segunda-feira, 10 de junho de 2013

CONFIDÊNCIAS DE UM LIVRO - I PARTE






CONFIDÊNCIAS DE UM LIVRO


I PARTE

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Nunca pensei um dia escrever um livro.
Um volume que exprima o que de mais íntimo há na minha vivência da vida e dos outros… nem tão pouco sei… se o irei acabar ou poderei chamar livro, porque vão ser artigos sem ordem, desalinhados e soltos, com a única certeza de gatafunhar folhas na minha verdadeira maneira de ser, e muito pessoal de sentir.
Também quanto ao mau valor da obra, ou assim-assim que daqui sair não me aflige, porque a uns poderá ter algo a haver e a outros ser indiferente… melhor que tudo isso, o prazer de existir como produto acabado (assim espero), pior seria não fazer nada.
Depois, se me fosse permitido, viveria escrevendo durante cem anos, sendo eu mesmo como a eternidade do tempo, a expressão de mim mesmo sem operações plásticas do coração.
Todo aquele que escreve gosta de ser lido - o actor vibra com a ovação do público, e eu, não fujo à regra, também gostava de ser agradecido se para isso tivesse arte, só que neste caso não é do meu agrado que leiam (os meus amigos) enquanto for vivo, porque está patente a exposição da minha nudez nas palavras e intimidade do meu corpo.  




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Por atalho que me hospedo, nunca sei o sítio… ainda mais que insista a delonga no precipício, nunca sei onde é o meu lugar, muito menos grades da mente em corpo são mesmo que fale, não consigo viajar nesta prisão de dentro quando sinto licença, nem sequer pretendo quando questiono caso corrente, porque o meu espaço é o mesmo que de outros…
Sempre que minha alma devaneia, é o prazer que em mim encontro na ordem das coisas, dando vida a quem queira…
Se para isso me quiserem conhecer, já fico contente e não preciso que ninguém releia, pois se toda a gente entende, mesmo que não compreendam, valeu a pena sempre.
Aprofundando o que rasuro, me encolho profundamente quando escolho o que não procuro, surgindo o íntimo lunar como arte da medula.
E juro que me cerco, rodeando o que significa os arabescos, pensando como é belo os traços escritos, se daí resultam palavras que são uma parte da idiossincrasia, propriedade metafórica de cada um, que somos nós os que perscrutam a alma à procura da essência.  





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Todos estes séculos sobrevivem no homem a sua aristocracia, apanágio da sua vida, não só o falso advir como conquista a fama, mas também a pobreza intelectual da sua vaidade, nebulosa de fulgor incógnito que a história facilita como tanto gosta, injetar os trajes de impressionismo e o ar vazio da nobreza. A humanidade prefere admirar os grandes homens das ciências apesar da sua pobre condição, aqueles que não usufruíram de grandes poses, mas que subjugaram o mundo à sua inteligência.

É estes que admiro e que necessito se ocupo o Deus que há em mim em meu refúgio perfeito, no jejum das coisas terrenas apenas só com as vestes pobres do meu simples pensamento, vivendo a fantasia e o direito de sentar-me no Trono quando escrevo; sou eu, parente do Altíssimo sem alvíssaras ou desejos de matéria que não servem os desígnios a que me propus… mas apenas a ambição de construir um livro sem pretensiosismos ou falsos limites.
Por entre as minhas muralhas de fraseados teores como um moiro selvagem, defendo por entre escudeiradas… termos verbais que são acordes puros contextuais, em textos que em mim próprio causam admiração, de ser amante fiel e apaixonado das minhas letras. O encanto dos vocábulos estremados, anexados como trompas de Falo, se exibe com toques laivos de quem se excita à vista desarmada, ao mesmo tempo que afluem com sumptuosidade em expressões de suspiros como quem faz amor – prostituto das minhas palavras.  






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Fui sempre inconsciente desta capa, sem metas definidas, porque a ausência de locais queridos com o meu afecto explosivo, me trouxeram males irreparáveis que a mocidade nunca mais conseguiu consertar, nem pôr à margem da existência – esquecer que subsisto, e quando chegar o fim, libertar-me de mim… sem receio de partir ao chegar.
Deixo à minha estrela (a cada um o seu lugar) à qual nunca utilizei, que se liberte na outra vida para começar novo espírito, porque este aqui… permanece errante até que o libertem do seu destino.
Assim como homem e mulher se completam - espírito sem alma é o mesmo que habitar o precipício, onde se espera a toda a hora cair para se recomeçar novo viver... de ares que não se respiram por não ser preciso sobreviver, a quem já não está…
Todo o homem tem uma mulher querida, um mundo e uma cor preferida. Enquanto houver duas almas - há amor, e na mulher desejada uma companhia.
Se um fica sozinho, é uma mulher perdida de um dos corações, e o homem vazio sem nada batendo, caminha morto na vida. 





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Ao partir, despedir-se do mundo… não foi difícil,
porque era triste embora belo, fácil de decidir e deixar tudo.

A porta estava mesmo ali, entreaberta…
o toque de entrada tinha um eco, o som de um martelo,
como um pêndulo de um relógio…, mas a sua luz era a mais bela.
E a nova estrela, eterna luz do seu corpo,
o desabitado que era seu mundo solto,
levou consigo para sempre na sua companhia,
o tesouro da sua amada cor preferida,
e o afecto translúcido, livre de seu poiso.



A luz purifica a alma e encontra a sua natureza.


...
Todos temos um pergaminho que nos é dado. Se vamos seguindo conforme os capítulos ou saltamos alguma parte, algo flui corroído se pegamos um fio sem dar por isso. E não sabemos nunca, que mistérios trilham nossos caminhos, se vivemos no mundo da noite… ou se os límpidos serão os filhos pródigos.
  

Sobrevirão os sem mácula.
...
Lemos quando estamos sozinhos, a nossa voz serpenteando … de contrário, se temos descendentes seguimos o sonho de biliões, nascemos como sombras e morreremos como destinos, se não formos puros.  






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Mas às vezes acontece… por um sacrifício do acaso deambulando sozinho, querendo encontrar uma saída que a razão não explica… acontece que a minha sombra se tornou um labirinto, no silêncio da solidão. Não encontro explicação para a vida que me domina, por troços que desconheço, e não ter como certa a morte no desvendar do mistério, que é a minha triste sina, quando o mar e a terra desaparecer, ficarei extinto se não sobreviver ao destino ou não for genuíno.


Não somos diferentes das cantáridas,
perdidas almas imaginárias…
que se abatem quando incomodam
ou chateiam como os mosquitos, tornam
incomodativo estorvo de alguém…
que tem na mão o poder de matar moscas,
não acontece nada bem...
tantas… tontas mocadas de vassouras.




Tenho-me só a mim nas folhas que escrevo, e ao falar assim parece um queixume, mas não é. Mais uma solidão abstrata porque há gentes de todo o lado… que vou acariciando com a descrição da caneta, abraçando aqui e ali… a companhia de uma outra doce mente. O coração está no estado de ninguém, esse sim, necessitando da sua vez para entrar em cena em busca da pele quente e macia… d’alguém carinhoso, em quem deposito um sentimento cheio de ternura, que sirva imenso para amar e nada menos para deplorar; já não bastam os males reais, que são mais que os menos bons do coração. 






