quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

TEUS OLHOS






TEUS OLHOS






I





Teus olhos é o desejo do espírito que há em ti, âmago do ser preciso, no sorriso desenhado em tua boca, é o andar à solta que me enlouquece na sua dança, as pupilas diamantes chispando fogos como teus olhos… 
Os teus olhos são lindos!
São morangos maduros à espera de ser colhidos, framboesas para sarar tristezas e salada de frutas para acalmar as grutas do fígado.
Olhos teus, é fogo no meu coração que tem Deus como chama de tua paixão.
Teus olhos são a minha assombração, são dores de olhar só para eles com o coração, são punhais cravados na alma, são dores que fazem explodir minha carne dilacerada… porque não são meus.
Teus olhos são a minha felicidade e o meu sofrimento, são ânsia de encontrar os teus frequentemente, são um viver de existir sem o teu consentimento…
Interinamente são chama que me devora por dentro numa qualquer hora e me deixa morto por fora… incipiente, como o inferno dum deus mortalmente quente.


II




Teus olhos são doces de mais, porque me fazem sonhar com entes belos e ancestrais, dizendo que posso sentir na cumplicidade do pensamento o existencial momento de dois corações batendo ao mesmo tempo.


Teus olhos são doces marotos, atrevidos e loucos quando gostam de outros olhos neófitos… por seres encarnadinhos como a melancia, pareces uma boneca menina com chupeta, saia e cuequinha. 
Noutras eras foram séculos… e agora a nova oportunidade por entre batimentos de sangue sinceros, juntar dois corpos na vontade de amar, e morrer na eternidade de paixões imortais.
 As saudades a mais, que teimam em não deixar de ser avoenga e agora passado, não passam de uma lenda. 
Corações apaixonados, por vezes aflitos do estranho amor bendito. Se dum sobejam os olhos, não embusteiam e os gestos são sinceros, há deles incontidos vislumbres de quem não consegue deter os ciúmes, mas a voz meu Deus!
Perseguem os meus…


III




Dizem sempre o que os meus deuses temem… fugir do segredo, porque meus olhos não conseguem evitar o tremer de medo… 
Há só uma verdade no meu coração e a vontade de amar como um vulcão, mas o destino teima em por no meu caminho o óbito da minha vida – é como sorte descabida, e o viver numa agonia.
Na realidade devia desistir, amortalhar o sentimento numa pedra tumular, deixar de sentir, aferrolhar cá dentro… porque só sei amar, quando devia escapar de teus olhos.


Teus olhos me perseguem furtivamente, dão sempre uma incerta esperança, prolongando a inexata ânsia, de quererem o que não querem falsamente.
Com tantas incertezas, não sei verdadeiramente o que é certo ou errado. 
Procuro convencer o esquecimento das únicas certezas, mas logo vêm teus olhos caçando sem piedade olhos meus de meus fados.
Assim que vejo teus olhos em meu domínio, arrebatado, por mais que não queira, não consigo – tu és o meu ser enfeitiçado, e a minha deusa feiticeira.


IV




Já não tenho vontade própria.
Quando batem à porta… logo vou a correr, com meus passos no ar como um poder, e sinto naquele espaço uma mão morta que não interessa apertar… 
E isso que importa?
Se dedos não agarram porque se vão embora… é que eu adormeço na cadeira e sonho a toda a hora, com pesadelos no olhar de teus olhos, e nas fibras do meu ser angustiado, vejo tua ideia como um pandemónio cravado na esteira da minha alma.


Quem me dera acordar com calma, e ver teus olhos na realidade a sonhar com os meus de verdade.
Sem comando de mim mesmo… sinto-me escravo teu, mas se disseres para me afastar, eu não hesito, nunca mais encontras meus olhos, teu coração sai de mim, mas não vai embora amor de ti.
Tentei dar-te o que existe nas estrelas de esferas douradas, parte da minha eternidade guardada para quando chegar o momento, beberes uma gota de sangue sagrado, ao seguimento da tua seiva… ser amado, e caminhares comigo pelo tempo.
Pus no teu regaço glóbulos de flores de cor vermelha para que idolatres o cálice santificado sem nenhum outro meio, o milagre que depositei em teu coração, amor no teu seio, e quando acordares… sejas sincera quando gostares, é só o que peço mesmo que não ames, e ser amiga mesmo se não amares.


