A ESFERA
O ANEL CIRCULAR
Uma galáxia de
biliões de estrelas… são sois luminosos formado de plasma, pressões e muito
calor produzindo fusão nuclear, que nos pontos extremos à medida que se
aproximam… formam círculos.
Com nebulosas e
aglomerados estelares unidos pela gravidade e girando em torno de um centro de
massa… transformam-se numa bola.
É um
sistema astral composto de numerosos e variados corpos celestes, sobretudo centros estelares e planetas,
com matéria gasosa dispersa, animado por um
movimento harmonioso como um anel circular… dispersam como esferas.
E tudo
espalhado por Sistemas Solares como bolinhas num Grupo Local seguindo pela Via
Láctea, vão parar a outras tantas galáxias satélites como a Andrómeda de
espiral redondinha, que também usa o núcleo que está no centro do método com a
forma de esfera achatada, de órbitas radiais e o halo esférico constituída por
partículas ulta excitadas em temperaturas elevadas por anãs brancas e
aglomerados globulares, que fazem eixo de rotação em torno do centro da massa
galáctica.
E isto para
circular que os mundos são todas periclitantes bolinhas no infinito,
redondinhos universos em circulozinhos como uma Esfera.
LULUPITE
Apesar da sua
tenra idade, a mente tinha poderes que homens nem sequer sonham, só os filmes
de ficção inventam, e as pessoas nunca se atrevem a pensar que por parecerem
dias impossíveis com milagres, se tornam hoje… o amanhã da realidade.
- Sua conceção
do lugar onde tivesse agido sua recordação, por lá ter passado, o corpo era
levitado ao local exato sem nenhuma falha, se isso fosse sua vontade.
Daí a
facilidade com que se ausentava de casa sem que seus pais se apercebessem… ora
aparecia numa montanha em segundos saindo de seu quarto, ou em outros lugares
elevados sempre mais perto possível do céu estrelado, bastando para isso focar
uma foto numa revista ou seguir as imagens do seu TV – como por artes mágicas
aparecia e desaparecia em lugares tão distantes uns dos outros, apenas num
fugaz clique do pensamento como um breve estalar dos dedos.
- Depois, seu
intelecto conseguia sem emitir nenhum som, falar telepaticamente com qualquer
espécie por mais inferior que seja, lendo e antecipando seus pensamentos.
- Além disso,
era dotado de uma super audição… conseguindo ouvir a quilómetros de distância,
desde que o conhecimento do lugar ou pessoas existisse no local exato.
A
TRISTEZA...
Lulupite vivia
numa nostalgia intemporal e num sofrimento contínuo, porque sua presença era
escassa e infeliz… deambulando à noite sempre sozinho pelo imenso Pinhal,
hipotecava arraiais de angústias no olhar prisioneiro das estrelas…com grande
melancolia de espírito.
Lá num ínfimo
pontinho segundo o seu instinto, algo lhe dizia que era a sua Esfera
planetária… e então, sentado vezes sem conta, fixando o tremer do seu coração
pelo regresso a casa, veemente desejo ansioso, batia num ritmo cardíaco quase
inaudível com um timbre tão desgostoso… tentando imitar mentalmente como os
poetas da Terra (que ele admirava mais que qualquer outra ciência) o que lhe ia
na alma extraterrestre… cantando poeticamente a aparição na Vila de uma menina
tão bela que estava à janela.
Seus olhos eram
verdes intensos (da cor do seu planeta), mas tão inexpressivos que dava por não
saber o quê – arrepios… tão profundos como abismos sem definição dos seus
muros, bloqueados pelos mistérios da sua alma numa imensa tristeza.
Lulupite sentiu
pela primeira vez na sua vida, ali, naquele momento, uma chama intensa que
abrasou intensamente seu coração, uma luz embalada por dois anjos, guardiões do
sentimento mais lindo que alguma vez experimentara – O Amor à primeira vista…,
mas os cabelos louros e a maravilhosa fisionomia daquela criança, não
disfarçavam a tamanha grandeza do seu mundo triste.
Estou triste
como a tristeza
de imagem embaciada
E ainda mais triste…
Quando a causa
da tristeza
não é curada.
