luminosas como o raiar da luz do dia.

E no meio do espaço aberto, já não se encontra os murmúrios de quem esteve possuído no escuro… apenas da janela por onde entra o sol, procuro - é diferente do génio da lua interminavelmente quieto.
Quem quiser desvendar o segredo, terá que saber viver só da parte abstrata que é a noite tarde ou cedo, e sentir que o que lê... aconteceu na sua vida porquê?


O dia é para os protestantes apenas horas repetidas, num relógio sem aspirações que dê significado às arrelias. Se tudo fitam é como cegueira que avista fútil inutilidade.






 
 
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Tudo passa com passividade 
se um fulano usa indiferença.

E todo vem negro de ardores 
se o sonho não é a cores…
aquilo que é mais agradável, 
simples e devastador,
tem o cérebro incurável 
e anda ao acaso do amor.

Mas a complacência favor 
ainda não está preparada.
O que não interessa nada?
A tal se dá mais valor.




É tão doce a tensão que mede a sensibilidade, que torna distante a torrente que não alcanço por ter uma certa plasticidade, e se por acaso auscultam a forma como o parecer é obtido, replico no vai e vem de mim como um simples monge de aberto espírito.
No recôndito profundo onde por vezes me encontro, sinto um estranho que se acomoda na sua letargia e se inventa de todos os “eus “do Mundo repetidos, de cada vez que acordo bocejando com gemidos. 
É como se fosse interminável, tendo imensas formas em catadupa no meu historial, vividas numa só vida a que se junta a suspensão dos devaneios, de tão afáveis que são os meus escritos com recheios.





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Aferrolhando os olhos e o coração, fatigados do pranto contidos na retina, ao não usufruírem de ladainhas que provocassem o atrito da emoção, fecho meu livro com todas as sensações que as minhas folhas encerram, e ao ter esta cena repetida, sofro com o acto de fechar os meus sonhos também, e o medo que se percam…
É como se a minha vida acabasse no momento em que terminam, escondendo o passado inconveniente, que afundo nos lençóis da cama sem vida nem sociedade no retrocesso da corrente… sem noção do conhecimento que me atormenta, como as marés cheias de saudade e abandono, antes que aceda.
Não é para ter pena de mim que reabro meu livro, ou espero o consolo de quem não sabe ler nas minhas entrelinhas, pois o que eu quero é escrever sem ter fim à vista, tal é a minha necessidade do abismo e daquilo que me leva, eu trago…
Era preciso para além da lucidez, usufruir uma sensibilidade genuína da visão que a minha alma encerra, se alguém soubesse ler-me como um livro aberto.
Saber dos passos que dei inseguro, pois os que vou dando, tem um perfume incerto a futuro.  






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Era assistir ao meu nascimento e ao dia se vou morrer…
Aí não havia segredos nem discursos, toda a gente era informada… e eu dormindo sem pestanejar, com olhos e audição de jornalista, falando comigo a parte dum deus menor… viajaria com o meu espírito, ouvindo num comentário breve e sucinto o que fui, porque o que sou ninguém adivinha, não sabe para onde vou… nesse dia de adejo invisível.

Talvez um escólio de amigo poeta e uma odalisca ouvindo…  
ao escutar deixou uma mente deserta. 
Quando partiu… andou sorrindo. 
Coabita a parte receio, abraçando o piso que não achou. 
Por aí anda em entrelaçado enleio…
... a sorrir encontrou…

Interrogo-me se nunca sairei da minha rua solitária, sem a alma que acompanhará os últimos rasgos da existência, que estarei em parte indefinida, sem uma doce companhia.  





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E ao erigir esta dúvida aqui nesta folha, a demora que é momento de um ao outro, por mais inexata que seja - parece uma eternidade.


Mas vou agarrar-te morena!
Não sei bem quando…?
O toque do teu sorriso amando…
está escrito no teu coração de seda.

