/EM GOUVEIA/
JARDIM-DE-INFÂNCIA
Pensamentos ficam
e outros vão, mas a mente humana de ideias e mistérios é como uma caixinha de
surpresas.
Os muitos anos passam, mas quando falamos num sítio, logo vêm à memória imagens de lugares furtivos em recônditos e profundos entraves… que nos parecem estranhos e desconhecidos.
Os muitos anos passam, mas quando falamos num sítio, logo vêm à memória imagens de lugares furtivos em recônditos e profundos entraves… que nos parecem estranhos e desconhecidos.
Assim é,
igualmente situada numa das encostas da Serra com pedra trabalhada pela
natureza, onde correm nascentes de água pura, fauna e flora da montanha…
Ruas estreitas com pedra da calçada numa descida...
Entre outras duas ruas um café com televisão sem cores, uma avenida extensa com espaço quase descampado, e um largo que parecia uma pista de aterragem rodeada de flores.
Ruas estreitas com pedra da calçada numa descida...
Entre outras duas ruas um café com televisão sem cores, uma avenida extensa com espaço quase descampado, e um largo que parecia uma pista de aterragem rodeada de flores.
Em cima, uma
igreja com duas torres e uma capela com vista para a vila. Um dos lados cheio
de árvores muito altas, do outro, um jardim cheio de plantas e um tapete enorme
de relva, e dentro do próprio recinto plantado, um jardim-de-infância.
Lá dentro,
os gritos de alegria de crianças como eu, a excitação e o prazer de andar de
baloiço, voando com imaginação da realidade, levado nas asas do vento em pleno
voo, e naquele momento até se acredita que se levanta como um pássaro de asas
gigantes, o mundo não tem chão… e o baloiço parece um avião.
E nos
escorregas o trampolim, um trajecto do céu deslizando na pista de areia
derrapando pés, ou uma queda desastrada virado ao contrário no areal do chão
transformada em cambalhota.
Por ser tão
bom viver ao saltar, vai-se logo a correr para repetir… senão houver
trambolhão, não é giro de se ver nem gostar ao sentir que é tão bom ser
trapalhão.
Em pleno
contraste aquele jardim tinha uma imperfeição.
Ali perto, o
cemitério de moradias com olhares na espera duma aparição… lugar de algo
sinistro, mas não sei se há algo na saída com medo dos papões.
Sei apenas
que se ia por uma avenida e na altura se falava, quando se ouvia uma coruja ou
um som dum vento mais barulhento, a fuga para baixo dos lençóis, com medo das
almas penadas ou até mesmo de fantasmas, porque quando se vive na idade do
pavor e da fantasia, qualquer som é um horror e a vida não é vida… é um filme
de terror.
Não se deve
pisar aquela terra de bichos e aparições naquelas idades…
Senão não é
como a terra do meu jardim, sem urnas e tabuletas cruzadas e agoiros de aves
curvadas e olhos fixos… suspensa respiração dos aflitos.