Com uma tristeza
de estar triste,
estou triste,
muito triste…
Estou triste
e a tristeza
está amofinada.
Vi a tristeza à
janela
tão triste e
arrufada!
A
ESFERA DE VIDRO
Um dia
passeando pela Vila, viu numa vitrina algo que lhe despertava reminiscências do
futuro - descobriu no telescópio da sua mente a fórmula do seu mundo.
Hipnotizando o
olhar naquela montra com suas tenras primaveras, estremeceu da cabeça aos pés
como se fora atingido o centro fulcral de revés - ele queria aquela esfera de
vidro, com gente e mapa das estrelas escrito.
Ficava horas a
sonhar com o fascínio daquele globo…
Havia um mundo
pequenino que vivia dentro do cérebro redondo.
Aqueles
anõezinhos pareciam vivos… tinham um não sei o quê de parecidos.
Na véspera, foi
à chaminé das estrelas pedir ao Papai Duende que lhe desse a sua gente do
envidraço… o mais belo presente que lhe podiam ter dado.
Foi o dia mais
feliz da sua vida!
Lulupite não
via maneira de chegar o dia…
À noite,
deitado em cima da cama, a cabeça apoiada nos cotovelos sobre a manta, a
satisfação das pernas cruzadas ao alto dobradas pelos joelhos, os olhos fixos
no seu mundo de vidro aos beijos… senão fora à força de tanto olhar no seu
sonho desperto, atravessando o portal que lhe dava acesso, entrava num ápice
pela porta do seu Universo.
E era mais um
anãozinho aos saltos, brincando e correndo com alegria.
Ninguém sabia…,
mas aquela bola era mágica como uma lâmpada do Aladino, e o segredo era a alma
da sua magia, a passagem por Marte até ao seu destino.
Passos que soaram no
asfalto
surdos sons do
passado…
quimeras de flores
em espaços
que destoam em
plenos contrastes
entre silvas de
verdades.
Pelo chão de piso
quadrados
com tábuas aos
bocados
inundando filas
esbranquiçadas
de teias espalhadas,
são capa de pedras e
restos
aqui e ali uns
segredos…
e se foram no tempo
destruídos.
E aquele lugar
desconhecido
Outrora formas apenas
embora existissem
dezenas…?
Permanece esquecido.
A
BORBOLETA
Lulupite vive
com aquele ar de interrogação que é característica das crianças de sua idade,
visionando tudo o que o rodeia com olhos sonhadores.
Amando a
natureza com suas pegas voadoras, intercetava com a sua intuição e poderes
todos os seres vivos que pulavam a cerca da vida, e não podia deixar de reparar
na Arctiidae, de pequenas com asas alongadas a robustas em triângulo.
Estava
fascinado com os sucessivos estados deste animalzinho e interessado na sua transformação, tendo como transição a morte
e o renascimento do Sopro Vital, regressando à sua individualidade como ser
rastejante, andando pelo chão para se tornar lagarta… luta para sair do casulo
depois de ser crisálida, voando com suas asas brilhantes de simples amarelo ou vermelho
laranja até padrões variados de brancos e pretos nas asas anteriores e
posteriores, tendo como visão a terra lá do alto numa espiritualidade que lhe
dá a paz do céu na sua viagem em liberdade.
Lulupite via os
humanos nessa mudança todos os dias na procura de serem melhores, morrendo e
nascendo livremente com asas coloridas como a metamorfose da borboleta.
Por entre asas
coloridas
pelo meio das flores
Promete se fores…
há o lugar ermidas.
Voam espécies quatro
asas
de escamas finas
Transparentes
cortinas
ao sol violetas como
brasas.
Larvas
de seu casulo
lagartas
Metamorfose trombeta
bicho-da-seda…
Asas brilhantes num
pulo.
NINHO
DE PASSARINHO
À noite,
apoiando o cotovelo na janela do seu quarto e o rosto no punho da sua mão, por
entre o chilrear dos grilos, o coaxar das rãs, e os pirilampos do campo,
Lulupite concebe todas as estrelas que encontra no seu raio de visão como
mundos que vai inventando no País das suas Maravilhas.