Todos nós temos necessidade de ter necessidade de algo… 
Todos nós temos desejos da necessidade do afecto.
Mas importante, para além da sorte desse sentimento, é ter alguém cúmplice da nossa mente e vontade, que está sempre do nosso lado nas horas boas ou más, e então sendo mais do que uma amiga – é a metade da nossa alma, aquela parte que nos falta, mesmo que se viva uma vida inteira com outra e se chega à triste conclusão no final, que vivemos com um estranho na vida total.
Confesso.
Eu tenho dificuldade em demonstrar que tenho necessidade de ter desejos da necessidade de algo, porque não consigo dizer a quem gosto pessoalmente o que sinto, sejam eles parentes dos menos aos mais chegados e até de quem me apaixono por ser complicado…
Mas se gosto de alguém como a certeza da morte… sem a tal cumplicidade, antes que parta e o tempo me fuja, digo a esse ser que não consigo viver sem que lhe fale ao coração esse derradeiro afecto.
Ao ficar sozinho, irei ver o sol nascer num sítio deserto com um sorriso, e entre a poeira da estrada recordar em segundos toda a minha miserável vida, e partir ao encontro doutra que me acolha em seus braços, enlaçando a paz e o amor com alívio.






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Escrevi mensagens perdidas para os anjos das ermidas. 
Em vez de insistências esquisitas? Penas e peles galinhas. 
Porque na forma complexa de amar sobra o respeito e a amizade, 
onde é o meu lugar… por direito com a idade. 
Para tudo há um momento certo.
Só depois do antes… surge o errado, o caminhar de vidas trocadas.
Certo, o amor de ambos.

Mas se isto é necessidade…
Os desejos e abraços do afecto serão um sonho.
E o amor?
O sonho da minha realeza, porque só sei viver amando.
Tanta vez se confunde o real, que vivo imaginando que o sonho é a realidade.
De atalaia ou talvez não esteja, se uma dona de vestido comprido, voando de asas brancas se aninhe no meu carinho, e seja eu quem beija… Então não é o destino nem o sonho realmente in vitro, de algo que passa na minha vontade, e não no querer da imaginação – estado latente que hiberna em câmara lenta de um modo pessoal estranhamente. 




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Um dia pedirás para ser o teu amor, ainda que não passes dum fantasma para os seres que têm o espectro da razão, antes da morte, e da salvação.
Talvez solta, corra uma lágrima de emoção…

Todos nós temos necessidade de ter necessidade de algo… 
salvo, nem do quê, nem porquê?
Só a falta da coisa… nos provoca carência de falta de nada… 
febres e sedes por ser coisa pouca, saudades que nos mata.

Não são os tapumes da minha prisão, nem os espíritos fracos deambulando pelas ruas, tantas vezes por mim pisadas que invadem a imutabilidade do insuprível, que me causam tédio constante dos dias que passam desconcertantes, por entre sumiços de luzes que vêm na penumbra do invisível – Não são.
São todos aqueles humanos nos corpos que de mim se afastam por espaços, que ignoram os génios rasos espairecendo no ar, e me reconhecem com o trato da minha familiaridade, que me deixam a sensação de um vazio no ar e um desprazer que não querem… são como eu na maneira de desejar, embora não pareça, porque não o conseguem demonstrar.




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Só o silêncio denuncia a voz embargada pela admiração, e os gestos das cabeças inclinadas, dão a sensação de que algo se passa ao redor, ouvindo-se o sibilar dos meus passos rasgando o tempo.
Qualquer coisa paira na atmosfera em sintonia com a percepção… de quem está presente interiormente, querendo ausentar-se ao de fora…
Há uma miséria enfadonha daquelas vidas, transversal à descoberta da minha. É o conhecimento interior de serem meus idênticos, que invadem minha pele, prisioneiro da suspeição, que fazem de mim pobre sem abrigo, e sem alma.
Há episódios em que os detalhes banais me apaixonam na sua vivência inoportuna, se aqueles floreados que usam apenas servem para sobressair, como falsos atores de cinema.
Eu tenho no amor, de sentir tudo o que vejo nitidamente, sem precisar do dicionário que interprete meus sentimentos, ou copie da tela do pintor a arte que não soube inventar.
Partes de mim em ocasiões especiais, há lugares que me aperreia como neste precioso momento, em que me sinto mais eu que a própria natureza das coisas.