  

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Contudo, sou o que muitos não diriam que sou, porque nunca me viram interiormente… delicadamente insignificante, de ímpetos bruscos a raiar a veemência das palavras em situações extremas, com uma coragem dialética que a todos surpreende em casos espontâneos, e de que nada servem.
Mas na generalidade do dia, calmo e sorridente, um apaixonado da vida que segue fielmente os sentimentos, com a emoção à flor da pele, dando a sensação do estático e do indiferente, que é coisa do aspecto fora com imagens enganadoras.
Tudo observo quando pareço estar deserto.
Se alguém fixa meu olhar é como se estivesse a ler um livro estranho, meus tiques das celhas no mexer das órbitas, e o segredo dos pensamentos lidos no silêncio dos sons, denunciados com olhos comprometidos, mas não culpados, dão a entender o erro do espírito que não o meu.
Saindo do túmulo emparedado da minha mente que não vive para mim… sinto-me ao escrever amando as minhas folhas, como se fossem filhos vivos a quem eu deposito a minha história doutras vidas. 





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O mesmo amor vivo quando penso nas minhas emoções, sonho em todos os sentidos com as coisas dos outros, porque amo o ser humano com a mesma fascinação que adoro uma estrela numa noite de verão, na beleza lunar acoplada ao meu instinto estético e ao carinho do meu coração; de toda a ternura, que não há tamanho nos mundos que tenha esta medida de amor.
Sou um sonhador do ar, entre o espaço as vinte e quatro horas do momento, de ideias mágicas douradas quando escrevo, e se por acaso os retrocessos das reflexões acompanham a imaginação na penumbra, há um clique explosivo que irrompe nela como estrelas, a vinda das coisas… em letras inundando d’Alva luz o tempo todo.
Quem não sonha?
Quem não sonha nunca viu o mar, e das suas canções de espuma emergir sereias da cor do sal a vida inteira, gerar nações que outros homens tornaram o sonho na realidade das suas visões…
Quem não for sonhador não vive na lua, não conhece o hálito quente dum beijo em câmara ardente - os lábios da alma no seu luar… não perdoa, quando cai uma lágrima num abraço que o coração em rosca embrandece, laços que nenhum humano absolve… porque não esquece. 






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Nenhum ser quer ser um…
se por sofrer, não sonha?
Não sabe que o sonho faz viver
– Não sai do coma.


Ter ou não ter descanso em intervalos vespertinos… desde que tenha dentro do meu tempo, tempo para sonhar, gatinhando na minha tinta em solavancos de comida e algumas horas de dormida, não peço senão o mínimo em anos que me aproximem da obra, que espero seja Sagrada aos olhos de quem amam desejando.
Dissertando pelos campos incessantes da perpetuidade, com os meus papéis de simples escrita, onde aguardam homens almejando e mulheres de carícias suspirando..
E nada haverá, que seja difícil, nem coisa alguma por mais complicada que exista, que se desdiga impossível ao ser tão crítica, nem antes se diga nunca… por ser mentira, que não aconteça numa realidade crua e nua, no contacto da suprema vida.

Meus passos são cópias de asas, que levitam nos meus sonhos como voos encantados. Quando acordo… rodopiam sonhos reais demasiados…
Ao adormecer, são sonhos da realidade voando com as asas dos meus passos. 






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Subsistem outras fantasias que são lugares infindos, vácuo de olhares perdidos no imenso esquisito, se quisermos estar presentes enquanto não alcançarmos o nosso lugar físico, chegaremos lá mais facilmente…
Se permanecermos dentro dos sonhos como fetos em gestação, encubados na barriga mãe dos nossos pensamentos, em mãos que tocam outras parecidas com demãos… e falam a linguagem futura na voz da telepatia, sem que se escutem sons ininteligíveis, nem se abra a boca do vento sempre de fugida.
Minhas origens são alma exangue, distinta e singular de raça sonhadora, que influencia quem por cá passa e se mistura nos meus vasos sanguíneos, como uma doença sem cura.
Sou a criatura que a si se procura na busca incessante de si mesmo, contaminado da maior enfermidade que aqui grassa…
Espero, nunca haja tratamento para os achaques dos humanos, porque ela vindo de si mesma é a salvação do mundo nascida nenhuma… de tantos milhões de células, a razão do existir sem mistérios desconhecidos nem complicações, tão simples como o alvéolo vivificado do afecto… prometido em dias de esperança, e que brota da terra como as raízes do amor.





 
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Imponderáveis fendas que atravessam a relva, translúcidas pegadas de pés fantasmas na noite dos não nunca, que soam rangendo o chão inexistente de malditos coxeando… em idas e voltas sem rumo definido, nem coisas com outras, que são nadas ou sombras perdidas nos becos sem saída… sobrevivendo como a noite escura e a claridade do dia.
Assim sendo, somos os que andamos na rotina doutros dias, ambicionando conhecer o futuro, quando repetimos as horas e os gestos da ilusão nos tempos de vida insegura, e caminhamos porque outra caminha, na busca dos passos que são fotocópias dos nossos andares por aí… seres finitos no respirar e rotina dos caminhos inacabados.
Se conseguirmos sair da nossa teia, e distinguirmos um lugar do outro, veremos que nunca saímos do mesmo sítio…
Crescemos e definhamos no mesmo corpo e tombamos nas mesmas covas do destino… não vemos o indivíduo e os ossos das nossas faces atrás da morte, porque somos sepulturas em vida e caímos sempre nos mesmos buracos…
Depois como amuleto da nossa memória, dão-nos uma tabuleta como prémio e umas flores como esqueletos bem-comportados.






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É bonito o gesto de humanidade daqueles que nos são ou não próximos, e que aproveitam o seu testemunho para nos trazer o símbolo da piedade, porque a um qualquer minuto somos, e deixamos de ser no segundo instante…
É o outro momento pelo qual não coexistir, aproximam caveiras nossas amigas pó do nosso esquecimento… esta breve passagem fúnebre do mundo.
Construí meu pilar desenxabido com o fastio de meus passos, como se os futuros fossem quadros da minha imaginação nada real, pintado com as cores do surrealismo.
Passo a passo saio do meu fosso com a indiferença que me caracteriza, não dando importância ao que sou dentro de mim… nem ao de fora.
Nada tenho para dar aos que poderiam ser mais próximos, se bem que sentir da maneira que mais gosto, espalhando a pouca vontade de viver o dia, aquela parte que me é menos interessante, não fora a outra divisão interiormente… e nada seria mais importante, o momento de usar a minha pouca vontade de aproveitar esses escassos momentos porque podem ser os últimos.





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Fazendo um balanço rápido com todas as contrapartidas, que vem do antes e na incerteza que são dois lados no depois, direi que antes de ser… coisa antes do tempo e que era para lá do nunca,  fui o que estava para vir… outro nada que sou, sem saber incógnito para onde vou… o que faz de mim um fantasma.
Análise que faço da minha alma errante fora de minha matéria, porque de dentro donde ela deveria estar, acho mais valor sem nenhuma consequência, e coloco a interrogação se na realidade algo de mim é imaginário ou simplesmente existo apenas na memória.

