/NA VILA DE TÁBUA/
OUVIA
AS ÁRVORES FALAR
Esse pinhal
era extenso, alto e denso, misterioso…
Todo vedado
com arame farpado, parecia um mundo novo ali ao lado.
Quando passava, pelo canto do olho procurava não olhar, mas era impossível
resistir. Já antes ouvira as árvores falar e nos meus cinco anos de idade, com
quatro e até com três, sempre andei comigo mesmo por sítios que era impossível
imaginar…
Sentia
protecção de algo que me guardava como anjo de asa.
Não sei se
era da minha tenra idade ou da inocência da alma, eu tinha uma vontade para
além dos olhos da humanidade, que me faziam caminhar ao encontro de lugares
misteriosos e mundos naquele flanco, como esse pinhal.
Tudo me parecia
normal, não sendo não era natural… mas eu gostava de ouvir as árvores falar,
por isso, entrei… um portãozinho à medida do meu corpo, com a lista do coração
e que nunca dera entrada a ninguém, nem presença de existir.
Aquele lugar
já não era um pinhal.
Olhei antes de entrar, para me situar da entrada daquele caminho, entre a minha
casa e o interior daquela terra firme, ainda não explorada…
Então
embrenhei-me floresta adentro com pouca claridade, raios de sol por entre as
folhas, borboletas a esvoaçar reluzindo luz nos meus passos.
E então as
árvores continuaram a falar…
Os ramos a
dançar e as folhas brincavam ao vento e eu contente com tanta alegria, corria
atrás das folhas que voavam, os galhos que me abraçavam rodeado de feixes de
flores, os troncos que me transportavam com mil cuidados para não cair… e se
aquilo era a beleza, o paraíso, o além do bosque… eu gostava do sítio, era tão
divertido.
E sempre que
ali passava, ouvia as árvores falar…
Estavam a chamar uma voz que compreendiam.
Ali existia a eternidade, a perfeição, não havia o morrer nem a mudança de
outra árvore, o cair da folha, o raiar de novo dia, mas precisavam de outra
árvore para falar… para copiarem os sons da vida, criar ao nascer e sorrir no
sonhar para haver mudança na criação, e o tempo não ficar parado.