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Essas realidades sensaboronas que andam cá fora, são um todo universo que me passa ao lado, atravessam a minha frente…
Impertinentes, nem dou por elas… existem como uma névoa, inconscientes.
 Eu sou o centro do meu ego e o mundo não tem nada.
Abstraio-me da minha vontade porque me julgo outro – não sinto, não sonho… caminho pisando escombros como pesadelos, porque apaguei o universo do meu mapa.
Avanço porque não posso retroceder… se paro?
Morro apenas onde estou.
E ao morrer, o mundo não tem nada, tudo deixa de existir.


A dor vem no desligar da vida. 
É um sofrimento imenso!
É no instante perdida, em que se morre no tempo. 
 Só o pode saber quem já partiu, e não morreu…  
caminhante como um rio, vive como um morto,  
ao lado do corpo, fora do seu…

 Este capricho por atalhos de memória, por vezes complexos, acabam por influenciar o modo desencaminhado como penso, sem o poder evitar.  






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São vícios de quem amarga e se tenta afirmar, procurando o justo lugar das coisas dos seres…
/Antevisão da chegada à minha morada. /
/Tanta ansiedade no fim do dia… /
/O vazio da tarde…/

A anunciação do anjo que fala da companheira ideal.
Os filhos inventados nos sonhos como contos de fadas.
As pessoas nos afazeres como autómatos nos cargos.
A chuva lá fora semeando lamaçais…
E a minha previsão do medo tentando evitar desperdícios da sujidade, se protegem a cabeça dos pingos fictícios, e a consciência da imprudência da alma, implícita nos tiques dos olhos…
A um canto tombado, farrapo perdido no espaço tingido do meu ser desperto, fingido rumo da minha inconsciência insana, que tapa todos os caminhos por onde anda mente inquieta…
Tenho algo que mexe, ao não demorar, terei que revelar para me compreender.  





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Todos os recados são evidentes quando são construídos, encerram parte escrita e a vontade do autor, demonstram ao serem axiomáticos na sua descrição sigilosa e comprovam os diferentes modos de ler, destinados contrariamente a não ser brilhantes e soletrados como segredos.


Não encaro bem o mundo
onde haja tanta multidão
/penumbra inquieta de nenhures/
e todos eles diferentes de mim…
sendo o todo daqueles semelhantes fisicamente,
não entidade gémea minha,
íntimo no feitio de sentir eu… e indiferentes,
da maneira de ser deles.

Ao contar este não segredo, revelo a verdade a quem está no silêncio, que é uma forma de se descobrir a si mesmo, satisfazendo a sua curiosidade humana.
Destes inexequíveis diários aflitos, este contínuo ensejo se tornou o maior de sempre, a angústia de toda a minha tristeza, no espaço circunstancial do tempo.
Esta inveja que eu tenho, não é impressão das pessoas, é um estado de alma, de todas as minhas horas melancólicas não serem parecidas… E todos desiguais entre si por usufruírem ciúmes iguais.  






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Um segredo excessivamente claro, também é um desabafo.
E este não se ausenta, espera.
O que sinto não muda. Por vezes fujo… e sou eu à mesma.
Mas a mágoa persegue-me, e não me apetece ser eu. E mesmo que seja quem não quero, eu esqueço quem sou…  aquela dolência que em tempos embalsamou minha alma.
Tantos risos perdidos, vozes que ficam esquecidas na época, flores que embelezam o tálamo verdejante, angústias das saudades de viventes queridos, algo que se perde… o amor disfarçado de companhia quando estamos sós, o carinho que se pede – a falta que isto nos faz, por sermos todos carentes – aqui jaz.
Esta melancolia de todos nós… não é só minha, também é vossa seja de quem for vossos olhos, sentem como eu – eles não mentem nem conseguem fingir.
Quem estiver comigo, levará consigo alegria…
e nem dará pelos corações tristes nem a tristeza que há na vida.
Que se dane o dia da partida!
Se for possível viver… enquanto indivisível.





 


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Uma lufada de ar fresco avança, tenta segredos… 
uma rabanada de jactância em meus cabelos.
Ereto, pregado ao chão, solto como um Deus grego… 
tudo bate no meu corpo como um cata-vento.
Um sol alaranjado diurno de ar queimado, a sorver, 
abrasa meus olhos turvos com a chama da alma arder. 
Não perco o horizonte lá longe do monte… 
grande cegueira em que se tapa a frente das nuvens de calor a tremer… 
acordo numa tempestade de areia e pó do vento das dunas, sem poder viver.



