segunda-feira, 6 de agosto de 2012

A IGNORÂNCIA DO SABER







A IGNORÂNCIA DO SABER




Se a carapuça lhe serve
e você se reconhece…
Deixou de ser burro
passou a ser do mundo.
Sabe ser colega
limpou toda a merda.







Não quero ser confundido com imaginação dos sonhos, breves passagens por entre escombros… ou de coisas mal interpretadas, mesmo que espante a vaidade das almas, ou segredos desvelados que são tão evidentes e que partilho com as gentes de quem não espero nada.
Porque isto da escrita, não é nada fácil de entender.
Que o diga alguém que já tenha experimentado ler o que escrevo… comentando:
- Como tu fazes não consigo…


Pode ser irónico, mas eu digo o mesmo...
Aqueles que deixam obras grandiosas e são mencionados como autores medíocres, só porque não têm um Prémio Nobel, para mim são imortais...
Se a seiva que brota do cérebro com arte incendiando o coração de todo o mundo, sentindo na nossa carne um pedaço do pensamento como se fora palpitantes paixões de alma, atravessando lugares da Terra às mais distantes estrelas querendo viver e morrendo nelas - Esses sentem e fazem sentir, e como esses também eu não consigo... 
Não imitando, nem sequer tento, não seria humano, nada que tenha portento, não seria eu uma realidade do engenho. Eu sei quem sou, o que os outros dizem sair do vento, mas Deus criou para viver como um palaciano.


Não sou quem quero,
sou eu pedaços do destino,
cacos de melancolia sem piso,
à espera do dia tão perto…
a prisão da vida sem préstimo,
só sonho por meta simulando que vivo.
Sei onde fica o lugar que vai dar ao sítio do meu cantinho.


Fervendo por dentro a quente como um vulcão ignorante, broto, mas reconheço falta de talento. Por isso, sigo, invento, transformo, gosto do momento, não desisto.
Ao ser eu, crio uma pessoa ausente que agora nasce na personalidade do meu feitio, diferente de todos mas igual à minha mente, da maneira que fui, que vou indo como sou, dando como testemunho a minha certidão do dia-a-dia, nas palavras que dou, o retrato da minha identidade com toda a alma do meu coração, e o sentimento traçado pela mão escorrendo dos dedos, daquilo que sinto em segredo por entre enredos.



Aquele floreado que dá às palavras um sangue azul bonito que mais parece teatro, torna vistoso o ridículo, sem chama que perdure ou fique na memória dos homens; esses são os falsos doutores que vivem apenas para o momento da vaidade e da falsa ciência.
Que me interessa a sua fama, se o que leio não me impressiona?
Falta a tal chama que desperta o mundo das almas puras onde elas mais dormem.
Não acordam, porque como eu, não perdem tempo com banalidades e imitações dos sentimentos. Não vêm para a praça pública à procura da fama, a qual tapa a visão e dá cegueira à ilusão da arte.


E eu, existo – sou um ser humano.
Não posso dizer que sou imaginação doutros olhos num inconsequente ângulo, que nada têm a ver com duplo sentido… se busco, se resisto. Mesmo sendo desconhecido para a maioria, há sempre um lado apetecido e outro, que se julga compreendido quando o tal lado não existe como o mundo pretendia.
Continuo a ser o mesmo tipo de bata e sapatos, indiferente à crítica normal sobre a minha pessoa, não dando importância ao que os outros pensam, mas ao que sinto, como sou, e não o que os outros querem que eu seja sob a forma deles ser.
Nunca fui imitação do estado de alguém, ainda que possa ficar admirado se alguma coisa me surpreende, porque não espero de quem conheço, moldar-se à forma mais conveniente, atropelando sem apelo o que está mais à mão, sempre.
Embora não consinta, é para isso que existo… que não desminta e não vivo.





Mas ninguém tem culpa de entender o que é não desconhecer, até ao momento que tomamos a aprendizagem do saber.
O que se desconhece não é ignorância, é querer aprender imitando o esperto, aumentando nosso conhecimento com elegância. Nem vamos formular eternamente que é despautério... se ficamos mais inteligentes do cérebro, deixamos de ser nós – se somos o sério de máscara inventada, embora haja um doutor que possa exclamar subitamente:




É pá! Foi aquele gajo o autor?
Tal ignorância… Não pode ser!
É um simples trabalhador…
Operário, quase não sabe ler!