De manhã,
acordando ao raiar do sol, um beija-flor poisa na balaustrada da janela e
convida Lulupite a segui-lo… que sondando o cérebro da ave capta uma onda
pessoal que a identifica onde quer ele vá… este, com o poder de se transportar
sorrateiramente, embrenha-se pele floresta numa determinada zona recatada onde
o pássaro poisa.
Ali, erguendo o
rosto, vê maravilhado nas copas das árvores fronteiriças várias espécies de
aves com seus tons coloridos numa grande azáfama, introduzindo nos bicos
esfomeados e frenéticos restos de alimentos frescos, enquanto outros voando sem
sair do mesmo sítio desafiam Lulupite a subir para ver seus ninhos bem
construídos ou a escutar suas cantorias que eram autênticas valsas trauteadas
por goelas de orquestra.
Por ali ficou
maravilhado e perdido naquelas belas cantorias, ganhando alguns amigos poisados
nos ombros, cabeça, e na palma da mão beija-flor descontraído pediu a Lulupite
um abrir dos dedos para a sua poeirita de caca cair no chão, tal era a sua
alegria e a indigestão de minhocas.
Pegando num
lápis e um bloco de notas, logo ali arranjou matéria para fazer uns versitos
àquelas voadoras de asas resplandecentes tão simpáticas, pois no lugar donde
era, não existiam animais de espécie alguma… só árvores enormes verdejantes,
rochas e muita água de nascentes… semicúpulas protegendo cidades e gentes do
seu planeta Nadgarden.
Ninho de passarinho
é só abrigo
qualquer refúgio…
Amparo
agasalho,
proteção,
subterfúgio.
Gaiola de caixa
aberta
virada para o mundo…
olhitos no
bico da fome
pia de goela inquieta
tudo engole…
Passarinho
sitibundo.
SABER QUEM SOU
Sonha com
fadas, príncipes, anõezinhos, animais bizarros e vozes humanas (que de humano
não têm nada) … cidades mágicas que vêm com a noite do espaço, onde a
imaginação criada com a verdade, transforma a ficção na realidade.
Então, Lulupite
que nada deixa passar e que tudo passa sem que por ele possa passar, tudo
avalia ao pormenor como estudo, numa mente que lê o mundo… em toda a parte no
momento e ao mesmo tempo sabe tudo.
Seu planeta
Verde numa galáxia distante é um Centro periférico quase perfeito, porque tudo
que existe por mais belo que seja, tem sempre a fraqueza da imperfeição – é ser
vivo e ter que acabar… por mais que viva em vida o que viveu, terá sempre que
esquecer que morreu e não se passou nada.
Lulupite, como
todas as crianças do seu meio, assim que se revelou, aprendeu logo a comunicar,
e ao fim dum ano como um raio de inteligência alucinante atingiu a maior idade,
e nunca se apercebeu que o conhecimento do seu génio era um ato natural e
poderoso, que na Terra só existia igual (falsa modéstia) quando praticava
milagres traduzido em versos experientes, tentando explicar o que sentia como
os poetas… desvendar o início do saber como a tinta da caneta e os dedos
sonhadores do coração… que tornam os astros belos com o sentimento da beleza, e
por fim, para todos nós e outros todos que desconhecemos… ficará sempre um
ponto (?) de interrogação.
Para ti!
Estranho que amas…?
Sob qualquer noite
de mil pontifícios,
se inventas refúgio
Saber quem sou?
Define quem és.
Para ti!
Desconhecido que
chamas…?
Ao veres flama
luzente…
Saber quem és?
Define quem sou.
SOU
E assim, entre escuridão e pontos faiscantes, Lulupite
ia vivendo hipnotizado em dimensões paralelas, seguindo o rasto das bolas com
caudas de fogo, e seres com asas na companhia de espíritos e fantasmas que
passeavam no vácuo das avenidas sem fim, em estradas infinitas, viajantes do ar
alados, de passos semelhantes dados no chão da terra…
Tanto podiam caminhar… como o desaparecer repentino da
imagem em becos sinistros e verticais, que só a ancestralidade destes entes
conseguia na sua forma não terrena ser habitantes normais, em partes mundanas
que eram gigantes e onde só viviam deuses que eram mortais, o eu dos entes
indefinidos que eram demais…
Assim como estou…
Não sei definir,
Sou!
