/ EM CASTELO DE PAIVA/
ALMOÇO
NA SERRA
Num dos dias na Serra da Freita, para os lados de
Castelo de Paiva, acompanhei meu pai na montagem de uma linha, era difícil e
perigosa a subida, e a profissão de guarda-fios os heróis daquele dia, numa
altura que fazia tremer o interior de qualquer coração.
O dia
continuou, e chegando a hora do almoço, com lenha apanhada no monte, pau
grosso, se fez uma bela fogueira, e numa panela preta de ferro ferreira, se fez
o melhor cozido da minha vida na Terra. Comeram várias pessoas, e se não era
dos ares da serra, era da panela que ainda serviu para além das carnes de
porco, boas sopas…
Um dos ajudantes do motorista (meu pai), lhe deu a vontade, e atrás de umas
silvas se foi aliviar. E pegando numa pedra parideira para se tentar limpar,
eis que manda um grito que fez assustar a serra inteira…
Meu pai teve de o conduzir ao hospital, porque um
lacrau que estava debaixo da pedra de granito lhe fez um “pico”, mesmo no
centro do refugo… e o coitado não parava com tanta dor no cujo…
Ele bem sabe que a culpa não foi do cozido, nem do belo apetite, nem sequer do
alívio… mas sim da falta de papel e daquela pedra que tinha um doloroso
espinho.
Dissera ele mais tarde:
- Maldita a hora que lhe dera ali a vontade de
repente!
Estivera quase a fazê-lo de um penhasco… mas como era
muito o frio do vento, receou ficar constipado.
Às pedras nunca mais vai voltar, e muito menos as calças arriar… porque isto de
ser picado, ninguém gosta, e muito menos naquelas partes onde ninguém se pode
descuidar.
Nunca gostei tanto de sorrir ao comer boa
comida, e deitar mão à barriga como uma criança de pião, perdida de tanto
rir com o pico do escorpião.