quinta-feira, 10 de maio de 2007

O POETA BORRACHÃO





O POETA BORRACHÃO





Aquele corpo oscila entre o ereto e o vacilante… avança, pára dançante, se inclina... fazendo vénia ao Deus Baco, fala como quem quer sorver… vacila para tentar compreender, mas o cérebro delira como quem sonha acordado.
De pé, procura a dignidade… /Sai um arroto com densidade/, pede desculpa com educação. Empertigando o dedo… jura que são modos com imprecisão, coisas que não controla, que a culpa é de estar encharcado no soro da verdade.

Não sabendo fingir de tanta sinceridade… nem querendo ser malcriado recitando, não deixa de ser poeta. Feliz no aturdir, lá vai a cair na saudade o poeta borrachão com soluços no coração.
De lágrimas em pinguinhas imita a comoção cómica que lhe vai na alma. 
Submerso solta quadras às avessas. 
De tanto trocar o verso… jura, benze-se… tropeça, e novamente pede desculpa de trocar o passo, tombando no chão de barriga pró céu.

Entorpecido, o borrachão poeta de cara virada para as estrelas… sorri àquela lua... e a ela declara o seu amor por ser tão bonita, que é com toda a certeza a Deusa mais bela por quem ele alguma vez se apaixonou. A única vez, claro, porque é sério quando faz versos à sua musa, e porque é filho duma mãe por quem sente ternura... ou se sente ou não se sente... mas nunca mente.

Seu último olhar é pró firmamento, feliz de piscar os olhos àqueles pontinhos mágicos como se fossem chamas de velas perdidas naquela escuridão celestial.
Ainda solta um último verso decadente… ao sonhar com anjos tão belos de formas reais...

Seu corpo acolhe a estrelada noite de verão.  
Contente, devaneia o poeta borrachão… e adormece sonhando com o abraço das estrelas, naquela calçada de pedra como se fôsse a cama mais quentinha do Universo, e o céu... o lençol do seu mundo.

















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