Nesta quadra de 2016, lembro-me sempre dos seres humanos que mais impressionam
profundamente o meu coração.
Por eles passei dezenas de vezes sentados ou deitados nos passeios da Baixa
de Lisboa…
Por eles passam centenas de pessoas indiferentes à sua solidão,
vestidos de trapos sujos, mas de alma limpa.
Nos dias quentes, apáticos à queima do sol acumulam o calor para sustentarem as
noites frias.
Os olhos mirando o abismo profundo da tristeza sabe-se lá em
que direção da sua alma negra… seres humanos abandonados à crueldade do mundo.
Ao passar por Eles, senti tantas vezes calafrios na espinha, uma angústia
desmedida por eu próprio me sentir impotente face ao sofrimento destes
abandonados.
Noites de Inverno, num frio indescritível, vê-los assim…
Embrulhados em papeis de jornais, deitados numa cama feita de
cartões, tentando dormir ao fundo das escadas do metro, de ossos tremendos do
frio,
de gemidos e dentes tilintando uns nos outros, com o corpo
enrolado na posição fetal… são estes bebés do mundo a quem nós damos o epitáfio
de Os Sem Abrigo.
Nesta Quadra de Natal, em todas as Quadras do Natal, não sinto,
nunca senti alegria, nem compreendo como alguém pode sentir… ignorando este
e outros mundos desoladores.
Os sorrisos, as festas, os egoísmos, de indiferença pelas almas
pelas quais passamos…
… um dia teremos o mesmo destino em todos os meses do ano, e não falo
em Deus… mas na nossa consciência todos os segundos do tempo que nos fará
sentir o carrasco das nossas almas.
Um Bom Natal para todos.
Um Bom Natal para ti, minha querida mãe.