Tudo em mim é carapaça que abrasa meu corpo, viver a imitação dum século sombrio e inexato em segunda dimensão, onde o tempo desafia a morte do tudo ou nada, e o amor é para a vida uma coisa eterna, a única oportunidade de viver.
Talvez esteja fora do meu tempo numa terceira dimensão… por isso a minha imitação é coisa antiga onde habita um fantasma da alma, e tudo que de bom existiu em mim, foi quando Deus me deixou ser criança no tal mundo do antes com olhos do verdadeiro Paraíso, e imagens distantes de seres parecidos com humanos voando com asas de anjos.





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Se existimos, é porque somos um espelho do destino e sombras da vida misteriosas.
O contrário, somos apenas pensamentos de biliões acoplados num ser telepaticamente poderoso, que nos conserva na imaginação a imitação da vida como um colecionador de aquários de peixes, um cão e uma gata.
O tempo dará avanço à sabedoria e trará conhecimento a Outros mesmos através das fronteiras das estrelas e do próprio vazio da escuridão, conseguindo enxergar a claridade dos sítios porque foi criada a visão. De tal visão que nos foi cedida para gládio de quem nos criou, nasceram nossos olhos que nos dá a ilusão da perfeição da Humanidade, na esperança de igualar um dia os Deuses, guardiões das prisões que são os mundos imaginários onde pensamos viver em liberdade.

«Eram gigantes dos primórdios dos tempos, que faziam dois dos Inferiores.
Eram descendentes doutros gigantes que povoaram mundos imensos, e por aqui tinham passado, aquando lançaram a sua semente à Terra…
No dia da extinção, voltaram a ressuscitar tais Inferiores espécimes bípedes – Novos Terrestres de barbatanas e cauda… adaptados em braços e pernas na inteligência dos séculos.
Mas estes eram mais escassos de idade, os mundos eram estrelas de infeção, e as raças mais sensatas e pedestres. Só os olhares fixos nos horrores, daqueles seres altos e espadaúdos eram constantes… horrendos e dominadores, vistos da cúpula e a separação dos mundos de escudo.»






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Por vezes, ser “humano” é falar de nós próprios como se fôssemos estranhos, não é traduzir tudo em raças brancas ou amarelas, é uma incerta consciência racista com pudores de falsa modéstia, de olhares furtivos misturados com origens extraterrestres.  
Todos aqueles que habitam o planeta Terra, e se cruzam no dia-a-dia com olhares sorridentes, tristes, chorosos… sejam eles quais forem é a alma humana, os simples de coração.
Os “Outros”, répteis malignos que os nossos olhos identificam e não conseguem enfrentar o olhar de genuína maldade, não são visões nem perceções do engano; são os senhores nucleares habitantes do submundo, os estranhos caçadores de almas que se aproveitam da fraqueza humana.

Outras vezes, andamos perdidos, não sabemos onde estamos… quem não enxerga diz que somos exagerados, porque acha estranho o som do silêncio que nunca ouviu, nem viveu a imagem distorcida da cegueira.
Não sabe que os sonhos feiticeiros em cálices de sangue raso na mão tinta que lábios beberam… também ensandecem.
Por vezes, não sabemos quem somos, não tem nada a ver com semelhanças. Parecemos representações de cara inexpressiva ausentes do chão que pisamos, talvez por sermos autómatos de gestos mecânicos a cogitar na dimensão do lado, com olhos da nuca vidrados num planeta doutro sistema numa tal dimensão…





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Por vezes, não é quem somos pelos gestos ou ausência de trejeitos do nada, mas o que somos por ser divergente quando se é reverente, e não por ser quem nem somos sempre,
só porque outros dizem que é no sotavento… poente de mim… querem que seja insistentemente contrário, desejam e aceitam assim, e noutros não… não fazem parte das minhas confidências a sua impotência.
Por vezes, falar assim ou assado popularmente não quer dizer que tenhamos sempre razão, mesmo procurando incessantemente a verdade absoluta ou não, só porque somos espíritos do contra ou queiramos levar água ao moinho na nossa monta, com modos controversos ou falsos trilhos que tragam justificação de ações contrárias, diversos sítios d’almas, coisas várias de vários aspetos do coração.

Ser saudável e inteligente sendo condescendente é ser diferente
quando conseguimos que alguém pense o contrário de ideias suas,
fique de acordo consigo, e diga sim - porque se convence,
e tenha tronco e membros… e pés no fim com cabeça sua.




 
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Sei do passado o que vi ontem agrilhoado, com uma impressão de aperto que me consome, e o meu coração derrama em sofrimento… as dores do deserto da minha vida insípida e debutante, sempre com novos inícios em ciclos de angústias presente.

A infidelidade não se subtrai nem se adiciona em séries.
Multiplica-se quando há homens e mulheres,
e divide-se pelas pontas de uns e umas…
tontas e enormes como traição de judas.
Ser infiel é uma medida infinita, no céu e na Terra?
Não há perdão. Ninguém se admira, a pena é incerta,
e fama é a dimensão.


Nunca houve indulgência nisto.
Não podia haver temeridade, porque ser distraído e abusar da mentira, pior que ser de baixa índole, é ser infiel e falsário.
Quem conhece alguém durante anos, e vive momentos inesquecíveis, daqueles onde as promessas e as juras são até morrer, os sonhos enormes fazendo da humanidade uma família de filhos, prometendo o paraíso entre beijos e lágrimas de felicidade… não pode esquecer, quando tudo é o que tem, e deita a perder.  






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Não se espera ceder, ou deixar levar pelo sangue quente da juventude, em lençóis de cama fria, em instantes perdidos de tempo que arrastam a asa da perfídia.
E não se dá importância, até ao momento de ser descobertos, e a confiança perdida nunca mais tem concerto… o ajuste é a queda do mundo.
Somos possuídos de angústia dilacerante, pior que o desejo da morte. E vivemos na vida, a carne viva todos os poros da pele, as partes esponjosas em sulcos sangrentos, esguichando o sangue do corpo como uma alma fantasma, sem pingo que corra.
Devo viver inconsciente, indigno que sou até morrer.
Em tempos que já não são, porque fui, não devo esquecer.
Pelo menos nunca consegui sair desta forca, que é a prisão da minha vontade inclemente, perseguindo minha existência como espectro amaldiçoado. Talvez o exorcismo do meu corpo seja a minha absolvição se estiver possuído… ou reencarnando meu espírito, educando-o como médium, na tentativa de sobreviver como última alternativa da salvação.






 
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Não se pergunta se falta pouco ou muito, porque não sinto ontem ou hoje, coisa dela diferente … a falta que ela me faz é tudo.
Nisto… a vida é castigo.

Lembro-me da minha velha Kodak.
Daquele retrato gravado na minha memória como se fosse agora mesmo… disparado sobre o meu coração.
Um flash apaixonado de tanto amor perdido no tempo.
Nunca mais haveria outro inédito como aquele, daquele retrato.
Todos os outros depois desse… são cópias de assombração do meu ser, tentando em vão substituir o que não se pode reconstruir, quando não existe.
Quando se ama, e esse amor tão forte é incomensurável infinito de toda a minha alma, nada é tudo, coisa eterna do espírito, jamais possível comparar com fotocópias doutros amores sinceros, mas impossível de ser igual ao original.
E então, o feitiço vira tudo num término final que é nada, e nada muda porque ela é o meu mundo – é para sempre tudo, e não há mais nada…
Nada é absoluto.