Quando me sinto só,
contigo acompanhado,
outro alguém…
Seja por quem,
sinto-me apenas eu.
Aqui dentro, assim…
sinto alegria de ti
e o que sou?
Tu és parte de mim.
Nos píncaros deste
país,
metade da pirosfera,
no meio desta terra,
onde quer te
encontres
Pensarei.
Sonho enquanto
existires.
Serei…
Assim como estou
não sei definir,
Sou!
A
NAVE
Estava ele
naquela posição letárgica, quando eis senão lhe apareceu do nada… uma esfera
girando em tamanha velocidade e com tal rapidez mesmo à frente dos seus olhos,
numa mancha esbranquiçada completamente opaca, pouco maior que uma mão humana.
A janela de
Lulupite tinha a altura dum segundo andar, e aí ficou rodando numa onda
gravitacional, não desviando sequer um milímetro, para onde quer ela pudesse
sair disparada… e naquele rodopio ao mesmo nível do seu olhar e ao alcance do
comprimento do seu bracito… Lulupite nem queria acreditar, com suas pupilas
esbugalhadas de tanta surpresa e a vontade que tinha de lhe tocar, impedida
apenas pelo receio do incógnito… ou de algum mal que daí pudesse advir, travou
a respiração.
E naqueles
segundos que lhe pareceram uma eternidade, sentiu alguém comandar sua mente,
hipnotizada de tantas voltas, transportá-la para a sala enorme de uma nave
cheia de mil e uma luzes, e num ecrã gigante, ao fundo, a imagem da sua janela
aberta… e à sua frente, um ser adulto que tinha uma particularidade gémea do
seu corpo – orelhas semi-pontiagudas.
Sem saber donde
lhe vinha aquela familiaridade e o à vontade descontraído de tudo o que via,
era como se recordasse coisas doutra vida, num sexto sentido sentiu-se em casa.
JEZEL
LULUPITE
Seus pais adotivos,
sempre lhe fizeram sentir que eram muito belas e por ser diferente de todas as
outras crianças, nunca se devia deixar abater e respondendo sempre às críticas
com um sorriso (quando ia à Vila às compras… na furgoneta de caixa aberta) pois
fora deixado ainda com tenra idade à porta daquela quinta… com um bilhete
escrito em má língua cheia de erros:
«Jezel Lulupite
da Próxima Centauri… quarto ano-luz sol… aqui
vossa estrela azul… parte noite… regressa dia… missão ficar temporária… semper
et ubique unum jus…»
Aliás, Lulupite
conseguia ler as mentes mesmo antes de elas formularem algumas palavras, o que
lhe dava uma certa vantagem de preparar as respostas com antecedência –
precisamente quando elas tentavam a provocação… não deixando de fazer desse dom
um segredo guardado a sete chaves, pois assim fora aconselhado, para que
elementos do governo terrestre não fizessem dele uma cobaia com tanta
ignorância.
Aqui…
Não importa onde!
Qualquer lugar é o
sítio.
Aqui…
Seja onde for!
Sobressai o imenso
etéreo
o silêncio na pedra
branca
símbolo dos tempos
uma cruz num ramo em
flores.
Aqui…
Algo teima romper
amiúde
folhas caídas…
Para lá…
a um dado abismo
outros locais virão
outras vozes,
outras dimensões paralelas.
Não importa onde!
Seja onde for?!
Aqui…
Pequena moradia
gruta do tempo
Universal porta
aberta
Princípio e fim.
ERA
UMA VEZ… UM APAIXONADO
Era uma criança
meiga, calma e muito séria na maneira como escutava os “anciãos”, termo que
empregava com respeito e admiração quando se tratava dos idosos com alguma
ciência da vida. Porque da arte académica, dominava a matemática e a física num
grau demasiado avançado para os cientistas da Terra.
Escrever era
para qualquer habitante de seu planeta uma espécie de “chinês”, expressão que aprendera
no dicionário em sentido figurado e lhe vinha à memória a pele esticada dos
olhos oblíquos como se foram desfigurados… parecidos com fantoches.
