/EM POVOA DE LANHOSO/
A
MÃO DE DEUS
Finalmente o
sol de verão.
No alto da
vila, vivia na quinta de uma senhora “beata” e de uma gata falsa de estimação,
que de tempos a tempos ficava estranhamente assanhada, o pêlo eriçado como um
ouriço-cacheiro e umas garras de unhas curvas como ameaça, dando saltos e
gritos estridentes mal me viam passar à sua caça.
Tinha um
curral com porcos, capoeira com galos e galinhas, uma casa de rede com frangos
e patos soltos, perus e pombas cheia de aves pequeninas, que mais parecia um
zoológico cheio de cabras e borregos e ovelhas pisando a caca, e até um saguim
- macaquinho de África e todos os animais domésticos que havia… parecia que
vinham desembarcados da arca de Noé.
Eu
acompanhava e ajudava maravilhado à alimentação daqueles animais e seguia a
senhora para todo o lado… e para a igreja do senhor padre em oração.
À tarde, com
outros miúdos da minha idade, me levou um dia à casa do Senhor para aprender
todos os actos, rezas e contrições do pastor.
E não é que eu me pus a dizer e a cantar padre nossos, ave-marias e todas as rezas da missa sem ver… nem ninguém me ensinar...?
E não é que eu me pus a dizer e a cantar padre nossos, ave-marias e todas as rezas da missa sem ver… nem ninguém me ensinar...?
As pessoas
exactas daquele meio, o senhor prior e as senhoras beatas que nos contavam histórias
de amar, entre si olhavam com grande admiração e uma adoração de para mim
olharem.
Como era
possível acontecer?
Alguém tão pequeno e que nem sequer ainda sabia ler, saber todas as palavras de amor do homem que andava em cima do mar…?
Alguém tão pequeno e que nem sequer ainda sabia ler, saber todas as palavras de amor do homem que andava em cima do mar…?
A verdade, é
que sentia algo meu, belo e inocente como se tivesse Deus dentro do “eu”, da
minha mente. Olhava para a natureza como se visse a primeira maravilha do
mundo, adorava o entardecer das tardes pelo ouro do sol amarelo e amava a
incandescente luz do sol poente raiar, o momento do dia em que a estrela de
calor se põe no horizonte e a luz do sol na meia-noite me punha a sonhar…
Eu, adorava
aquela terra, e os milagres sonhavam e aconteciam dentro do meu ser como se
fora abençoado… o mundo era o meu amor de criança, amar e ser amado.
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