domingo, 4 de novembro de 2012

EU SOU UM LIVRO ABERTO








EU SOU UM LIVRO ABERTO





Eu sou um livro aberto.
Pensa, quem entende inscrições de mim encoberto, nascendo letras em talhe de flores,  como o milagre sarando todas as dores.
Tenho o título fantasma numa capa sem páginas e umas nativas palavras... que podem ser lidas por todos aqueles que usam o coração com amor, e são príncipes e princesas filhos simples do povo sem distinção. 

Eu sou um livro aberto.
Lá, vem a história do início… igual a tantas outras, pegado pelos pés de cabecita para baixo, com uma palmada no rabito dum ser que veio à Terra, mal abriu os olhos… em vez do choro o grito do poeta:


 Eu quero ver o Mundo!
De pernas pró ar!
A Terra, debaixo, fecundo!
E por cima o mar.


Assim sou eu, o contrário trocado entre humanos, diferente dos sexos, entre almas de judeus… meu corpo nega o vazio abençoado e a contradição do espírito perdido.

Aberto sou um livro.
Sem páginas, tenho o título… e a marca são destinos na minha capa.
O timbre da escrita esbranquiçado usa tinta de algo dourado, apenas visível ao toque da vara do mago, embora legível a gentes de todo o Império, são segredos que podem ser desvendados sem mistério.
Por isso…
Eu sou um livro aberto.


Aberto, sou um livro.
Pensa quem me conhece de perto.
E as páginas escritas em verso, estão espalhadas na areia do meu deserto.


/Acordo de manhã com os pés na cabeceira e a cabeça no fundo da cama sonhando a noite inteira.../


Eu sou um trovador no oásis das minhas palavras, a única coisa certa são as minhas letras amadas.
Cada grão que goteja por entre dedos, são as letras do meu sangue vertendo lágrimas… fluindo locuções de amante, que atulham a cobertura de aparições letradas em recordações de memórias gravadas. 

Sem o meu livro aberto, o corpo vai nu desfolhando meus pensamentos com a dor do homem sincero, sentindo folhas invisíveis de sentimentos, espalhadas no ventre das minhas vísceras por entre odores transparentes, afogando todos os parasitas que querem contaminar a vida da alma, sânscrito e pura.

Eu sou um livro aberto. 

Quem me abre…
Pensa que me reconhece, mas o que sabe não dá por nada, esquece. 
E nasce o título na companhia de desenhos incrustados de flores e rendados a ouro, a sonhar nas nuvens com o sonho no mundo do meu livro aberto, ensinando os homens a serem sonhadores, e as mulheres de peito descoberto amamentando como musas os jardins da Terra.

Vagueando em parte incerta, sondando as trevas de meus escombros, vou sonhando como um triste sentimental, escondendo nas sombras pontas soltas que eu transporto aos ombros... como um zombie pateta.

/E o volume inconclusivo,  folhas dobradas pelo encanto, se tornam amadas num santuário sagrado como a obra mais redentora que os homens esquecem, e eu venero, porque encetado… sou uma qualquer historia, de um livro qualquer aberto./