 
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Um não ser que deixa de viver - não gosta da saudade, anda em cima da matéria flutuando como o vento. Ao reter, incendeia rastilhos da mortandade, e traz enorme amargura a quem não esquecer.
Numa tamanha dor que dilacera como a explosão dum planeta, destrói qualquer coração em chama ardente por ser uma afeição inesquecível, desaparece como uma estrela cadente de chama intermitente… mas a mágoa continua em relampejantes faíscas continuamente acesa pela repetição da coisa… e vai ficando ténue pendurada apenas num pontinho reluzente. Quando acende dilacera, quando apaga faz que esquece.

Todos nós nascemos do padecimento da mulher. Não há nada que subsista, que não venha por acréscimo da dor.
Até um sorriso, vem depois do alívio do tormento.
Mas quem sofre o derradeiro sentido da vida, caminha fútil numa coisa chamada demora, tanto ouve o sibilar de fora com um zunido, como sente dentro o vazio do tempo na batida frustrante da hora, e ambos vão embora como a passagem do vento. 






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Ela dá a sensação de mão estendida, apertar o fruto da laranjeira, os cabelos louros de cabeça inclinada, fixando os seus lindos olhos castanhos na câmara da máquina, a outra mão na cintura desafiando o mundo… tenta hipnotizar os meus, com um sorriso de quem me quer em promessas de amor profundo.

Ela não sabe que tenho o poder de ali voltar e vê-la sempre que quiser.
Parei aquele momento…
A hora, o dia, o ano e o seu corpo, os seus olhos brilhantes de faces encarnadas como rosas, o seu casaco de malha branca por cima da camisa aos quadrados e o céu azul enevoado, faz sobressair uns lábios rosados que tantas vezes mordeu os meus com uma meiguice provocatória, para logo de seguida colar seus beijos num eterno laço de amor.
Os seus braços que tantas vezes se aninharam nos meus, como os corações abertos à procura da posição do aperto da ternura…   






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O rosto poisado no meu peito com olhos que fitam o fundo da minha alma, a proteção do meu corpo como se estivesse segura do jeito que é o refúgio do seu mundo… procurando o mundo no sentir sincero de quem ama.
Ela não sabe que tenho o poder de ali voltar e vê-la sempre que quiser. Parei aquele momento… o meu coração deixou de bater ao sair daquele retrato. Tenho o seu corpo e o meu, mas ao querer tocar-lhe a minha mão encontra o vazio do seu espírito, e é tudo que me resta, embora a idade seja estática como um rochedo.
Quando a saudade aperta a solidão dói… eu que já a esqueci na parte que faz mais padecer, quando a minha alma sangra não pára, se a tristeza não sai do meu coração.
Enquanto ficar abrigada, sentir a sua companhia quente aninhada no meu pensamento, conseguir reviver seus traços como se estivesse em frente da sua imagem, eu vou conseguir caminhando… ficar mais perto do meu destino, desaparecer aos poucos como fumaça daquele espírito, o desaparecimento das nossas figuras naquele retrato.

... e a partida não será uma viagem, nem uma chegada solitária, se de mãos dadas enfrentar a penumbra até irradiar luz plena na linha lunar da vida.  





 


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Se num instante vem à memória a perda dum ou outro amor, com a imprecisão do momento ocorrido cair em esquecimento, e não me trouxe inquietação, eu dei umas pinceladas num quadro que ficou sem valor, porque procurei servir nas cores, borrões que não tinham dores nos meus segredos, mas causara sofrimento no rosto de quem se entregara a mim perdidamente.
Poderia emendar o sofrer daquele rosto por um sorriso, bastava mudar o esgar de seus lábios finos, dando-lhe mais roxo de sangue num esgar de falsa alegria.
Ela ficava contente por mais uns tempos… entregava-se nos braços das tardes quentes e arquejantes, em horas de ilusões perdidas.
O quadro era meu… o quarto não, era alugado na Residencial O Paradouro.
Sempre que queria, poderia emendá-lo e pintá-lo com outras formas, até que achasse o momento exato e me cansasse daquela pintura… para substituir outras que estavam à espera e se rendiam à arte das minhas vinte e duas primaveras.





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Eu procurava encontrar o retrato certo, que um dia desse alegria ao modelo da minha vida, e fosse como o original…fizesse sair daquele hipnotismo o acordar do tempo.
Não sei como alguém pode andar por aí… na companhia do seu caminho como incógnito desconhecido, tropeçando a toda a hora na sua sombra viva, escondendo a imagem da sua vida pela que vive sem substância.
Assim fui eu, aproveitar-me da minha juventude para atrair e… trair.
Fui, não sei como resisto, se calhar é o velho destino ou feitio meu.
Melhor seria ter uma capa branca sem nada por baixo que atravanca, ou não seria uma força vazia de opaca calma parecida com a minha oca alma?
Confesso, para quem tão fraca energia exerce… nada há por perto que influencie quem padece, ainda que a saudade persiga meu desassossego, haja conseguido ganhar a batalha da sobrevivência, e o acaso talvez tenha descoberto o engenho do meu dom, proveniente de memórias antigas em pontos indefinidos da visão, descobrindo o meu puzzle nos labirintos do meu silêncio como um segredo.  








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Despertei-o, não o sou.
A vida é um pirilampo mágico cheio de estrelas sedutoras, que refulgem na noite em olhares existenciais da minha infância.
Fora dessa, a outra vida que enfrento, é uma luz brilhante que foge dia a dia por entre dedos, que vão perdendo o tacto no entre vertigens e cores movediças de ilusões destruídas.
O silêncio nem sempre se imita com o mesmo feitio do som, nem há segredo maneirinho por mais secreto que seja, se esconda da mesma maneira e se repita da mesma forma – assim como o ser gémeo não renasce no antes e agora, a minha alma gémea que é solitária, não volta nesta minha forma… ou se renove noutra era.
E a minha vida é como uma corrida em câmara lenta… sem fôlego e com pavor de não acabar minha prova, e seja o último sobressalto e o mesmo pesadelo de alguém, que atormenta minha alma perdida e errante sem descanso.
Comecei a ficar em declínio não pensando coisa com coisa…  






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No hábito dessa mesma coisa fiquei sentindo a queda desse sentido numa absoluta irreflexão, e sem consciência que tivesse aproveitamento, aceitando o nulo como um falso positivo e princípio a seguir, de tal ordem que o que é decadente se transforma numa forma natural da vida.
Sendo eu único… um ser parecido com a sua semelhança, desigual doutros… com meio século sem importância e o ciclo quase concluído, direi que por isto… outras coisas… e aquilo que fiz - não devia ter feito. Arrependido porque perdi quem não queria, e enfim, magoei por defeito
Realizei o sonho de não ser nada, quando toda a gente a sonhar passa… meu sonho estoirou abatido, e comigo partiu em busca de asilo.
Parti…
E nunca mais voltei, como uma partida sem chegada.
Como homem fiquei sem destino, morreu algo dentro que batia com aquela arritmia, que define o ritmo pausado da fantasia – e era como eu vivo, translúcido e indefinido. sem vida.





   
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 Parti…
E comigo foi o que sou… alma aos bocados.
Os cacos espalhados, à espera de serem colados com matéria pastosa, de traços pegados como uma fôrma, vincados na minha carne dum Frankenstein, amálgama de defeitos, à espera da oportunidade de ser perdoado como um monstro…
Regressarei então…
Deixarei minha bengala de aflição e voltarei a caminhar, se me for permitido voltar novamente a amar, não com o amor duma mulher… mas com o perdão, se Deus quiser.

