sexta-feira, 4 de setembro de 1998

O MATADOURO



VIEIRA DO MINHO
O MATADOURO



 *
O BOI
Perto de minha casa havia um matadouro.
Um boi era içado no ar envolto numas grandes cordas.
Um homem subia umas escadas com uma marreta nas mãos para dar com ela na cabeça do bicho, até o conseguir matar.  
Era aberto ao meio com uma lâmina bem afiada e tiravam-lhe as entranhas fumegantes cheias de odores, por ainda se encontrar quente e de se estar em pleno inverno.
O que aquele animal sofria, só ele conseguia traduzir em urros horríveis, pelos ossos da cabeça esmigalhados, uns olhos loucos de espanto, esbugalhados, querendo saltar das órbitas para fora… sofredores de uma mórbida e lenta agonia.



O PORCO



Da matança do porco, não gostava de assistir pelo barulho ensurdecedor que fazia ao ser espetado o facalhão abaixo do focinho, e consequentemente permanecia num transe hipnotizado… o eco de um grito horrendo não humano, que embora não pronuncie a voz dos homens, entende todas as línguas, e é desumano. 
O gume do aço penetrando o fosso abaixo do garrote, perfurando a veia jugular tirando-lhe o último sopro de ar… porque queria o homem sangrá-lo até à morte? 
Ainda tenta compreender o que não consegue perceber… porque ao dar o último suspiro, ninguém o avisara que era este o seu destino, segundos de inferno num lugar maldito, dum inimigo incerto que toda a vida foi seu amigo.