VIEIRA DO MINHO
O MATADOURO
*
O
BOI
Perto de
minha casa havia um matadouro.
Um boi era içado no ar envolto numas grandes cordas.
Um homem subia umas escadas com uma marreta nas mãos para dar com ela na cabeça do bicho, até o conseguir matar.
Um boi era içado no ar envolto numas grandes cordas.
Um homem subia umas escadas com uma marreta nas mãos para dar com ela na cabeça do bicho, até o conseguir matar.
Era aberto
ao meio com uma lâmina bem afiada e tiravam-lhe as entranhas fumegantes cheias
de odores, por ainda se encontrar quente e de se estar em pleno inverno.
O que aquele
animal sofria, só ele conseguia traduzir em urros horríveis, pelos ossos da
cabeça esmigalhados, uns olhos loucos de espanto, esbugalhados, querendo saltar
das órbitas para fora… sofredores de uma mórbida e lenta agonia.
O PORCO
Da matança
do porco, não gostava de assistir pelo barulho ensurdecedor que fazia ao ser
espetado o facalhão abaixo do focinho, e consequentemente permanecia num transe
hipnotizado… o eco de um grito horrendo não humano, que embora não pronuncie a
voz dos homens, entende todas as línguas, e é desumano.
O gume do
aço penetrando o fosso abaixo do garrote, perfurando a veia jugular tirando-lhe
o último sopro de ar… porque queria o homem sangrá-lo até à morte?
Ainda tenta
compreender o que não consegue perceber… porque ao dar o último suspiro,
ninguém o avisara que era este o seu destino, segundos de inferno num lugar
maldito, dum inimigo incerto que toda a vida foi seu amigo.
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