sábado, 12 de maio de 2001

O PODER DOS REIS






O PODER...
I


O poder por aí prossegue no mundo em desordem, desorganizando o mundo dos vivos… inalterável na sua forma, o seu conteúdo continua invicto.
Haverá mais homens que iluminados espíritos, um mundo perdido.

A perfeição dos mundos segredos escondidos, serão quando os homens deixarem de existir, será quando a imortalidade da alma sentir!
Que no mundo só poderá haver apenas espíritos.

Ternura de asas repartindo, só o “amor” tornado eterno, somente vivo como única matéria, transformará defeitos nos novos mundos perfeitos.
Serão vindouros tempos… um pouco das magias como fórmula certa, uns pozinhos de segredos misturados com mezinhas antes nunca desvendados, pelas novas dos ventos em parte incerta, voltando aos tempos antigos.



... DOS REIS
II




Confundiram um feiticeiro de cabelos compridos, bíblico, ordeiro, com um Sansão puro, igual ao meu Deus cabeludo… profundo irmão, de olhos bonitos.
… então, fizeram tudo!… para apagar o ADN dum miúdo.

O corpo era menos importante, mas era rei no reino dos homens, demasiado Grande…
Deus, até podia ser!
Agora tomar o lugar dos Reis no poder!?
Nem que fosse só o rei dos pobres carentes, que morressem milhões de criancinhas!
Que ficasse pouca gente… desde que houvesse Reis e Rainhas!

Como um novo aviso entre novos vizinhos e vizinhas, para lerem o Livro e contar histórias aos meninos e meninas, com cuidados sem sufixos nem cautelas com prefixos…
… um pouquinho que meus olhos sabiam, tudo o que os deuses queriam…eram leis para transformar homens em galinhas!

... negando o poleiro como um dever mítico, desde que houvesse Reis e rainhas, e um Rei no Poder, pregado num crucifixo.













quinta-feira, 12 de abril de 2001

DEUS, SOMOS TODOS NÓS




EM RIO MAIOR/



DEUS, SOMOS TODOS NÓS




Ao Amor eu chamo Deus,
a Deus eu chamo Amor.
Quando eu deixar de existir?
Deus também morre…

 
Quem falará em Amor
se em vez de humanos vazio ou morte…
está nos nossos corações,
a criação é nossa
e o pecado nossa dor.


Diz-se: Deus não é mau,
não criou o mal…
também não criou tudo que é abismal.
Apenas o que não tem explicação,
porque o amor é universal.


A Deus eu chamo Amor,
ao Amor eu chamo Deus,
Deus somos todos nós,
enquanto houver Amor.




















segunda-feira, 12 de março de 2001

ACREDITE QUEM QUISER VER E OUVIR SE SOUBER







Baixa da Banheira, verão do ano 1980.


ACREDITE QUEM QUISER
VER E OUVIR SE SOUBER
 
 “O que mantemos oculto é responsável por atrair os outros até nós”
Hospedado na Baixa da Banheira, morava num 1º andar.
Dormia num quartinho, tapado apenas por uma cortina branca transparente que dava para a sala de estar. 
A única porta, ficava ao meio do recinto a cinco metros da minha cama e dava para a varanda, iluminada por um candeeiro de rua. 
Naquelas noites de verão, bem quentes, era costume deitar-me às duas horas da madrugada. 

O calor era muito e o andar muito quente. 
Subi as escadas, abri a porta sem fazer barulho, e no corredor passei pelo quarto da senhoria que dormia. No dia seguinte, de comboio para Palmela, começaria mais um dia como escriturário-dactilógrafo no Estaleiro da Subestação, EDP. 
Ao deitar-me, tapado com um lençol branco, virei-me para o meu lado direito e quando me preparava para adormecer – ouvi uns murmúrios esquisitos por cima de meu rosto, e ao mesmo tempo indescritíveis, porque não os consigo descrever com exactidão por palavras. 
Só ouvindo e vendo como eu presenciei naquela noite, sente-se sem saber como, que estamos perante um mundo dentro de outro mundo, que há vida para além de outras vidas, que há um lugar melhor e outros piores - bem negros.
Olhei para o alto, e dezenas de vultos fantasmagóricos todos de negro, esvoaçavam por cima de minha cabeça andando às voltas uns dos outros, delgados e ondulantes como se estivessem dentro de um tecido preto, virando e revirando de direcção com uns olhitos esquisitos, única prova do que parecia ser humano errantes de um andar perdidos, tal e qual como se imita o terror.