V




Quem me dera ser habitante do gelo!
Meu coração por dentro, não saber o que é sentimento, gostar do belo ser, fazer amor como um cavalo branco, erguendo os membros ejaculando, o gelo a derreter ao diminuir…
E esquecer, não saber o que é sentir, muito menos sofrer e os dentes sorrindo só por ter prazer, sugando os últimos restos de seiva, com lábios e línguas num frenesim numa acesa fogueira, e depois esquecer infindas noites sem fim.
Faca espetada no coração que mata…, mas não sangra, jorra sem data, mas continua esperança. 
Pior que desligar o interruptor do Universo, desaparecendo o mundo exangue, como um vampiro à espera de beber teus olhos em taças de vermelho vivo, sugar todo o teu ser palpitante reencarnado em meu paraíso de alma, quando o amor é recíproco e vive em dois corpos como uma só vida.
É o sonho de todo aquele que ama mesmo que não seja correspondido. 


O sofrimento encarcerado como agulhas espetadas no coração não é sentimento, não é coisa que se deseje… resta a consolação de - quem ama sente, porque a verdadeira amizade também é uma forma de amor, mais pura ainda na maneira de sentir embora ausente na carne, existe o princípio e a fidelidade, um como desejo e outro com vontade de sentir esse mesmo desejo e ser infiel sem que dê por isso.



VI




Toda a claridade tem um pontinho minúsculo que inicia seu brilho indelével e visível só ao alcance do olhar humano, de quem ama e sofre por amar tanto ou por não ser amado.
O amor tem asas e só vê o que quer.
Lá da alta procura, procura… vive só para ir ao encontro da chama que dá vida ao seu ser, e falece por dentro se não a encontra na sua busca, com uma dor alucinante que põe num estado indescritível parecido com o fim, quem sente assim desta forma. 

Não sei bem o que é porque ainda não caí… mas sei sem saber que estou quase lá, sem vontade de aparecer ao olhar do mundo como ser vivo… que preciso de teus olhos para continuar a viver, única forma de continuar, de que ainda não cerro e ainda existo. 
Embora saiba que já não tenho força, não compreendo porque espero partir… por não poder passar sem teus olhos?
Ou por não poder viver sem ti?
Posso?
Talvez, mas… deitado numa salva de prata... embalsamado juntamente com tua alma.

Creio que não posso viver sem teu espírito, enquanto estiver neste estado latente porque minha existência já não me pertencia… e agora sinto-me vivo dentro da morte.



VII




Em teus dentes perfurantes acabaste de sugar restos de sangue como um ser empírico, e em vez d’asas xenófoba, duas vezes em vez duma, esvoaças pela janela da lua naquele brilho de alma póstuma. 

Vais pela vidraça não existida e apareces danada como uma vampira.
Meu corpo exangue nunca sentiu esta hipnose… numa sonolência em droga pura, noutra linha da vida por outra porta curta, aquando do primeiro grande amor … pensava eu nunca mais ter alguém dentro de mim assim. 
Engano surpreendente… como o amor pode ser renascido e a chama ir redobrada em ação, vivido, ao renascer diretamente do coração, para outro sentido do mundo.
E o que há antes deste… este, será para sempre injusto.


VIII




Os olhos não mentem… acho eu, não sou dono da certeza.
E os teus, sempre disseram há anos que são iguais aos meus, são dois espíritos que se amam e eles entendem-se porque gostam um do outro.
Não adianta submeter um a dizer que são amigos.
São amigos nos corpos, mas as almas amam-se.
Esse amor vem de outro mundo, e se conhecem há séculos… quando os corpos descarnam eles procuram-se como íman conjunturais, porque são amantes imortais.
O amor está nos corações e os olhos sentem quando se olham…
Os olhos não mentem, amam.
Têm chama e chamam pelos olhos.
Os teus olhos vêem isso nos meus porque desejas inconscientemente esse amor…
Sei, tu sabes que os teus olhos são amantes dos meus e como todos os olhos têm ciúmes se sentirem que alguém se quer apoderar deles.
A minha alma é tua, a minha vida é tua, os nossos corpos são amigos, o meu amor é teu, eu dou-te tudo…, mas os teus olhos são meus, porque os olhos não mentem.
Se ao chorares pensas que estás com pena de mim… é de ti a tua pena por perderes meus olhos e nunca mais os encontrares no teu mundo. 

Medo de perder, partir sem te conhecer, nunca mais há duas vezes.
Neste só se vive uma vez, no outro é para
sempre.

















domingo, 11 de dezembro de 2011

NATAL DOS MEUS AMIGOS



Para o waf, que considero todos amigos.
Para ti Jane, alma parecida,
à Sol Geo professora de coração,
Para ti minha querida Ina!
Minha amiga Jacira…
Para ti miga Maria ali à mão.
À minha prima Marlene e família
minha saudosa poetisa Giza
Filipa Andreia dos esquecidos
E outros tantos que de mim se lembrarão
Serão o Natal dos meus amigos.





