terça-feira, 11 de abril de 2006

EU NÃO TENHO OUTRA





/1984 - Propriedade e
vacas do Palhas, Porto Alto/




EU NÃO TENHO OUTRA







À minha maneira perdi a cabeça, bati com ela nas estrelas...depois a tristeza, raiva das perdas…e da perdida bebedeira.
Já tinha bebido uma grade inteira e quase tudo era cerveja.

Enfurecida a amada da minha vida, por fugazes amores que tive sem importância, repeti arrependido:
- Tu não acreditas?
Disse com expressão arrependida usada pelos inocentes:
- Juro, eu não tenho outra!

Seu grito sufocante rebentou como uma bomba. E do céu um trevo da boca como um fundo dum cume. Primeiro, em salivado azedume, depois assassinando a raiva, saindo um pouquinho de ódio e de certeza, talvez ela saiba…que o ódio não passa assim que a modos como o amor seguido do ciúme.

Ao voltar a mim… fiquei desaparecido no infinito. Não consegui sair de lá.
Disse:
- Sim, arranjei o bonito!
Maldita a hora em cima da mesa!... esqueci da minha agenda...

Deambulando pela noite, perdido, dei um passo atrás…não valeu de nada se fosse… no pasto, ao pé dum boi atiro fora a vigésima bejeca de vidro indo junto com o arroto do pifo, e fiquei eu a pastar nas ervas rodeado pelas poças das merdas… cabisbaixo, de tanta cagadela e dor.
Muito cagaram aquelas parvas!
E era tudo caca de vacas.

Coisa que brota fora… servo da angústia perdida com coração de som dilacerado fiquei com cara de parvo!
Sem remédio, vim-me embora. Depois, talvez sem ver saída…

Que estava eu à espera?
Meus olhos quadruplicavam… cornos que nunca mais acabavam!
E via tantos à volta da minha cadela… dei um passo pisando com a bota uma merda que era uma bosta, enterrando até aos tornozelos aquela caganeira de grelos.

Furioso, gritei como estava :
- Filhas da puta das vacas!
Já não bastava enganar uma?
Diga-se de passagem, que não era… e aparecia estas grandessíssimas putas, borrando a quem nenhum mal fizera.

À minha maneira perdi a cabeça, bati com ela nas estrelas... depois a tristeza, raiva das perdas…e da perdida bebedeira.
Fui-me deitar a pensar nela… acordando com o cheiro de tanta merda…



















sábado, 11 de março de 2006

ENCONTROS






ENCONTROS





Os mundos a par
de submundos fantasmas
dos passos nossos,

Por outros caminhos
ilhas do mar…

São triângulos da vida
incolor alma
espírito de mim.

As sombras,
os germes,
no lado qualquer
de nós juntos….

O traço da face
perpetuando a lenda

A mão em vértice
na ponta de giz
e as tribos
do lado de cá…?

Se vão mudáveis
infinitos…

Em vãos desígnios
incertas paragens.