Elevo meu pensamento, projetando algo de mim secreto, com o conhecimento de ser eu… na consciência do que faça, e análise do ser equívoco, até à alienação da loucura.
Não abrigando indício do que pretendo, sou um estranho do que vejo, e um cego do que não quero. 
 Contemplo o horizonte que me cerca, numa amplitude decrépita destruindo meus vales de sonhos em lágrimas nebulosos, com todas as conceções e perceções que  geraram as minhas reflexões, tentando evitar a embriaguez e a demência na ignorância dos meus atos.
E afinal, sem me deter no falso e congénito pudor, não consegui ser o actor das minhas ideias, nem o intérprete dos meus gestos. 





  
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Tudo o que fui, tudo o que sou, foi tempo perdido.
E só por si, basta. O que não tem volta, acaba… se não houver presente, porque o que vem depois… nem vale a pena falar.
Algo se camuflou no meu espírito e tem comandado meu corpo como um fugitivo da minha identidade, praticando a insubordinação de meus pensamentos, e atuando contra minha vontade ao cometer a intrusão com ações, que interrompem o singular caminho de meus passos.
Apodera-se de mim um pavor inaudito tal, um desânimo que ultrapassa os términos da minha consciência individual.
É uma impressão de quem desperta de um pesadelo real, ou acorda com um terramoto na cabeça, e tem a sensação familiar de viver numa jaula.
É tão grande o terror que me vai na alma, tantos anos sem sentido, que às vezes a minha casa é o tribunal daquilo que sinto ensonado… e vejo à espera de cumprir a pena de uma vida condenada, viajando pelo tempo sem nada. 





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Até quando perderei a individualidade desta doença… com garras de tumor feitas solidão?

Quem conhece a vida do palhaço, sabe como é difícil fazer rir, e por vezes tão triste por detrás daquele sorriso, um coração atordoado de tanta dor… destroçado... rindo com mágoa.
Para quem escreve, e atua no registo das palavras, os sons e os gestos não têm significado.
Mas fazer sentir, meu Deus!
Para quem nos lê, é quase um milagre, imitar um espião na sofreguidão das palavras.
É tão complicado exprimir o que sinto, que às vezes quem sente como eu na realidade, me faz sair do sonho vivo.
Só então, adormecido, vejo que existo.
É tão bonito, e emocionante, alguém comentar: 

- Vítor… sente-se que o que escreves vem de dentro...
- … faz-nos sentir o que estamos a ler, e isso é saber escrever, 
saber dizer o que vai na alma através da escrita. 






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Esta ovação, é o melhor aplauso para quem escreve.
Ninguém sabe como é gratificante gravar estas palavras no coração. Ao fazê-lo bater com este carinho, ele acelera, e não consigo evitar o marejar dos olhos com estas gotas de atracão.
/Obrigado a quem me dá o privilégio desta amizade, e aos que me lêem em segredo e não comentam (com muita pena minha), agradeço com o mesmo amor que vos tenho – Obrigado. /
/Às amigas, um beijo do meu coração dado. /
/Aos amigos, o coração dum irmão, claro. /



É tão difícil sentir, 
fazendo ver a quem sente, 
sentindo como eu sinto… 
/E não sou diferente de ti – coração/ 
querer como tu, em vão sentimento desconhecido.

Sentes… sentir como eu sinto faz sentido?
Tenta entender o amor 
quando todos os teus sentidos sentem, 
e não porque é bonito 
e comovente impressionar a dor.
Sente desconhecido!
Sente, vive, morre!
Mas ama.
Vai ver o amor e beijar o mar…
aprende comigo o verbo amar.

Junta-te a mim musa querida.
Eu também amo como tu amas – a vida.






