domingo, 13 de fevereiro de 2000

ALMOÇO NA SERRA




/ EM CASTELO DE PAIVA/

ALMOÇO NA SERRA




Num dos dias na Serra da Freita, para os lados de Castelo de Paiva, acompanhei meu pai na montagem de uma linha, era difícil e perigosa a subida, e a profissão de guarda-fios os heróis daquele dia, numa altura que fazia tremer o interior de qualquer coração. 
O dia continuou, e chegando a hora do almoço, com lenha apanhada no monte, pau grosso, se fez uma bela fogueira, e numa panela preta de ferro ferreira, se fez o melhor cozido da minha vida na Terra. Comeram várias pessoas, e se não era dos ares da serra, era da panela que ainda serviu para além das carnes de porco, boas sopas…

Um dos ajudantes do motorista (meu pai), lhe deu a vontade, e atrás de umas silvas se foi aliviar. E pegando numa pedra parideira para se tentar limpar, eis que manda um grito que fez assustar a serra inteira… 
Meu pai teve de o conduzir ao hospital, porque um lacrau que estava debaixo da pedra de granito lhe fez um “pico”, mesmo no centro do refugo… e o coitado não parava com tanta dor no cujo…

Ele bem sabe que a culpa não foi do cozido, nem do belo apetite, nem sequer do alívio… mas sim da falta de papel e daquela pedra que tinha um doloroso espinho.

Dissera ele mais tarde:

- Maldita a hora que lhe dera ali a vontade de repente!
E
stivera quase a fazê-lo de um penhasco… mas como era muito o frio do vento, receou ficar constipado.
Às pedras nunca mais vai voltar, e muito menos as calças arriar… porque isto de ser picado, ninguém gosta, e muito menos naquelas partes onde ninguém se pode descuidar.




Nunca gostei tanto de sorrir ao comer boa comida, e deitar mão à barriga como uma criança de pião, perdida de tanto rir com o pico do escorpião.