 Vivem a meu lado comigo, na manhã real fugitiva e à noite uma aparição do dia…
E sou eu na realidade submisso, sempre a querer aprender com tudo isto, o que outros dizem conhecer quando estão a mentir…  os gestos, o pouco à vontade no sorrir, comprometidos como doutores espertos,  mas fingidos.


O ego é uma coisa neste caso que se chama para mim, filho da p...…
E a vocação é daquele que é, e nem se lembra que é ele mesmo, porque é natural, sem necessidade de provar sua autenticidade. 
É reconhecido no meio em que vive, e a sociedade não o esquece porque há espontaneidade de parte a parte - Esse é mesmo doutor, e a sua ciência é a sua própria humanidade - dar sem pensar em receber.


Agora…
Vá-se lá saber que raios, coriscos, trambiques, merda de mais com cicuta, cacholas de espicho e que outras merdices, vai na cabeça dos estupores filhos dos doutores!
Aqueles que pensam que são, e não passam de dementes ambulantes... sem arte nem ciência, porque só pensam no nome como a vaidade do laço, fato e sapato.
Mas como há tanta coisa que não sabemos a vida toda, há quem não tenha vergonha e nos chame ignorantes, porque eles se consideram astutos; também não sabem e não passam de burros importantes.
Talvez tenham alguma razão, eles não são incultos, são antes aselhas pior que burros - asnos impressionantes. 




Se acham gente de mais princípios…
De tão pouca humildade parecem inocentes na sua burrice, com orelhas de príncipe ouvindo o zurrar de burro, e homem com focinho de leitão e barriguinha de porco, como se a acção mais importante do momento - a sua vaidade, além de um acto animal fosse um caso natural, nada tivesse a ver com a carne de vaca estragada, o garfo e a faca, os maneirismos no comer, as caretas ou expressões obsoletas, ruminando em silêncio com tromba de elefantes… e mãozinhas de formiga.
Parecem meninos e meninas do coro de fato e lacinho, tecido elástico, vestido prático, se imaginam doutores o tempo todo, empregando palavras que têm pouco significado, mas o que eles sabem, é só aquilo que andaram a estudar a vida toda… meia dúzia de palavras gravadas para citar como maricas em ocasiões de falsa nobreza e hipócrita burguesia.
E bem lá dentro deles, bem fundo, quando a vergonha vem ao de cima, os segredos que eles escondem, são evidentes nas pessoas ao dizerem as mesmas coisas em letras diferentes, e a palavra burro começa a ser sinónimo seu parente ao vir de cima, por quererem ser à força toda, inteligentes.



Santa ignorância daqueles que dizem saber na totalidade a universalidade que é sua fraca ciência de doutor.
É que a inteligência deles é do tamanho de uma formiga, paralisando como um burro carregado sem intelecto, porque não têm conhecimento de nada, a não ser o protótipo da vaidade.
A formiga só leciona de verão, e consegue passar férias todo o inverno porque tem memória de elefante, e  instrução autossuficiente para sobreviver sem precisar de ajuda até morrer.
O doutor tem de trabalhar todas as estações do ano com um cérebro milhões de vezes maior que o da formiga, e é tão dependente da sua profissão até ao fim da sua vida; mas se adoecer e ninguém o ajudar morre de impotência, porque a sua ciência não está ao serviço da sociedade… mas dele.





A cegueira do orgulho deles, é ter a mania que sabem tudo, e não querem que se saiba que são filhos duma mula, porque a mãe deu-lhes a cultura da Alta Sociedade proibindo os sorrisos e usando cara de estátua.
Ser sério é ser apanágio de doutor.
Tanto querem ser, mais parecer do que ser interessantes aselhas, cómicos do cinema burlesco em posições chatas com falinhas de galináceos e plumas de palavras em sintaxes discrepantes, que assaltam de vaidades todos os doutores de canudos comprados aos bacharéis corruptos como eles de ideias baratas.
Pensam que são inteligentes por enganar o mundo inteiro, e são os únicos cegos no mundo. 
Que Burros Importantes!





















sexta-feira, 6 de julho de 2012

INTEMPORAL





INTEMPORAL






Cada várzea que se aparta de mim, sabe do fim que anda ao desalento num fôlego de ânimo impaciente, na espera congénita de Deus envolvendo a minha substância em áurea cadente fantasmagórica. Estou mais perto, daquilo que representa estar às portas do céu… na tentativa transversal que a intuição do nada passado em nada altera, e mesmo imaginando o que  me espera, não sinto falta do que haja, ou como muitos dizem ter receio da partida, perdida que é a visão na Terra e da vida por cá nunca mais  voltar… se aflija.