/Os estudos interrompidos (advocacia), exercendo a profissão de escriturário-dactilógrafo que depois abandonei… e por fim, a perda da pessoa e da família que queria constituir…/
A culpa só a mim pertence, e a Deus não me queixo.
Se me ouve… ainda aborreço.
O meu coração parou aos 27 anos, depois de uma vida preenchida.
Depois, a bebida, o fumo e o vazio… nunca mais fui nada.
Deixei de sentir e meditar, o coração se pudesse imaginar, parava.  







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Tanto me deu como se me dá, desatento à grandeza de sua majestade a Terra, convocando a neutralidade entre o sagrado e o desprezível indulgente.
E tanto faz ceder ao inútil sentimento sem pressuposto, instruído numa sensualidade interessada e inconveniente do stress da minha medula espinal.
Extirpando à minha mente idiossincrática aquela regra principal de que tudo sai de mim, escravo das obrigações inevitáveis das quais não resisto livremente, sinto-me sujeito da situação provocatória a que fui dominado.
Analisando como um tem a ver com outro, dois encorrilhados da sagrada desgraça, desistimos de remar contra a maré e cedemos nossos vasos capilares entre impressões digitais, com zelosas dúvidas da sabedoria vivida dos velhos neurónios dos nossos avós, que nos vão salvando a alma com discursos de lágrimas lacrimosas e sorrisos derretidos, que ficam em belos retratos do passado no álbum de família.  





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Se não levarmos nada em conta, de uma coisa que nos é dada por correcta, e passar na consciência de que a própria sensibilidade é mais importante, qualquer essa outra coisa que não é nossa, nela albergamos nossos mundos de sensações e passamos a dar mais valor ao que é nosso… o dentro do eu, igualmente centro ego, e coração gémeo da mente. 

Eu idolatro tudo que é para amar.
Amo todas as coisas como uma criança, porque são da lei do amor perfeito.
Eu venero todas as coisas do ar e da terra de que somos feitos.
/Feitio de corpo só menos importância. /
Eu aprecio todas as coisas do mundo!
As que até são feias, e são do entrudo… que por serem humildes se tornam belas. 

Apaixono-me por todas as criaturas!
As que não existem e que há nas esferas de cada estrela, e até de todas as chuvas.
Amante de pensamento liberto como anjo voador pelas lombas, de todas as pedras
e areias do deserto, e do sentido estético das sombras.  





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Selecionando o que aborrece minha fantasia, busco dentro do intelecto o que a pacata compreensão despreza, ocasionando factos sem sensação que o modo de sentir dessincroniza, e o molde que originou o meu caso foi no ar que se perdeu, e a ilusão porque era falsa – desistiu submersa.
Como a predileção que o meu instinto sugere deles juntos, odeia o que não gosta, não leciona nenhum… dá costas à costa.
Mas como acontece em momentos aleatórios, minha escolha de ambos é nula… se bem que noutra ocasião, as duas coisas se misturem num pentagrama.
Fascina-me o movimento das ruas à claridade do sol como um sinal do dia, pessoas que vêm e se desencontram no tempo dos passos esquecidos, o seguir dos mesmos gestos que são os caminhos da rotina, habituados aos mesmos que são outros dias iguais…
O rebuliço que os afazeres dos locais provocam não significam raridade nenhuma, mas já as estradas por onde as máquinas pesadas passam, se estremecem a noite a altas horas, vibram das paredes ao soalho como pesadelos que são o acordar do meu sono leve.  






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Enquanto passam dias e noites, entre mim cá dentro e o que vai lá fora na rua, a diferença não é muita… salvo elas serem arruamentos vazios como o dia, e o espírito que sou mais na noite, sinto-me mais eu na natureza das coisas…
Não me sinto tão sozinho, apesar da minha companhia constante que são as horas lentas e tristes da minha solidão.
Vem a mim uma melancolia que é minha e do mundo, de ser o que sou e doutros seres que como eu sendo diferentes têm a mesma tristeza, e depois vá-se lá saber porque é que tem de haver um contrário… ou melhor, porque não existe só a face boa das coisas?
Sendo boa a alegria, ela serve-se em goles rápidos de água fresca para aliviar a sede das dores, e não deixar morrer sorrisos de esperança… que é a ilusão do viver na forma do andar no sonho.
Como se o que é bom esteja a desaparecer, ao contrário do que está a nascer na ruindade do ser, senão uma queda de fraqueza, mais uma realidade do futuro sejam as modas do seguro, um atestado de defesa contra a estupidez.  






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Contudo, tudo são precedentes da memória, que no passar dos anos são pequenos nadas, que não nos afligem no silêncio as angústias da alma, nem abdicam da quietude abandonada, em monotonias de tardes vãs - os destinos inconscientes de vozes incógnitas nos espíritos perdidos da vida.
Mas a comparação que faço das coisas menos belas, embora sejam negativas, também servem para descarregar meu escárnio, soltar um escarro de garganta mais malvado ou dourar minhas reflexões em assuntos pessoais, que nada levam em conta a humilhação das minhas palavras, ou um riso gelado de mim que me enxovalha.
Tudo serve para me fazer notado. Não sendo descomunal, não sou mais nem menos, realmente não sou nada de carne, nem meus ossos serão restos da história, capa do meu retrato desconhecido… não importa que ninguém conheça nem saiba quem eu sou.
Sinceramente apenas quero que me leiam e desfolhem as folhas como Outonos repetidos, e entendam nos Invernos das camas o prazer de serem “eus” iguais a tantos outros, que gostem na vida ler um livro que podia ser vosso.  






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Eu seria o sortudo mais feliz no outro mundo se ouvisse alguém exclamar:
- Eu podia ter escrito este livro!
Efetivamente, sim.
Porque não sou escritor… escrevo porque gosto, e sinto (tenho essa sensação) que consigo, simplesmente… porque experimento.
    
Num canto da sala da minha casa, sozinho como se estivesse num canto do mundo, penso se estas palavras simples não representam a essência de milhões de pobres, biliões que são escravos da humanidade, outros tantos subjugados aos afazeres da vida, aos sonhos perdidos no silencio dos enganos como os meus…
É nestes instantes que por um ápice me interrogo que desígnios são mais altos… que andamos nós aqui a fazer?
Apenas uma passagem da terra pelos céus, só isto?
E depois, o finito de nossos olhos que tudo vêem, mas nada alcançam para lá do que não sentem…  







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Somos escravos como uma raça de pigmeus dentro duma cúpula, prisioneiros numa gaiola como seres dominados por gigantes a quem chamamos Deus… pensando que vivemos como homens livres quando estamos a ser observados como cobaias, já que nos limitamos a procriar, a comer e a morrer… e a deixar de sentir por este carrossel que é a mecânica vida, fugaz roda do tempo.
Estamos sozinhos, porque estamos entregues a nós próprios, somos até um ponto inteligentes… resistentes na nossa sobrevivência, adaptados a qualquer forma de vida, mas sobretudo formigas desinquietas que andam constantemente a sair dumas tocas para outras à procura do não sei o quê… solitárias de alma dispersa, pelos mundos que a nossa mente consegue habitar, quando nos é permitido sonhar e fugir da solidão.
Não creio que a religião ou a ciência alguma vez descubram o mistério da humanidade.
São apenas instrumentos que nos servem de experiências e conversas filosóficas, para nos entreter e não ficarmos aborrecidos como os olhos tristes do burro…  