Por outro lado,
havia outras escolas de quem nada sabia… como a poesia, que de sapiência tinha
todo o sentido quando era sentida – e era tão simples viver quando era vivida
simplesmente ao escrever:
Era uma vez um sonhador que gosta muito de rabiscar.
Adora ser prosador, é natural, dá-lhe prazer, mas não
consegue fazer versos.
Está afetado duma enfermidade com prognóstico que não
há. Os sintomas são tártaro passional, impedindo a vontade de conseguir
escrever.
O culpado é o coração enfermo, e o dom de compor se
foi com o diabo para as nuvens do inferno.
Mas se esta moléstia é um achaque, ele não quer estar
mais doente sem versos e sem prosa para sempre.
Não quer o sentimento duma musa sem o amor das suas
letras, porque elas são a sua paixão e o poema da sua vida, escolhendo o
coração no lugar da morte em vez da arte da escrita.
SER
POETA
Não existia na sua terra algo tão belo que alguma vez
vira, como as palavras e os versos… não havia letras nem cartas que enchessem
páginas e maravilhassem o coração e a alma - só conhecia números, equações ou
símbolos da matemática misturados com rabiscos que é uma ciência exata no seu
planeta Verde.
E para tentar compreender a razão sui géneris da
condição sine qua non - sem o qual não pode ser, Lulupite que não é do planeta
Terra vai declamando tentando ser arauto, compondo versos aos bocados para sentir
o ser… embrulhar os sentidos na mistura do (Ex) com a humanidade, deixando a
física em Nadgarden e inventando as letras de poemas como se fosse humano
puramente terrestre - querendo sentir como um poeta…
Ser poeta, é sentir a dor
como quem sente sofrimento
ser imenso criador!
Tudo por amor com sentimento.
É sonhador no cantar sincero
fazer da palavra verso…
queixar-se do que o inquieta
falar de esqueletos do poeta.
É pai trovador de cantigas
menestrel pateta sentimental
como um bobo das poesias…
é ser poeta comum provençal.
Ser poeta, é ler no revolto mar
o sal que a vida espuma no ar,
trechos de submundos nas ondas
peixes com versos nas bolhas.
Também é um fingidor pateta
um pensador de meia tigela,
quando canta a alma doutros
e eleva a voz ao céu como poucos.
Seu estado pueril d'alma
é infinito que não se acalma,
entre rebuliço de pensamentos
o big-bang de encantamentos.
Escrever na alma com a pena
e ser poeta, é só genuína pureza,
sentir emoções tremendamente
com o coração verdadeiramente.
Mas ninguém é poeta
se o vero não se acerca,
a esperança é quando a chama
incendeia o fogo que ama.
E o poeta tem sempre razão
quando diz que ama sofrendo,
porque só tem amor no coração
e não sabe viver, senão morrendo.
A
NATUREZA
Analisando a
meteorologia dos astros com alguma complexidade, tenta vislumbrar o trajeto que
já sabe de cor no mapa estelar da nave esférica, que o veio buscar para
concluir sua educação no seu planeta natal, pois no seu cérebro vai uma
gravação de toda a humanidade da Terra, para ser estudada minuciosamente com os
anciãos do seu país.
Essa era a sua
missão para não deixar suspeitas… quem iria desconfiar de uma criança… dum ser
superior e tão inteligente, com poderes ancestrais que nem seus pais adotivos tinham
conhecimento…
Apenas sabiam
que Lulupite tinha orelhas pontiagudas, uma anomalia física que era tida como
tantas outras deficiências humanas. Aliás, quando passeava na Vila, por vezes
ouvia o comentário abonatório ao qual fazia orelhas moucas…
- Coitadinho…
parece um pequeno diabinho… mas é bonitinho. Tem orelhinhas que parecem
chuviscos de gelo em formas de bico, caídas doutro século.
O TEMPO
E continuando a
análise ao tempo, tenta imitar um ponto aqui, outro acolá... mete umas nuvens
para o lado do vento, deixa um raio hipnotizado no ar, mistura no sol a chuva e
deixa sair seus elementos... sempre achou no fim o arco-íris, as cores que
melhor ficam no céu.
Vai chover?
Vai haver sol?
Como está hoje o
tempo?