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Esta agitação da minha fraca existência põe-me num frenesim desconexo. Ao certo, desconheço quais são os vocábulos que melhor esclarecem esta humanidade sentida.
Sinto-me como um louco inofensivo, dormitando num febril sono impreciso.
O meu nascimento foi uma partida à chegada doutra parte… sobrevivendo como um desconhecido dum burgo, e regressando sempre às raízes da minha cidade como um passageiro imprevisto, numa aparição esquisita com a perda da lembrança, julgando ser outro vezes sem conta.
Não mudei de rosto, nem de consciência… mas perdi-me em reflexões com tanta intensidade, que o outro não fui acreditando ter sido.
Qualquer realidade transporta a verdade nua e crua, e no meu caso, não possuindo significado quimérico, seja sensato e inato, me convença da razão ilusória como se fosse autêntica – uma marca da minha identidade.
Foram instantes a espaços, e são passados.




 
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Agora sou um ápice dum momento, e medito na atualidade com consciência, sem querer imitar os grandes homens da história, de factos reais que não deixam dúvidas, tendo como testemunha a realidade das palavras e a admiração do mundo.
Simples, considero-me modesto, por nunca querer saber de mim.
E tenho me repetido no tempo, tantas vezes disse… que deixei passar os anos.
Mas não significa a minha frágil vida, que ao não viver como um homem comum, sem a ter preenchido com outras vidas, a não tenha vivido.
Por a ter perdido com coisas vãs, e me restar uma curta idade, sou mais solidário com a desculpa e perdão; e vivo o palpitar que sigo com tolerância e amor.
Dou-me mais aos outros dias… aqueles que conto numa hora, vinte e quatro vezes ao dia.
E num dia imagino tantos sonhos de livros, que cabem neles gerações reais vividas na minha mente, e séculos passados no meu corpo cheio de vida.    






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Só me dou conta quando estou de frente.  
E não sinto o mal do tosco…
vil afronta de quem sente…
sei o que lhe vai no íntimo.  
Para Ele… vida podre!
É como se já estivesse morto.
Meu último suspiro… solto…
e o demo, riso torpe.



O nosso corpo não é mais do que um robô dos nossos movimentos.
É uma capa que se enruga com os anos do vento, descartável e sem utilidade, ainda que servisse para enfeitar ou guardar como troféu de família, na montra da descendência num lugar embalsamado, seria mais real que uma foto e mais falado que esquecido.
E…  porque ser eterno com o espírito segundo uns?
E… mortal como matéria dos sem fé, e dos sem volta…? 
Quando me apetece ser perpétuo no estado letárgico que me caracteriza, então lá ando eu ao sabor das minhas palavras, como um arauto perdido entre vírgulas e pontos sem reticências, saboreando a minha imortalidade enquanto estou vivo.




 
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Já tenho experimentado a morte descuidada à passagem da minha ingenuidade, mas agora que me acho mais maturo, há alturas que me é dado um sinal do presságio de tal agoiro… ou uma doença que invento como uma fobia, porque tenho pressentimentos que a vida em momentos me quer fugir, ou o espectro me passa à frente e eu consigo resistir; tudo não passa com fraqueza da falta de dormir, ou o repouso me quer levar na sua eterna doença como um enfermo, ou o não acordar do tal eterno sono.
Esta é a fase duma pequenina parte em que me sinto mortal, porque falando da realidade da morte, eu só a sinto quando vou a uma cerimónia fúnebre  dum parente ou amigo.
Aí a dor, com as suas garras rasgando minha alma, não deixa esquecer aquele corpo amarelecido, gravando na mente a sombra que roubou o último suspiro daquele ser querido.
É um calafrio que na espinha me corre, e eu sinto tanto frio, um gelo tão infinito, sei que é a morte. Aqueles olhos escuros que sondam como um abutre, o desejo que têm de tal sorte que dele desfrute, à espera do próximo que ele ronda, e sugue a vida como uma esponja.  






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Levanto-me da cadeira para desentorpecer as pernas, espreitando o piso molhado da chuva de carnaval, com o céu enevoado de tristeza, neste dia de alegre crítica popular.
Estou dormindo em pé, encostando a cabeça à vidraça da janela, hipnotizando o olhar no alcatrão da rua, perguntando a mim próprio o que faço aqui…
É que nem sequer chove, e a circulação é quase nula, interrompida de vez em quando com o ladrar da cadela Lola.
É ela que me acorda das mil e uma sensações que passam como um nada, e me recordam do nada tudo o que sou, os momentos mais importantes em convívio com o silêncio, a nudez da solidão com contornos suaves em redor de mim, num jogo de amor com a angústia beijando meu corpo.
 A capa que uso voando em cima dos ombros, transportando a mágoa da vida, encobre a alegria artificial que ponho nos dias casuais com tanta jovialidade e gáudio.  