Daqui a uns milénios serei eterno, espalhando o alento nos becos e o odor das nuvens por cima da necrópole… falando de algo constituinte do oxigénio, ou de partículas da minha presença perdida no tempo.
Nem Ele será sempre desconhecido mistério que ninguém esquece…
Nem além O viu ninguém nunca vivo, porque quer.
Mas recordado como lenda, vão contar que fui inventado por nunca ser falado; não deixar rasto como existência e andar como judas nas palavras dum livro, quando a revelação da escrita é do meu espírito.


Eu tento seguir a senda divina, não sou impostor.
É o que nos ensina a vida, e o amor.
Quando partir... terá que dar visibilidade da minha chegada, porque há muito não creio que Ele exista sobre a forma falsa dos homens.
E só escrevo o Seu nome com maiúsculas, em respeito às pessoas sérias e com postura, porque eu não acredito só porque dizem, ou afianço quando não digo… ajuízem ou se digam sinceras.


Deus queira que Deus exista como Deus todos os segundos… e seja Deus não só da Terra, mas de todos os mundos.
Se houver outras raças no Universo e o Deus for diferente do nosso… como explicarão os fariseus aqui tão perto, este mistério tão antagónico?
Que sejam simples e límpidos como a água, se não… há algo turvo e imperfeito.
Beber o logro da fonte envenenada e jorrar os bofes pela mão… Deus não queira!
Ainda que a minha vã cobiça de pensar ande hipnotizada, o meu coração que é de barro, pode-se quebrar; por vezes até de lata… tão fácil de levar.


Perdoem-me os da fé contida.
Mas pensar não é pecado.
É um acto livre espontaneamente exato, é o expoente máximo da liberdade.
É ser criativo nesse acto sublime que é vida penetrante ser da humanidade, Criação, entes… gene pessoal humano, micro da nossa mente, íntimo sagrado não profano.


É tão bom ser, não são outros… seremos heróis ou loucos… mas somos.
Como deuses colhamos os louros.


Sentado também penso.
Como um Tirano da realeza, uso a caneta como ceptro e também sonho com a riqueza…
Meditando cogito cuidando que Deus é a minha alma de cara lavada, e Deus sou eu pensando.




  

quinta-feira, 7 de junho de 2012

QUEM MATOU MÃE MATRAQUILHAS?






ANO 2012


As personagens são inventadas
mas a historia deles verdadeira.
A linguagem é pior que vernácula
Se é educado, susceptível, não leia.




QUEM MATOU MÃE MATRAQUILHAS...?


 


(1)
População Masculina





A família Montimerdas vivia no Bairro de Lata no Prior Velho (Lisboa).
Ao passarem na rua, todo o submundo procurava o comércio variado e atraente das suas mercadorias que vendiam como feirantes e não passavam de uns reles traficantes.


A maioria da população do Bairro de Lata é gente cigana, que sempre viveu à margem da lei, usando negócios ilícitos, e ultimamente no trilho das drogas duras.
Também trocavam o trabalho pelo furto diário em delitos menores, que eram passados de avós para pais e de pais para filhos… sangue rebelde que lhes estava enraizado na hereditariedade de seus antepassados, que desde tempos memoráveis lutaram à sua maneira contra todas as raças para serem livres e submeterem-se apenas à etnia cigana.


Os irmãos Bagalhão, Fujifoge, Sacoesconde, Kudacorda, Kukumija, Kaguincha e Montimerda júnior, apelido familiar dos Montimerdas por ser o mais velho, e todos eles respeitáveis ladrões de profissão e abençoado sustento da família, com mais outros tantos cunhados e outros filhos deles, porque eram muito religiosos da parte do Deus que fugiam…pedindo com muita fé… para que a polícia nunca os apanhasse e metesse no chilindró.


Verdade verdadinha… trabalhar? Trabalhavam como uns desalmados!
Lá isso, era vê-los coitados!
Sempre ali a darem no duro e a palmarem tudo quanto era do vizinho mais próximo.
E quem os visse (porque ninguém os via), parecia que alguém acabaria por dizer, que ali estavam os homens da Nação… a lutar para a humanidade continuar a ser uma das mais velhas profissões do mundo – ladrões.