NATAL DOS  MEUS AMIGOS





Por entre paredes
à vista do ecrã
teclando segredos de redes
 
À solidão da mesa
 
Traduz rosto sem amanhã
vazio dos sem abrigo.
 
Àqueles cujo problema
não sabem que o desconhecido
é a sua própria tristeza…
 
Amor maldito!
Que andas na profundeza
durante a noite e a manhã
o ano inteiro perdido
 
Fazes do natal um talismã
e num só dia dos seres
o afecto dos deveres.
 
Para outros amigos?
Aqueles que são puros natais
para eles, os dias todos, são iguais.
E o Natal todos os anos seguidos.
Para outros mendigos…
 
O coração cheio de carinhos
como se fossem alma e beleza
Natalmente os filhos da natureza,
o findar por arrasto parece normal
e o princípio, naturalmente Natal.
 
  

24.12.2010




domingo, 6 de novembro de 2011

DE SARAMAGO E DOS CIENTISTAS







DE SARAMAGO
E DOS CIENTISTAS
"CRIAÇÃO"
  
 *





(De Saramago)
Deus é um sentimento humano, ou seja, criação dos homens e mulheres que habitam o planeta.
Agora o uso que se faz desta “criação” é que é um absurdo. Com certeza, o mundo seria muito melhor sem estas imposições mentirosas com propósitos escusos.
 
1º VÍTOR A SARAMAGO
Não basta o sentimento de homens e mulheres, há a evidência dos espaços qualqueres … olhares infinitos que se perdem em brilhos esquisitos, de sois iluminando planetas parecidos com estrelas… as bolas de massa espalhadas como argolas nos sistemas, a perfeição dos mundos
com o toque de luz que é isto tudo. . . e não um senão apenas.
 
*
(Dos cientistas)
Há uma intenção na criação do Universo?
Muitos cientistas acham que sim.
A mente humana talvez contenha mais mistérios que o próprio Universo.
 
2º VÍTOR AOS CIENTISTAS

Se Deus é o mistério de tudo o que vive, e até da rocha que transforma a flor num jardim, o maior segredo será da existência da gente, com essa massa que é o prodígio da mente, onde nada é o imenso que o intelecto alcança, só possível à raça humana.
 
 
Ser cientista não é saber achar,
concluir que as estrelas se podem amar…
Melhor seria, terem a certeza de tudo…!
Mas que finito, aborrecido, seria o mundo.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

A MÃO ABSTRACTA







A MÃO ABSTRACTA



Com o polegar, se abraça o indicador e o médio, capacidade de tocar o mínimo e o anelar, maravilhosas extensões de assédio que não conseguem ficar madraças, tal o vício do toque inquietas, impossível ficar paradas… 
São o sentimento dos poetas, e a mão amada com versos… os dedos, pergaminhos e desenhos de arquiteto que tornam belas as terras. 
Os lindos dedos de mulher com anéis e pulseira que adornam carinhos de mãe, eternas amantes como Deus quer, fiéis de alma inteira como companheiras de bem. 
As mãos que transformam a arte em fama, que nos fazem sentir a beleza com amor, amar com chama e sem dor, ou matar na guerra!
Viver com ódio assassino! 
Matar maligno, cujos desígnios são do profundo inferno da terra… os dedos cheios de ouro calçados com finas luvas e de gestos efeminados, segurando a bengala prateada forrada com couro e terminada em calços dourados.
A mão que nada usa de unhas negras e calejadas, e anda de mão estendida querendo enganar a pobreza e a fome na miséria duns cobres, triste vida e almas sem nada. 
A Mão Abstrata - mago do cosmos, chega na hora exata… parece magia.
Uma pintura de Picasso com traços tortos e o decifrar misterioso do enigma, dão àquele punho o carimbo do artista…
Traça uma mancha preta imensa, tão negra que parece não ter fim de tão densa, com cubismos brancos e um rasto de tinta aos solavancos, cria um espaço que mete medo…
Umas formas redondinhas como sistema, um azul do planeta e uma cor laranja solar estorricado pelo segredo…
Sobressai um azul mar e um azul luar ao aumentar o azulado, dá a luz incidindo na criatura e logo outros traços arrebatados trazem espécies aos saltos com pintinhas como luas…
Naquele borrão dos dedos e unhas… inventa um Deus no cimo com uma cara… põe-lhe um título de gesso a descoberto… escreve A Mão Abstrata – Universo.