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Os risos são choros com lágrimas secas. O humor são gargalhadas de quem tem o prazer do riso, nunca ninguém viu chorar com tanta alegria e contentamento, a quem não dá parte de fraco, e está sempre triste.

De que chora alguém quando nasce?
Pelo abandono do doce ventre protegido duma mãe, por sentir neste antro… o sentimento atrofiado, o mal numa banda desenhada, ou porque lhe foi proibido sorrir com amor, ao descobrir o ódio que existe neste lugar de dor…
De que chora uma mulher?
Pelos espinhos da vida que as rosas têm, pelos dias em que a tristeza invade a alma, ou para impedir de morrer sufocada nas lágrimas que o mar tem…
Talvez ao perder o sol que há no seu sorriso, veja a prisão em que se encontra o seu mundo, e a impeça de ver as estrelas… e não se sinta livre.
«Porque não haviam de chorar os homens? Ninguém gosta de ter um enfarte do coração, e depois… chorar diminui a profundidade da dor, chorar e sorrir torna um homem completo.»  






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Eu sou um homem, e também choro se sinto as lágrimas no sangue da minha alma a derreter; antes… vertia uma gota invisível por cada pensamento, e o meu lacrimejar era apenas emoção… porque não sabia chorar.
Hoje, se me emociono, pareço uma cascata de lágrimas… talvez seja da idade.
Abdicar do viver inconformado, ainda que ninguém peça, desejar em vão todas as lareiras da alma, ainda que nenhuma aqueça o coração…
Viver da despedida todos os dias, sem medo da partida vaga, benzido no sinal da cruz por loucura de vestígios sacerdotais que se repudia…
Recusar o humano que há dentro do ser, viajar em partes que não haja o vício espiritual do pensamento, deixar todos os aprazimentos mundanos…viver sem o ser…
Ser algo que não sinta o que é terreno, nem a dor fútil da lisonja, divagar por serranias íngremes e murais fortificados nas vertentes… submerso no tempo inexistente, como o céu sem nuvens ou o sol da noite cintilante firmemente parado, ou o vento sem sopro da queda do ar, que atrás da minha janela não sinto.  






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E acordo do torpor que o meu rosto junto ao vidro embacia, e acabara de profetizar em ideias magnéticas dispersas, este dia de carnaval que tem tudo menos de alegre, e claramente cinzento em movimentos de pingos que antes humedecera o piso.
Esqueço tudo o que discorrera, e regresso de novo à minha cadeira.

Não sei qual a razão pela qual ficara perdido, contemplando o que não via… se estava metido com o meu íntimo numa outra dimensão.
Fora acometido do estar sozinho?
Eu, que toda a vida vivi na companhia da minha solidão, logo hoje!
Tornei-me um estranho de mim mesmo, desconhecendo que me conheço.
Coisa esquisita… foi com o espírito que em mim habita, depois lhe desse férrea vontade de sair e espairecer na sala, na companhia de outros… e como um filho desobediente conhecer a estrada do seu mundo… escapulir de casa sorrateiramente com os sentidos do engano, ou sem o médium oculto.
Apenas ficara gravado o que acontecera numa névoa dissipada, ténue, intrigante, com a possibilidade de pouco a pouco me ser possível recordar.





 
83








A verdade?
Para ser sincero, não era a primeira vez…, mas em pleno dia, à janela?
São tantas as vezes… que ao adormecer, meu perispírito aproveita para sair do meu corpo, e viajar por milhões de mundos em minutos seculares… E miro lugares paradisíacos, céus verdes, rosas, sinto aromas inebriantes, cidades que existem na forma que não conheço, pessoas de olhos redondos com pupilas luminosas, calmas… cheias de sensações de bem-estar, numa amizade com um carinho impregnado de calor, e até seres delicadamente delgado cheios de amor.
As súplicas falam no suposto silêncio…
Não têm som, mas comunicam com a linguagem da telepatia dos entes numa voz surda.
São diálogos diferentes, curtos, mas que nos explicam o que tem um livro em segundos, e nos contam histórias da eternidade de todas as criaturas.
Quando regressa ao meu corpo, tudo o que ele viveu, é-me permitido partilhar nos sonhos. 