Será do mês,
será da chuva
será do vento
o que paira no ar…
Será da noite o
lindo luar?
Ora há sol!
Tanta ventania!
Ora se põe a chuva
sobre as ondas do
mar.
A natureza, essa,
tem sempre
a última palavra a
dar,
Basta contar os dias
e saber esperar.
O RELÓGIO
Chegou o instante de partir… regressar às origens,
colher da sua gestação a hora certa, marcando pelos ponteiros a viagem ao seu
tempo, ao despedir-se de seus parentes pontuais, acabar a sua formação no seu
planeta natal levando o relógio como artefacto prosaico, mas tão interessante
como ponto inicial de estudo.
O radar auditivo
escutando o penetra
duro intromissor
imiscuindo-se no
sonho
de sangue azul…
A dança marimba
do quase ritmo…
Sintonizando o tempo
entre o balido do
tambor
e o tom de cancã…
Compassado barítono
no bater da cora.
O caixotim
de pêndulo espadal
exir in
perpendicular
na eternal mansarda
arcana
Decepando o espaço
Ponteiro
vivo-mortal.
O
REGRESSO
Lulupite não
pára de dar saltos de contentamento… finalmente vai viajar para um ponto
determinado de um sistema, passando por biliões de esferas de cor metálica com
camadas gaseificadas e terrificadas, e tonéis de arco-íris por autoestradas
planetárias, contornando cometas de fogo ou rochas sem tochas que são hotéis e
postos de abastecimento, com raças que têm corpos esguios e cabeças de
carnaval, que tanto podem ter corninhos de girafa, bochechas de hipopótamo,
rostos horrendos que não lembram aos desfasados membros e compridas caudas,
todos com algumas partes humanas, mas de línguas de camaleão até à mão com
dezenas de dedos ou com poucas garras de afiadas unhas como punhais rasgando a
carne…
Sonho que vou a correr…
Farto-me de correr correndo
corrida que anseio
de sol-e-dó cheio
E o lugar que estou a ver
é sempre circundante…
No mesmo momento
tenho um pé diamante
e não saio do mesmo lugar
por mim passa tudo
e até oiço o som do mar
Não consigo correr… no mundo
a corrida passa a ser realidade.
Então fujo e encontro a saudade.
Percebo depois sem entender
que estou a correr
por vezes a voar…
Mas nunca saio do mesmo lugar
Canto a existência como um sonho
e o correr riscado é um fantasma
um ponto sobre outro…
O que vai na face passa
a facha do tempo acaba
e quando chega o fim ou inicio
Ouve-se o correr dum risco…
E a embarcação trava.
Cheguei à gare do meu destino.
EXTRA-HUMANO
Numa das suas
viagens temporais, Lulupite desloca-se solitáriamente à Vila, com o desejo de
se envolver no meio das pessoas, para adquirir mais factos que identificassem a
raça humana para posteriores cálculos, na esperança de encontrar algo
abonatório e menos primitivo das suas qualidades.
Até agora
conhecera uma certa transcendência (a única) de comunicar com os homens através
da ciência poética, que evidenciava sensações puras e sentimentais.
Ao caminhar lia
mentalmente as opiniões nada simpáticas a seu respeito:
- (Que anda
este aleijado aqui a fazer sozinho?)
- (Este miúdo
devia operar aqueles abanos…)
- (Como são
grandes e feias meu Deus!)
E assim,
passeando no seu calvário crítico, ia cumprimentando os transeuntes como se
fossem os seres mais simpáticos do seu mundo.
Já mais de uma
vez ouvira falar nesta palavra (Deus). Sabia, porque os terrestres a empregavam
constantemente e como costumava sondar os pensamentos das pessoas sobre
assuntos que lhe despertavam mais interesse, conhecia o significado daquela
entidade; só não compreendia os medos e insegurança da humanidade que levavam
ao conceito do poderoso e do fraco… pois para o bem prevalecer, ou melhor, para
tudo que não há explicação ir acabar no mesmo termo e na Divindade.