Montimerda falava muitas vezes que admirava os políticos e os gajos das Câmaras, falando com o calão e os chavões populares que é próprio das gentes sem escola:


- É pá, admiro aqueles paneleiros!
Formam-se, são doutores, roubam milhões… toda a gente sabe o que eles são, passam pelos tribunais para o povo saber que não são ladrões… e nunca são apanhados, e depois vivem à grande e à francesa!
Já disse à minha Maria, que o meu próximo filho vai para a Universidade bater com os cornos nos livros e ser um doutor daqueles… para poder trabalhar à vontade e ficar bem na vida. Pelo menos, em vez de ser perseguido, é antes guardado pela polícia e o doutor juiz ainda lhe passa um papel que prova a inocência do rapaz… tudo ali, o preto no branco como manda o figurino, porque aqueles filhos da puta podem ser uns larápios mas não são mentirosos… os tribunais atestam isso mesmo, enfiam-lhes a honestidade pelo cu acima.


Bons e empenhados comerciantes como era costume… salteavam as farmácias à procura de “drunfos” como a metadona, morfina, comprimidos de metaqualona para vender aos desgraçados das drogas, além de traficarem Ecstasy e heroína.


- Dos Supermercados, rapinavam caixotes de tabaco e álcool, com preços acessíveis para revenda e contrabando dos piolhosos como eles, roubando carros de madrugada e sacando com mãos de veludo… carteiras e malas no metro.


- Assaltavam o armazém das fábricas de plásticos para vender nos mercados vários… como alguidares, regadores, pratos, talheres, brinquedos… que eram transportados numa camioneta de caixa fechada para fuga dos impostos, e dos papéis que comprovasse a autenticidade da mercadoria, tendo que viajar de noite a horas menos próprias para fugirem à polícia. Enfim, negócio herdado do sangue dos antepassados e do tempo que ainda existiam piratas… só que os piratas, hoje, são mais sofisticados com pulgas, baratas, lêndeas e chatos que se pegam com o contacto do ar, e duma comichão tal em tais partes numa carne viva que parecem bifes…





(2)
População Feminina





Mas a família Montimerdas era uma cepa à parte, quase descendente dos mouros… raça de origem árabe aportuguesada, nos tempos muito desleixada.
Por não tomarem banho e por não quererem pagar a água, ao viverem naquele Bairro de Lata se confundiam com os ciganos, que lá do paraíso, o inferno do céu abençoava os nascidos com água natural dos esgotos, usando pó de talco na carne putrefacta para as partes amareladas com bolinhas de pus e aspecto inchado à volta das ratas… das filhas Putikeka, Bobochapa, Chupalimpa, Lenachagas, Perceveja, Lenamijas, Bobovina, e às filhas destas filhas… Lavaeseka, Surrasurra, Cagueira, kacacheira, Xupapiças e kaleija, todas elas também habituadas a viver no meio de chatos, percevejos, lêndeas e baratas a cair no tacho como marisco.


Frequentaram levianamente a Escola da Vida sem saber ler nem escrever. Depois, tenra idade a vender nas feiras, e mal formaram corpo de mulher, todas elas perdendo a virgindade com irmãos, primos e cunhados, iam com grande descontracção no verão, em plena Avenida de Lisboa trabalhar na prostituição.


Por vezes, pegavam-se em grandes discussões e à porrada com as putas ali perto do Intendente pela disputa daquele território em plena Avenida, quem vem do Tejo pelos Restauradores, ou quem vem da Rotunda do Marquês de Pombal em linha descendente.
As putas do Intendente mostram-se perto de casas antigas (com rendas mais baixas) onde o chulo tem quartos alugados, por aquelas ruas de travessas e esquinas doutro bairro que parece a certas horas outro mundo… e à noite nos meses de Verão, a Avenida é o chamariz para acabar no Intendente.


Tomavam banhos de perfume em vez de água, coisa que aqueles corpos poucas vezes viam numa bacia velha e sem esmalte, por viverem em barracas com pulgas e com ratazanas do tamanho de coelhos saindo das tocas como se fossem animais de estimação.