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E quando acordo, lamento o despertar que não quero.
Quem me dera lá ficar para sempre!
Era sinal que atingira o grau de perfeição, para me tornar naquilo que mais desejo – Um querubim em ascensão.



Viver a realidade veemente
é adormecer de repente,
o súbito mortal que morre.

Viver interiormente o sonho,
é existir eternamente na vida…
real morte.
...

Esta confidência...
tantas vezes falado nela.
Meramente coincidência?
Sopro rubro e símbolo espera...
não ciência...
meramente despertar.

Simplesmente amar
esta Confidência...
agora presença insuportável...
depois nunca infernal,
meramente abafa
se esvai como um fantasma.
Será isto arte galharda...
ou qualquer sapiência?

 Gaz mostarda...

meramente coincidência.







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O Espírito?
É o encontro imediato de cada um de nós, 
a única forma inteligente… 
que povoa todos os seres dos mundos, 
e a quem chamamos - Extraterrestre.


Quando sonho, estou vivo na realidade – tudo devo à forma transparente da alma, que habita esta matéria de carne e ossos como um intruso.
Tem o conhecimento de mim, de todos os lugares das artérias, de todos os esgares e movimentos, a maneira como eu penso…
Digamos que é um hóspede que se apodera de tudo quanto sou, enquanto caminho na minha razão de existir. 
E ele, embora seja para os humanos um estranho no seu coabitar misterioso /eterno/, a mim, que me é dado o privilégio de vê-lo na sua plenitude luzente, reflete a imagem num espelho dos meus olhos do rosto, e nunca deixa de sorrir e retribuir a sensação de amor, e a sua paz de espírito. 






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Quando acordo, também durmo durante o dia… mas o sonâmbulo que há em mim, é inconsciente do que existe, porque se esvai em pó, transformado nesse desconhecido que ninguém gosta - Aquele anel incontornável que nos transporta ao vazio, e nos desliga a luz do íntimo para sobreviver a escuridão no nada, que existe, e ninguém demonstra… a causa perdível.
Falar do morto-vivo…
Foi sempre uma moda dos homens e uma aberração inconformada de se procurar luz nas trevas intermináveis.
É que, já nem se trata de descobrir o elixir que traga a fórmula de ressuscitar seres mortos…, mas preservar a todo o preço o corpo, ainda que esteja morto, e consiga fingir que está vivo.
Eu sinto-me uma bactéria numa lamela, rodeado de biliões de microrganismos que têm a única função – sobreviver.
Não é o que a maioria faz, quando não há mais nada por que lutar?
Mais importante que a vida, só o amor.
Por ele, vale a pena morrer, e nem sequer sentimos dor, se tivermos a verdadeira felicidade de o conhecer.





 
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Estou confinado a um restrito lugar, sentado na minha cadeira, em contacto com o mundo de outros sítios, através do portal pelo qual eu comunico, dando a conhecer a assinatura do meu nome como prova de que existo, através dos meus textos fora do cerco da morte.
Ou talvez não.
O meu modo de viver, nem sequer posso dizer que é vida.
E se é, nem dou por ela.
Poderão um dia contar que morou naquela casa um Vítor, porque a moradia era dos progenitores, ou os procedentes ali continuam o sobrenome da família Neves, se por acaso deixar descendência.
Assim, ponho o meu pensamento em digressão, deixando que o destino escolha os caminhos que há-de entrecruzar, ou os momentos que ainda espero emocionado.
Há, contudo, uma fadiga da mentalidade absorta que me pesa na alma pela inconsciência do mundo, as injustiças que assolam a maioria dos seres humanos, mais que os esforços físicos do corpo que acompanham o meu dia-a-dia. 