Compreendia,
mas não aceitava o primitivismo dos homens que assim se submetiam e afundavam
nos seus temores, só porque era conveniente ao doutor dos paganismos, à
ignorância dos crentes, à imbecilidade dos seguidores, à força toda de querer
ser dominado, ao oportunismo dos mandatários do poder com a justificação da
fome, da miséria e porque têm de ser estéreis para haver abastados…
Lulupite podia
abrir o espírito das pessoas às transcendências e desvios dos caminhos que
levavam ao constante e persistente viver no erro…, mas não estava na sua
mão.
Contudo,
bastaria haver Corporações igualitárias em todo o mundo, onde houvesse o mínimo
decente para uma família viver e um máximo para desfrutar com a orientação do
Estado, ensino, trabalho e riqueza para todos, evoluindo a raça humana como
civilização de outras Esferas Planetárias, convivendo com outros seres e
habitando outras estrelas no espaço, para aperfeiçoar a estirpe através de
séculos lendários… e aproximarem-se o mais perto possível da imortalidade com
novas tecnologias e avanços que tornam os sonhos reais.
TALITA
E estava ele
naquelas cogitações e passeando ao mesmo tempo, quando vinha na sua direção
Talita (a menina de olhos verdes), olhando sempre em frente com uma bengala na
mão batendo num lado e noutro do chão… compreendeu que algo estava errado.
Ao tentar
desvendar o seu íntimo, fora-lhe permitido entrar, e ao entrar a menina parou.
- Olá, não tenhas
receio de mim, meu nome é Lulupite e gostava de saber qual o motivo da tua
não-visão, porque escolheste viver assim?
- Olá, sou a
Talita. Não escolhi, já nasci assim… e não tenho medo de ti, pelo contrário,
sinto-me bem contigo.
- Obrigado. Se pudesses,
gostavas de ver o mundo que te rodeia com teus olhos verdes tão formosos?
- Sim, e…
também gostava de ver como eras… sei que és aquele rapaz das orelhas… de quem
tanto falam, mas como sabes… sou invisual.
- Talita, se me
deixares acariciar teus olhos com as minhas mãos por uns instantes e prometeres
não entrar em choque… verás meu rosto e entregarás teu coração ao meu… seremos
dois amigos apaixonados para sempre entre as estrelas.
(Talita
aceitou, mas ficou confusa, desejando que fosse verdade o que dizia. Ao ficar a
ver, nem queria acreditar ao enxergar pessoas, casas, as nuvens no céu e
Lulupite…)
- Tu… tu és
muito bonito!
Tens os
olhos verdes dourados e as ditas cujas (orelhas)… são tão elegantes e
harmoniosas nada disformes… como diziam…
E assim,
continuaram a conversar durante muito tempo… abraçando Talita
teletransportou-se à montanha para ficarem à vontade e onde costumava estar
sozinho… Lulupite contou que era dum planeta que tinha árvores enormes e muitas
nascentes (donde provinha toda a alimentação) viviam em cidades dentro de
cúpulas de vidro inquebráveis, protegidos do sol muito quente de dia e de
noites zerosas com muitos graus negativos.
NADGARDENIANOS
Eram todos
homens letrados, comunicavam pelas suas mentes poderosas, não tinham doenças
devido a uma medicina muito avançada, e criavam máquinas robotizadas que
executavam todos os trabalhos domésticos.
Nos Estaleiros,
os mais novos construíam naves enormes com a orientação e experiência dos mais
velhos, sem classes ou governos, respeitando os Conselheiros e a sua idade
centenária.
Cada família
tinha uma casa bem apetrechada, essa casa era uma nave esférica preparada para
sair em qualquer momento, em caso de algo imprevisto no planeta Verde, que
pudesse pôr em perigo as vidas dos seus habitantes Nadgardenianos.
Além disso,
cada cidade tinha A Nave Mãe, onde todas as outras pequenas naves familiares
podiam acoplar em caso de destruição, ou mesmo poderem viver no espaço sem
dificuldades nenhumas, pois há muito que guardavam mapas estelares de planetas
que poderiam escolher e habitar, estando em contacto com outras civilizações
para construírem uma autoestrada estelar e a comunicação entre os mundos ser
uma breve ponte mesmo ali ao virar das esquinas de espaços profundos.