Os clientes desconheciam a falta de higiene daquelas potenciais inimigas da saúde, e durante a noite à luz da lua ou sem ela eram aliviados… para nos dias seguintes ganharem doenças de pele com as mais porcas enfermidades que a comichão os acometia, ficando tão roxos, em carne viva… como as partes íntimas daquelas moças rameiras.






(3)
PÁRARAIOS, MÃE MATRAQUILHAS, FUMAÇA,
PICHOLAS E ZÉFERRO





Todos viviam e dormiam juntos numa grande divisão da barraca cheia de camas…
Uns ressonavam, outros fodiam como se fosse o acto mais normal do mundo… e nem sequer se preocupavam em evitar uns gritos de tesão, rangendo as molas da cama e estremecendo os nervos de quem queria adormecer.
Às vezes, alguém gritava dizendo: Deixem-me dormir seus filhos da puta!


- O pai Páraraios que fazia de ama-seca, era casado com mãe Matraquilhas que vive actualmente debaixo da terra… sim já morreu. Era uma santa endiabrada quando enviava tempestades de carga de porrada ao Páraraios, partindo os cornos do pai que era marido de figura presente e um saco de descarga de toda a sua adrenalina.
Mas pai Páraraios era gay, e sempre que podia fazia parte das manifestações homossexuais, vestindo-se de mulher, com uma saia, meias e ligas coloridas e uns sapatos de salto alto que lhe faziam inchar os pés, e uma sacola a tiracolo que lhe dava um gosto especial.
Todo o mundo sabia e ninguém se importava, porque ajudava nas lides da casa, cozinhava, limpava, lavava e ainda levava no cú…


Mãe Matraquilhas cuspia a rir nas sopas de pão com leite azedo da avó Matarratas, que era gaga e via muito mal. Ia imitando ao mesmo tempo a desgraçada, comendo alhos crus para assoprar com o hálito da boca e poupar nos pequenos-almoços, servindo sempre as mesmas sopas, que juntamente com o cheiro dos alhos tresandavam a podre insuportável e às vezes faziam vomitar a velha. Brincadeiras de pessoa com miolos queimados e instintos maléficos.
Mãe Matraquilhas limpava ainda a porcaria dos filhos, atirando às trombas deles com cuidado para não sufocarem com o mau cheiro e ensiná-los a não cagarem tudo quanto era sítio… aos cães esfrega-se o focinho na merda, a eles também quando se irritava. Como o marido Páraraios era paneleiro, todos os filhos eram de cunhados, primos, e os últimos do avô Picholas que tinha uma picha dum tamanho dum cacete, com uns trinta e tal centímetros… enfim, coisas da natureza.


Da irmã Fumaça que bebia tudo sem sacrifício de tanta bebedeira, fumava muitos maços de tabaco por dia e entupia de fumo a chaminé da cozinha… pagando o defeito a matar a rata de trabalho… quando lhe faltava o dinheiro para o vício.
…. Um dia, que não era belo para aquela criatura, mãe Matraquilhas empurrou-a lá do alto do escadote, partindo-lhe os braços e as pernas, e os dedos dos pés engessados no Hospital do Estado, para se ver livre dela e do fumo de cigarro.


O avô Picholas que era surdo, zarolho e coxo, e fazia o lugar do pai Páraraios, deitava-se com a mãe que não era filha da mesma mãe, perdoando-lhe o mau feitio com umas quecas às sextas e sábados e domingos na hora da missa… aumentando o número de filhos lá em casa.


O cunhado Zéferro era sucateiro, e quando despia o fato de macaco todo sujo, a sua pele tisnada pelo surro e falta de água, parecia queimadinho do sol da praia… só que era uma acastanhada cor de caca, que fazia lembrar um cagalhão doente do mesmo nome e com o mesmo colorido… como sofresse de icterícia e escorbuto… e por onde passasse deixava um rasto do cheirete a merda, não só da pele mas também por aqueles pelos do cu nunca ter visto melhores dias, e os cabelos engrossados pela porcaria seca terem a parecença da palha e o fedor a merda… nunca se sabia se o perfume intenso do Zéferro era dele ou da pocilga onde ele vivia… havia quem dissesse que os porcos ao pé dele eram uns santos, tal era o cheirinho do bicho Zéferro.





