sexta-feira, 3 de setembro de 1999

OUVIA AS ÁRVORES FALAR





/NA VILA DE TÁBUA/

OUVIA AS ÁRVORES FALAR






Esse pinhal era extenso, alto e denso, misterioso… 
Todo vedado com arame farpado, parecia um mundo novo ali ao lado.
Quando passava, pelo canto do olho procurava não olhar, mas era impossível resistir. Já antes ouvira as árvores falar e nos meus cinco anos de idade, com quatro e até com três, sempre andei comigo mesmo por sítios que era impossível imaginar…
Sentia protecção de algo que me guardava como anjo de asa.
Não sei se era da minha tenra idade ou da inocência da alma, eu tinha uma vontade para além dos olhos da humanidade, que me faziam caminhar ao encontro de lugares misteriosos e mundos naquele flanco, como esse pinhal.
Tudo me parecia normal, não sendo não era natural… mas eu gostava de ouvir as árvores falar, por isso, entrei… um portãozinho à medida do meu corpo, com a lista do coração e que nunca dera entrada a ninguém, nem presença de existir. 
Aquele lugar já não era um pinhal.
Olhei antes de entrar, para me situar da entrada daquele caminho, entre a minha casa e o interior daquela terra firme, ainda não explorada…
Então embrenhei-me floresta adentro com pouca claridade, raios de sol por entre as folhas, borboletas a esvoaçar reluzindo luz nos meus passos.
E então as árvores continuaram a falar…
Os ramos a dançar e as folhas brincavam ao vento e eu contente com tanta alegria, corria atrás das folhas que voavam, os galhos que me abraçavam rodeado de feixes de flores, os troncos que me transportavam com mil cuidados para não cair… e se aquilo era a beleza, o paraíso, o além do bosque… eu gostava do sítio, era tão divertido. 
E sempre que ali passava, ouvia as árvores falar…
Estavam a chamar uma voz que compreendiam.

Ali existia a eternidade, a perfeição, não havia o morrer nem a mudança de outra árvore, o cair da folha, o raiar de novo dia, mas precisavam de outra árvore para falar… para copiarem os sons da vida, criar ao nascer e sorrir no sonhar para haver mudança na criação, e o tempo não ficar parado.