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Enquanto isso, vou divagando com frases incertas ou pré-fabricadas recheadas do meu espírito, que sempre foi livre na minha maneira de ser descontraída e sem fingimentos, e que é o espelho do meu dia-a-dia na fabricação da minha vida.
Hoje em dia, tenho grande admiração pelo meu patrão Rogério, um pouco duro, mas correto daquilo que entendo por justiça, e embora interesseiro no que diz respeito à sua riqueza material (o que é compreensível da parte de quem tem ambição).
Foi sempre justo e nada vaidoso na condição humana, e para mim, o melhor patrão do mundo. Não por ser beneficiado em coisa alguma… mas por ser aceite.
E eu, às vezes por ser irreverente e incerto aquando das injustiças de alguma chefia, não me contenho e até excedo naquilo que seria próprio da vontade deles…
Sei que o patrão Rogério por vezes é informado destas situações, e por hábito se dá sempre razão mesmo que não a tenha a quem manda… e é evidente, que se não fosse ele, talvez já não fizesse parte da sua empresa, nem das horas, nem dos dias que ali passo a maior parte do tempo. 








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Depois, fala-me sempre com aquele tom gentil e benfazejo da sua parte, e dá a salvação a todos que por ele passa de igual modo com educação circunstancial, salvo nas ocasiões imprevistas de inquietação incógnita quando vê algo na fábrica que o irrita, e vai cozinhando no caminho até ao destinado, a preparação dum chá em ebulição... descarregando sem dó nem piedade a receita, mas com toda a razão.
Aqui há tempos, um colega que aqui já não se encontra, disse que eu e todos que aqui laboram eram explorados. Do nosso ponto de vista não sabemos… nem é relevante na minha opinião tal complexidade, mesmo que assim fôsse... pois é mais importante quem cria riqueza e forma uma empresa para o bem social de todos os colaboradores, e tenta ser equitativo segundo as suas conceções de justiça.
Isso sim. É uma verdade inabalável, e neste caso, de louvar. E todos nós, temos a obrigação de contribuir para que a Incompol se torne na realidade do dia-a-dia, uma Empresa de sucesso com distinção no mundo.
Não esqueço as duas vezes.
Ambas as entradas na fábrica pela mão do patrão Rogério, e numa altura que mais precisava, ele não hesitou e acolheu-me com o seu grande carácter de homem e amigo.
Estou sempre em dívida com o meu patrão, e mesmo que seja explorado não me importo, antes quero que seja o Rogério patrão, de que outro qualquer sem coração.  
 Deus explora todos aqueles que trabalham para Ele, e nunca ouvi dizer que alguém se queixasse, pois segundo se consta, Ele paga melhor no céu do que na Terra….  






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Aliás, um dos santos que andava espalhando sua palavra pelo mundo inteiro, e se alimentava de ervas, gafanhotos, alguns frutos silvestres e água da chuva, tendo como tecto as estrelas e as nuvens… se dirigiu a Deus nos seguintes modos:
- Senhor, não seria melhor para a minha missão se eu pudesse dormir e comer em boas hospedarias, e não padecesse fome e frio de teus Invernos e calor de teus verões, bastando para isso que me desses uma bolsa recheada de moedas?
- Meu filho, se te desse o que me pedes, quem iria acreditar em ti, achas que alguém te chamaria santo…? 
Já alguém disse: “Por vezes, não entendo nada do que escreves.”
Por isso mesmo, são as Confidências De Um Livro, essa a razão. Sentir, será mais o interesse de aconchegar o coração aos arabescos, que tudo decifra, ao invés do ler dormente.
Meus factos pessoais, são numas partes comovidas sensações, noutras narrações sem episódios, tudo coisas soltas como a liberdade de ideias… “segredos” na minha maneira de pensar e sentir, uns mais íntimos, outros nem por isso nada explícitos, mas todos declaradamente sinceros. 






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Contêm presentes embrulhados em papel colorido, em segredos de palavras eruditas com mistérios das fitas, atadas ao apetite de quem não consegue disfarçar tanto interesse da sua curiosidade, e eu tanta vontade de que compreendam…
Se falo de tudo ou nada, nada tem importância para uns que ajude ou para outros que dê satisfação, são casos meus de interrogações com muitas dúvidas, sou e aqui dentro da minha cabeça… e depois, até posso parecer aborrecido, se não se tiver olhos de sonhador e um sorriso.
Confesso, que em alturas de todas as partes destas folhas, se não for paciente ao sentir, nunca conseguiria acabar este livro de Confidências, que são paciências minhas e de quem tiver paciência de ler…
Desenrodilho o tear da minha vida como um enredo ondeado, tentando encontrar o fio do novelo perdido para que me consiga encontrar… e lá vou seguindo rumos que não têm lugares nem caminhos que me façam chegar… porque nunca chego a sair.
Entro por onde nunca entrei, e quando penso que vou partir nas minhas viagens ancestrais por lugares recônditos das almas... encontro o que não espero, e sou o que não quero... 





 


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Parece que saio donde nunca estive… e estou sempre no mesmo sítio, em becos na forma de funil, com a recordação dos mesmos espaços pueril.
Sei que posso esperar uma agudeza infernal dos meus pesarosos e tristes dias, ao viver os cinco sentidos apurados como tormentos da alma, e uma mente fina capaz de me destruir, num domínio do sonhar ambicioso que faz minha vontade distrair.
Quem for uma espécie de juiz daquilo que eu sinto, e se achar que numas vezes estou certo e noutras erradas, ficarei feliz por libertarem o presidiário das minhas palavras, e absolverem a razão das catástrofes amorfas, pois o coração não tem culpa dos pensamentos equivocados do espírito… ainda que me esforce, se me dou, ofereço tudo que tenho dentro de mim.
Doei a minha vida, não a minha vontade, quando confesso que ela foi perdida, coisa que valha se fosse diferente… mas o tempo não volta ao mesmo lugar, duas vezes repetidos no mesmo momento da idade… e então?
Mesmo assim… não vou por aí fabricando probabilidades. Passado não foi lamento, é aprendizagem da existência, regras que servem a recordação, e também são a lição do presente. 

Costumo dizer que aprendo mais com os meus erros, de que, com os meus poucos sucessos.