DESPEDIDA
No final do
dia, os dois abraçados, sentiram que o amor entre eles era maior que todas as
estrelas juntas, e tanto, quanto mais longe vivessem… estariam sempre muito
pertinho porque viviam no coração dentro dum e doutro, fazendo juras de
amantes.
- Prometes um
dia regressar?
- Não só
prometo, como ficarei para sempre a teu lado Talita.
Com os rostos
quase colados, e olhos nos olhos apaixonados, Deus viu a Felicidade.
E confessando
que gostava de imitar os poetas da Terra (a arte mais bela que alguma vez
conhecera), lhe iria demonstrar seu amor com algumas palavras de significados e
sentidos terrestres, esperava ele nesta temporária espera, lhe parecessem
versos apaixonados e um sentimento puro e sincero terra-a-terra “para a minha
Talita”, depois de a beijar carinhosamente, apertou-a com medo que o mundo a
levasse e pudesse acabar nesse momento tudo.
/Gravou na alma
imortal para que fosse eterno, guardou nos corações de carne com amor, escrito
em sangue tão belo, a doce paixão daquele sabor. /
Espero o dia que não chega
angústia do tempo distante…
Insaciável tormento dominante.
Saciam fraquezas…
À espera dos dias que não vinham
procurando.
Seres vivos como neblinas sentiam…
Securas eliminam das trevas
Aguardando.
Espero o dia que não chega
procuro o mundo que não vivo
Entre o antes… depois de seguida
encontro a pessoa que amo de certeza
aquele amor que faz viver…
E vivo sonhando…
Quando esperava morrer.
Então amando…
Na busca daquilo, eu digo:
- Quero viver contigo minha vida!
E fico aguardando…
ESTAREI ONDE ESTIVERES
As estrelas
eram semeadas como as flores de reflexos dourados, banhados pelos sois de
vários sistemas com pigmentações que ainda não combinavam por serem
desconhecidos os espectros diluídos em tons de novas cores coloridas de
mistério – abundantes abismos como enigmas que não deixavam ser conhecidas
aquelas colorações de presépio como anunciação.
E vou amar-te sempre!
Por entre folhas e flores
sementes e dores
partículas da mente
Sequestro de odores
com perfume de amores
caminhando entre…
O vou amar-te sempre!
Para onde fores
do sigo em frente
E seremos sofredores
Da vida como missão
caminharei no teu coração
viverei incondicionalmente
Estarei onde estiveres
assim que me disseres…
Vou amar-te sempre!
/ESTAREI ONDE ESTIVERES/
Com este pensamento,
Lulupite mal conseguia ainda enxergar o planeta azul onde ficara sua amada.
Depois de muitas promessas e alguns beijinhos derretidos de duração congelada
para viverem nas mentes solidificadas enquanto estivessem temporariamente
sozinhos, e à medida que a rotatividade esférica da nave se entranhava à
velocidade da luz pela rota do feixe alaranjado com destino ao planeta
Verde…
Talita com o
olhar perdido na noite, mas com aquela intuição que caracteriza as criaturas do
seu sexo, tentava imaginar a viagem de Lulupite ao seu planeta pela autoestrada
espacial de túnel luminoso, atravessando a negritude do vácuo à velocidade
ultra sónica com chegada de parsecs ao portal da estação, para logo voltar ao
tamanho normal de uma casa nave do planeta mãe de Nadgarden… e já estava
morrendo de saudades por dentro como se padecesse duma úlcera que acabara de
inventar… a razão de existir estava noutro lado.
Não se
preocupava muito, ela também lá estava.
Eles não
sabiam, mas se os pensamentos eram gémeos, devia-se aos sentimentos de ambos
usarem padrões de onda como as que passam pelos postes dos fios das
telecomunicações… um pensava e emitia, o outro recebia e sentia a corrente do afeto;
não há distâncias que travem a chama que dá vida a todo o ser, onde tudo nasce
e nunca morre nos laços do amor.
Um dia, esse
amor iria acolher o sonho de qualquer humanidade – a mistura das raças na
propagação do feitio dos mundos, igual em toda a parte, os filhos da Espera no Universo
- um novo futuro.
Com Lulupite e
Talita estava a começar no globo um novo Império da Esfera.
FIM
*