Não se calavam… e se aquilo era falar, tinha qualquer coisa de sinistro, pareciam murmúrios em tom de protesto mas não entendi nada. 
Que arrepio… mesmo que falassem um de cada vez, com o susto que eu estava, parecia-me diferente das chinesices… e se vozes não eram, além… eram sílabas com espinhos e silvas, esquisitices… perplexo com o que se estava a passar, belisquei-me. 
Estava mesmo acordado. 
Ao olhar para a sala, vi também toda de preto, sentada de frente, olhando para mim, um corpo forte e um rosto vazio… sem olhos, uma cavidade profunda, a boca do inferno… talvez, donde saíam por certo aqueles espíritos inquietos.
Era exactamente os contornos e a figura da senhora (médium) que dormia num quarto ao lado do corredor. 
Fiquei ainda mais arrepiado, e acho, que naquele momento me podia ter caído qualquer coisa ao chão da cama, se não estivesse pendurado o meu medo interior…
Tapei-me com o lençol e adormeci lá não sei quando... com um zumbido no ouvido, tal e qual um barulho dum insecto vivo rondando, maior que um gigante moscardo negro, menor que o espírito preto.












segunda-feira, 12 de fevereiro de 2001

A BUSCA DA ETERNIDADE





/EM SANTARÉM/


A BUSCA DA ETERNIDADE





"Sentindo o vermelho viscoso queimado, um calor no corpo todo, foi como se tivesse atirado, deitado a alma fora no ar solto. Caí em cima da cama, adormeci num ápice tal e qual, perdi os sentidos e vi uma iguana… 


Senti uma chama como fogo devorando meu espírito, voltando à minha posição fetal, todo encolhido, sob o olhar do camaleão... lambendo minha mão.
Sonhando, ou vivi, dei de caras com a minha personagem, com o rosto de mim.
Estava ali à minha frente na imagem…e então vi… éramos dois iguaizinhos a um, se tirasse o real por entre o sonho, ficava a realidade a sonhar e um de nós não via outro nenhum, a não ser fantasia no olhar sem rosto clivado como um ombro, com olheiras negras… de meter medo ao espelho das incertezas – um monstro.
Viajando dentro do corpo, o sangue correndo de artérias viscoso assisti quase morto à seiva subindo e descendo naqueles vasos esponjosos, de tanto encarnado porosos inundando toda existente ramificação, pulando vivo cem por cento no ribombar ensurdecedor do coração batendo na sombra… como o tambor da bateria no som “baixo” nada “grave” e violento, como uma bomba.
Viajando fora do corpo, elevando minha alma lá no alto, via-me deitado na companhia de mais corpos, todos cheios de estrelícias dourados, da família dos musáceos como cachos soltos.
Meu espírito observando também sonhava, estava sob efeito na forma de anestesia, e nunca pensou que algum dia sua espiritualidade se embriagava, mesmo apartado da matéria viva.
Vivi sonhando, morri vivendo de vez em quando…"


«««


Acordei pensando no sofrimento voltando aos meus sonhos vivendo. Vivo o anormal, e não consigo estar acordado se fujo do que não gosto… o mundo é demasiado evidente, tosco e pachorrento.
Quero dormir o sono eterno da saudade, tudo o que eu vivi quando fui amado.
Sonho que estou a ser embalado pela espuma doce do mar, morro nascendo no passado insano…
Com o sangue fervendo - não quero acordar, mas o choque da fatalidade que me cerca, e o que sendo não sou, é uma verdade insofismável, e desperto como um amofinado da morfina para voltar desinteressadamente à minha forma rotineira... 


O que me mantém vivo nem eu sei porquê, senão a espera contínua do desconhecido aventureiro suicida. A  minha salvação se é que ela existe, reside apenas num principio comun e banal - ser compreendido. Parece ridícula esta palavra como ridícula é a minha vida aos dezanove anos, depois de sair da terra e das pessoas que mais amei, substituídas por outras que possuí e deitei fora sem me aperceber da indiferença dos meus actos.



A mudança que eu tanto anseio, a compreensão que espero de Deus, será o descanso da minha alma junto dos seres que se encontram no abraço da sua eternidade... o desejo e o encontro onde reside a minha felicidade.