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Quem me conhece, pode parecer ridículo se disser que só tenho amor para dar. Mas nunca liguei ao que os outros pensam de mim, mas que sintam como eu faço amor com as minhas letras raiadas de paixões e sentimentos, e que consigam sofrer como os melhores amigos do mundo no quadro do meu instinto o que eu sinto nas suas leituras.
A adversidade da minha desconsolada vida não é impedida pelos vocábulos de formato inexatos, como componho minguados e parcos o meu livro episódico e refletido.
Incontroverso, sobrevivo a toda locução manifestamente sem me deixar influenciar com modos que tenha características de algo que não seja só meu.
E prossigo indestrutível sem que nada dissolva o corpo que quero construir compassivo, com todos os erros de quem é humano, mas indiferente a quem não saiba usar a liberdade de expressão como o bem mais precioso da vida, e ser livre.
E além… por entre o vácuo e o arcano inconcebível de muitas forças, quiçá misteriosa em disfarçadas almas, eu salto o precipício da dor e o vazio enigmático da sombra da noite, copiando minhas lágrimas em verbos incompreendidos, nas folhas transcritas como roseiras da cor do sangue… 







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Escrevo e sei que pode sair o mau grego e o ruim troiano… porque são palavras em latim comovidas do coração, e que exprimem a sinceridade da minha reflexão, não havendo lugar para a falsa arte do sentimento, quando a letra escrava anda de mão dada com o pensamento, entre flores de raiz perfumada…
E ando dum lado para o outro… inquieto por não conseguir estar imóvel dos meus esboços em circulação, pois movimento é estar presente na vida  com o querer viver, e enquanto da escrita brotar tinta, será o perdurar do subsistir ao escrever.
E quando acabar… os ossos e a carne que são tão frágeis, vão desaparecer.
E finalmente, eu vou então partir… mas as minhas letras vivas, no manuscrito macio de folhas débeis, por serem resistentes irão ficar; e ainda mais por serem teimosas – quererão sobreviver, para servirem de testemunho a quem ama, o único valor no mundo que interessa preservar.


Mil vezes contínua
tu que andas sozinha…
esperarei por ti ainda 
mil vezes a minha vida!
Vezes mil vidas!    


/... esperança... /








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Por vezes apetece-me morrer no sentido figurado…vezes sem conta.
Amar a vida e a morte, morrer e voltar a nascer, ressuscitar todos os dias como a necessidade de dormir.
Se desconheço a mim próprio, talvez desaparecendo me sinta mais próximo daquilo que eu sou… e consiga desvendar a alma ao voltar de novo a esta vida.
Estou só, não faço falta a ninguém, a não ser nada a mim mesmo. Que ironia a minha desta outra volta, talvez seja mau para outros tentar vivendo nesta forma lenta de ir morrendo… sem choros nem risos de histórias.
É como se estivesse a ver o meu espírito antecipando a minha morte sem remorsos.
E depois, claro está, ressuscito!
Quando ninguém está à espera…
Antes, é o desencanto dos segredos, a pena disfarçada, o traje a rigor no caixão, as crónicas dos familiares e as larachas, o vão lamento de ter partido e o episódio final da cova.
Depois, o alívio dos que me rodeiam, um ou outro suspiro, o retomar da vida.  






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A recordação dos que me amam fica gravada na lápide com votos de amor, a data da vinda e da saída… as folhas do Outono, os séculos esquecidos… se não houver obra nem forma de vida.
Dando voltas ao reconhecimento do corpo, imaginamos como somos, e para quem nos vê seguindo a nossa idade na passagem, não desmente se disser que a ideia é a mesma no aspecto, ao igualar nosso pensamento do que somos na realidade do momento.
Mesmo que os episódios do transato estejam desfocados nas suas transladações, com versões do olhar suscitando o engano, elas não passam mais do que centros distraídos.
E todos nós narramos inconscientemente, quando visionamos à medida da nossa visão desmedida o que paira na distância vaga do tempo.
Meu turbilhão de reflexões sobre o que me rodeia, não pára de crescer à velocidade da luz, desde que ela parte do sol até à entrada da mente humana como raios do meu pensamento, cansando meus neurónios de sono, com milhares de imagens passando nos segundos vindos de Marte, ou onde quer que seja… o fim do mundo do meu filme.  







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Lá longe, minha mente adormece ao som da melodia do sonho, em notas clássicas no embalo dos passos, que ressoam num eco imprevisível constantemente longínquo, que deixo de ouvir e paro de pensar.
Era um dia cinzento com seus últimos contornos de terra molhada e poeira de fumo vinda do iniciático céu azul que a pouco e pouco punha a descoberto a luz do sol…
Enquanto lá do outro lado, detrás da casa voltada para o sentido da estrada, se ouviam a intervalos do silêncio o som característico do trabalhar dos motores, cujos rastos invisíveis da velocidade, tiniam nos ouvidos como campainhas do despertar.
Hoje, é precisamente o que acabei de descrever praticamente todos os dias do ano, apenas diferente o clima depois do trabalho ou dum fim-de-semana.
Mais noite menos dia com calor ou frio, eu sou uma pessoa humana deste planeta que aqui se senta no vazio da solidão como companhia amiga, e o que antes me parecia triste… não havendo fogo-de-artifício (?) e o olhar sereno duma mulher, há o prazer da rotina e sem o qual eu já não posso viver, a minha maior riqueza e o meu maior amor – escrever.  






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Como se pode dizer algo que é demasiado pessoal, parecendo drástico… não é mais do que a arte de pintar desenhando o meu esqueleto.
Eu pus nele toda a minha vida, vivi cada cicatriz tracejada, cada momento de coração ardente, dei tudo quando não havia nada…
Sobrevivi ao inferno da morte quando tudo parecia indicar o contrário, controlando as vertigens à beira do precipício com espasmos de agonia, por me sentir cobarde e equilibrar a corda bamba da minha vida.
Ao olhar para mim nas circunstâncias em que me encontro, percebo que embora queira alguém a meu lado, eu nunca me esforcei verdadeiramente para o alcançar, porque sou demasiado egoísta e já não acredito nos sentimentos dos seres humanos.
Inconscientemente vivo para os outros…
Eu sou na passagem dos anos, o resto de mim que ainda espera o reencontro do que não posso ter…  o amanhã demasiado curto dos índices que posso desfolhar sem tempo para assistir.
Vivo para viver comigo quando penso no que me cerca, a paixão que tenho pelas pessoas, embora lhes dê a entender o gelo que não possuo, a câmara ardente é o resumo da ideia que têm sobre mim. 






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Não é que estejam muito longe da verdade se a idade em que me encontro se aproxima mais do fim, em vez da esperança de vida que possuo, ao esgotar-se, se vá tornando reduzida.
Pensei muito, com todos os pontos de vista…
Não tenho sono.
A meio da madrugada, sinto uma inquietude que não sei descrever, sem nenhuma vontade de dormir.
Embora pregado à minha cómoda cadeira, a minha alma que trago comigo, parece querer dar saltos impregnada de frenesim louco… a quem uma célula do corpo apenas acicata a vontade cada vez mais intensa de fugir de mim, acelerando as batidas do coração como se a qualquer momento fosse explodir.
Um fluxo de luz saindo de meu peito, se põe de frente encadeando meu olhar, admirado de ver seu irmão gémeo como o espelho da sua imagem…
Seus olhos são os meus, mas o meu corpo paralisado e vazio sente-se agora prisioneiro.





 
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E ambos experimentamos as duas partes dentro e fora como dois privilegiados que somos, analisando tudo aos pares como dois observadores de dois mundos.
Neste estado latente, dormir é um mito da história do sono que se deixa embalar pelo sonho na forma de viver…
Sarapintando pintinhas a tremeluzir o ser, basta-me seguir os caminhos da alma sem que me seja pedido para pensar ou agir.
E com uma realidade, mais real que o mundo que vivo… encontro a nudez do universo e seus mistérios como mapas dentro da minha cabeça.
O aquém não tem distancia nem existe como tempo, basta querer ir a um lugar desde que se tenha conhecimento do ponto exacto, sendo as formas de vida e a matéria colorida detalhes pouco importantes para a consciência imortal do espírito.
Que sensação estranha!
Na ilusão dum grito, sinto meu corpo livre e acordo… 





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Dói-me as costas da posição na cadeira… mas recordo os olhos profundos da minha alma, e não sabia que eles podiam ir a todo o lado… em segundos como séculos adiantados.
    