(4)
QUEM MATOU MÃE MATRAQUILHAS






Decididamente, mãe Matraquilhas era uma mãe neurótica que passava a vida a infernizar toda a família, e estes fartos dela… existia a possibilidade a qualquer momento de a mandar para a quinta das tabuletas, para acabar com o seu mau feitiozinho.
Mas ironia do destino… o seu dia de apresentação estava marcado, e quem acabou por a despachar para o outro mundo… foi quem menos se esperava.


A avó Matarratas sofria de miopia e alguma gaguez. Costumava dizer que nunca foi preciso ir ao doutor da vista (Oftalmologista), porque além de ver bem não tinha intenção de pagar fortunas pelas consultas… e não passavam duma classe de ladrões. Enfim, retirando estes dois pequenos problemas de saúde, embora com a idade de 85 anos, era na verdade uma velhota bem rija.


Aliás, a avó Matarratas tinha coisas que a preocupavam mais. E uma delas, era o péssimo hábito de tentar matar dezenas de ratazanas à vassourada, o que não lhe parecia boa solução, visto elas serem cada vez mais numerosas e anafadas.
Como não tinha mais nada para fazer, e o tempo todo a aborrecia sem ocupação, teve uma ideia que na altura lhe pareceu excelente para resolução da rataria.
Então, pediu a uma vizinha doutra barraca que era especialista em drogaria, que lhe arranjasse veneno em pó, e assim, deu-lhe uma sacada.
Dito e feito, pôs-se a espalhar por tudo quanto era sítio… e por sinal, as cabeças de alho que estavam no chão da dispensa e que lhe pareciam montes de serradura como camas para ninho da bicharada… ensopou-as com o veneno não se apercebendo do erro fatal.


Mãe Matraquilhas que estava no hospital internada com uma grande depressão nervosa, regressou a casa para recomeçar a sua vida rotineira e de mau feitio.
Como tinha estado uma semana em tratamento, os alhos ganharam humidade e o pó do veneno ensopado, ao secar, desapareceu aparentemente não alterando a cor. Parecendo pó, limitou-se a sacudi-los, e tirando as cascas meteu duma vez uns poucos como era costume.
Ao servir as sopas de leite, e comendo os alhos como era hábito para inundar a velha com o seu mau hálito, começou num estertor mortal com esgar das faces e uns sons que pareciam vir do além… agarrada à barriga… com a boca toda espumada.


Avó Matarratas, desconhecendo o que se passava e não estranhando as maluquices da nora, ficou muito feliz… porque foi o primeiro pequeno-almoço que não gozou com a sua gaguez, e pôde comer com satisfação as suas primeiras sopas de leite que não estavam azedas… até bateu palmas no fim, quando viu sua filha Matraquilhas deitada no chão muito roxa, pedindo-lhe auxílio de mão estendida… (e como sempre sonhou ser atriz desde muito nova, pensando que estava a atuar para ela), foi dizendo à filha:


- Ó minha querida filha! Não sabia que tinhas jeito para o teatro…
Gostei tanto de ver o gesto artístico dessa mão… é direita ou esquerda? Tanto faz!
Foi tão bonito!
Amanhã repete, sim?
…, mas levanta-te… não é caso para ficares aí tanto tempo…
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(No dia seguinte um jornal local dizia: - veneno para ratazanas matou uma mulher com o peso de 62 quilos, natural do Prior Velho, e centenas de ratas com o tamanho de coelhos que viviam na toca da barraca , continuaram a passear  à volta do cadáver sem lhe tocar… tal era o cheiro a alho pôdre da pobre coitada senhora...
… o funeral realizou-se no Cemitério dos ……… Acompanhando a defunta, filhos, irmãos, primas, tios, avós… e os padrinhos da rataria que se encontravam dentro do cachão a prestar sua última homenagem na Igreja… fugindo com respeito quando as tampas foram abertas, e as senhoras em cima das cadeiras perdidamente aos gritos histéricos não se conseguiram controlar com o tamanho daqueles coelhos… perdão… com o tamanho daquelas ratazanas… aliás, houve quem comentasse no final (avó Matarratas):

... os gritos e a falta de respeito era tanta daquelas filhas da Puta lá na Igreja… que a defunta ainda chegou a abrir os olhitos espantada…, mas depois lá se finou, descansando os cornos no seu leito Divino… Coitadinha! Isto há coisas do caralho! 
Benzendo-se três vezes terminou dizendo - Quer-se dizer... coisas do Alho.