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Seguindo os valores que nos regem, todas as reflexões acrescentam à vida pormenores que acalentam esperanças no seguimento dela, originando aspirações e desejos legítimos que nos confortam, para depois se desfazerem em laços rasgados de luto, seguindo a ordem das coisas e do tempo que passa sem se deter.
O segredo da existência, por vezes prega-nos partidas.
Tementes a Deus, queiramos ou não, mesmo aqueles que nas suas próprias contrariedades se revoltaram, quando momentos houveram de profundo terror, converteram a sua alma ao arrependimento, na aflição de pairar errante na terra, e por quererem desconhecer o que é demais evidente – A inconstante consciência dos seus medos.
Mas este pavor, é reflexo dos mesmos anseios falhados, tempo perdido com coisas superficiais, numa realização pessoal inexistente e um desalento total de possuir um corpo sem alma nem cruz que nos valha.
E a minha cadeira, esta prisão de mim, continua a ser o refúgio do cubículo dos meus sentimentos, o pensamento dos meus sonhos ou pesadelos…    






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Por vezes, recebo ondas de ideias em cascata, numa confusão disseminada que me dá um contraste diabólico fora do moderado - e lá vou eu experimentar o perigo do não ser… em vez de ter sido - um não somos de nós, que não é quem sou.
Não me acharia competente de usar sentimentos diversos, sem algo que de mim faça parte, ou sem empenho próprio da alma que em mim encerra paixões… sentiria uma perda de querer, não seria capaz de amar como um dever.
Há algo da minha interna exposição, que me dá um ar sonolento que não consigo decifrar, e constantemente me invade a boca como um abre-latas ao espreguiçar.
Ao expor-me neste quadro tão caricato, perseguindo uma rua no labirinto do meu cérebro, desperto para o mundo numa apatia inexata, no descanso da minha área de carne completa, sem cifra nem outra superfície à vista direta.
Ao seguir, seria impossível criar um atalho que me afastasse de quem quer que fosse que por mim passasse, nem sequer cumprimentar com elegância, ou responder a uma pergunta eventual, que se entranhasse numa estranha coincidência da minha casualidade simultânea.





 
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Então, caminho desnorteado com aquela sensação de parado, quieto no mesmo lugar do inconsciente, esquecido de mim perdidamente.
Deambulo como o acaso por infiltradas passagens, que nem dou conta dos passos, nem do corpo numa montra, e sigo embriagado pelo trilho que absorvo, querendo alcançar um lugar inexato, e que nem sequer tem destino… nem morro.
Sequer penso nestas navegações, que forçam a mente… não andando ao contrário, me levam para a frente, quando estou parado a meditar nestas deslocações.
Então continuo… chamando a este verbo caminhar um pleonasmo metafórico ou uma redundância figurada, que tem o mesmo significado intimidativo, dum espantalho num campo de milho.
Tento viver uma vida apaixonada como um molde do coração, à teimosia das conceções com leituras e lavras da minha autoria, a que junto outro tanto da escrita nos intervalos dos instantes, estruturada aos poucos, num fastio que tenha cuidados para não cair no aborrecimento.  








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Viver afastado das razões insondáveis, simplesmente nos sentidos das impressões e na intuição dos pensamentos, para estancar a inspiração num tanque de oxigénio, e ganhar ar num imenso prado cercado de árvores, embora os adornos sejam no brilho da escuridão, diamantes da minha individualidade, e tragos de sangue esvaídos em saudades que não guardo.
Não sei partilhar, porque nunca concretizei o desejo de viver em comunhão, persistindo em não obrigar a vida a fazer frete na circulação dos mundos, como um areeiro de frutos numa tempestade de vento num dia cinzento, e a calma da noite clareando na réstia de luz, incógnita da vida, que foi a minha.



Ser isto e aquilo que não fui… ou consciente do que sou?
Inseguro do que possa vir sendo… com a noção de contentamentos infeliz, e sonhador doutros ensejos… prefiro o chato, o sentir agora, o previsível e o autêntico eu, verdadeiro, susceptível.
Ser simples e viver na simplicidade do ser, mais do que sobreviver?
Salvando a alma doutra alma, dispondo a vida em troca de nada… amar, viver simplesmente na simplicidade eternamente, vivendo como um indivíduo, sendo generoso… implícito.
Que melhor criatura vive com sinceridade?
Senão for simples saudade, descobrir o amor da ciência, viver a simplicidade da vida,
ser simplesmente… apetecida, simples vivência.  







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