Adormecer, sonhar, prevalecer nesta toada da noite em rotinas sem noção como neblinas nostálgicas espalhadas ao silêncio, faz de mim um sonâmbulo fantasma passar dormente, pelo vazante retrocesso de ondas oceânicas no letárgico sono etéreo sem fim.
Caminhar pela noite sem destino, passeando no oculto brilho da escuridão, fúnebre pião de sobretudo soltando ténue fumo de cânhamo, perdido entre labirintos de trevas e escombros de absintos, ao cruzares-te comigo, escondes-te na sombra…
Teus passos deixam marcas na calçada da imaginação, e o som intervalado do oscilar da água do regato ecoando no mistério denso absorvido, és tudo o que eu sonho no meu mundo perdido, passageiro coma da minha companhia, e que a chama alimenta agarrada à vida de teu nome – noite.
Todo o movimento que não seja da noite, é puro cansaço que se impõe, ou se está farto de sofrer… 






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À noite vive-se sem acordar a morte - se quiser viver…
Desperto sono de quem não dorme.
A noite adormece no sonho ancorado em um qualquer porto de Benidorme como uma imagem paradisíaca…
Adormecendo, durmo sem sonho, nem sono, nem descanso… como um louco, enlouqueço se desperto, não te vejo, desespero na tua sombra - noite.
Procuro loucamente teus braços que me sufoquem no reflexo do luar apaixonado, e sem um som nem queixume, respiro sibilante como um piar dum corvo… espanto tuas asas negras como o agoiro da decessa, à tua espera lá do lado que não é de mim, onde permaneço inquieto na abóbada do teu silêncio, tocando as estrelas do teu indefinido anoitecer.
Tu foste, noite, a paixão da minha alma!
E como uma mulher felina, sedutora do meu espírito, és o grande amor!
Como uma palpitação, sou teu desejo, tantas noites perdidas, és a heroína da minha vida tantas vezes sem conta, descrita nas minhas folhas sentidas.
Amo-te mulher, deusa da noite!   








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Nas formas do teu vestido transparente, ondulando ao vento como um fantasma do meu coração, prisioneiro do teu sentimento.
Deitado na cama, debaixo do edredão, oiço lá fora a chuva e os seus pingos de tempo abstrato, caindo como sinos da igreja num eco do mundo, se bem que pingo a pingo o tombo que dá, por vezes não se ouve ou parece equidistante do ponto onde me encontro…
O hipnotismo do som dá um sono meio acordado, misturado com o prazer da cobertura acolchoada envolta em sumaúma.
E enrolado na colcha de algodão, penso na metafísica dos sonhos com a cabeça enterrada na almofada, nos conselhos do aconchego da cama com a respiração em suspiros de preguiça matemática contados como carneiros, misturados na física do Einstein que os conceitos espaço-tempo incluem a minha gravidade pregada ao travesseiro, como namorado fiel e apaixonado da sua amante.
Meu cérebro é uma preguiça autêntica sofrendo por não saber o que sente… sem saber que pensar, o coração atravessa-lhe arrepios de espinha num vaivém angustiante por ser tudo tão frio e gelado como uma pedra de mármore.





 
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E então, o mundo corre lá fora sem poder parar, atropelando meu corpo na sua forma grotesca e desenxabida, eu esqueço que ele existe… e vou junto com o esquecimento para não me ferir ou sofrer com as injustiças dos humanos, porque o meu coração nu e cru, hoje, está doente de tristeza, sem saber o porquê da incerteza…
Até a claridade da manhã, parece mais noite que dia… cinzento carregado de preto, em nuvens mascaradas de sujo negro, tão mascarradas que o tempo nem se via…
O clima hoje, também está triste e pardacento, luz fosca como unguento… e não há nada que a cura traga de tarde, porque já é noite de manhã.
Um galo canta… indicando a rosa-dos-ventos, uns dizem que é despertar, outros que é o nascer do dia… mas o meu despertador começa o chinfrim em vez de cantar, e é mais real que a hora e o ano, porque o segundo não engana nem se desvia.
E a minha realidade é ter que me levantar com o peso do mundo em cima de mim, repetindo na mesma hora, os mesmos gestos durante os meses, com os mesmos anos na mesma rotina para fazer uma única operação – trabalhar.  







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Raios partam esta vida!
… Tão sem sabor nem apetecida.
Ao entrar no carro, o melhor trajeto até à fábrica, é quando o rádio se liga no posto automático, e sai de lá a canção que me vai distrair o resto do dia.
O povo costuma dizer: “Quem canta seus males espanta.”
Se este ditado tivesse qualquer coisa de verdadeiro, há muito que seria um anjinho… e não um cantor de trejeitos, interjeições e carvalhos sem jeito…
As palavras seriam desabafos obscenos e atrevidos, mais parecidos com os pedidos do dito cu coruja a uma hora certa…
As pessoas com vergonha, tapariam os ouvidos… e puxariam o autoclismo para a água engolir a trombeta da merda…
Se fosse intérprete musical, escolheria a canção de uma noite perdida ao vento, por entre a bruma do nevoeiro e o silêncio do tempo…   







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A letra seria a minha composição do cosmos negro e profundo… até parecia que tudo lá dentro estaria adormecido, e os violinos dos confins espaciais, também não se ouviriam…
No universo havia a harpa do vento nas caudas dos cometas, mas quem lá passava não sentia o ritmo, apenas tinha harmonia na imaginação naquilo que se via…
E era tudo tão triste e sem vida!
A canção da solidão…
No fundo de tudo, num silêncio estático, o profundo era um túmulo, e o cemitério de estrelas a casa de Deus, que se vestia de preto tão escuro e apenas se agitavam as pupilas dos olhos negros no minúsculo fundo branco, que ondeavam ao sabor das ondas do espaço triste e confuso, como uma metáfora de coisa nenhuma…
E com umas sumi-fusas, umas semi-breves e umas colcheias duma viola, ouvia-se nos confins de nada… o eco duns sons estridentes de tantos em tantos segundos a perderem-se no fim dos mundos…







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As notas sairiam como o chinês duma cançonetista desse país 
que se punha a emitir como um telégrafo do século dezanove 
em código morse… cantando…
Nãohápipititituí… Óyóyásimsisipipi… 
Às vezes as palavras são traiçoeiras e (assim) em chinês 因此
é uma melodia que tenho na cabeça e nunca mais saiu a chinesice… 
porque se um comprimido para as dores alivia a úlcera, 
quando a canto vezes sem conta - e não quero outra… se resulta!
Como se diz em chinês: (É uma maravilha!) 這是一個奇蹟!
É simplesmente uma Rosa (Hiroxima) 廣島.



Depois, no final do dia, após o cansaço fabril… retemperando as forças com um duche, um lanche e algum passatempo… dou comigo noutra noite mal dormida, da agitação do sono no esconderijo do meu edredão, com a chuva a cair e os pingos a martelarem meu juízo, no vazio quentinho da minha cama, tentando ganhar coragem para sair… o despertador toca, e repete-se tudo de novo por ser outra data… a jornada é renovada, mas o ritual embora recente… é um dia sempre igual.  






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