quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

HOMEM DO FUTURO











HOMEM DO FUTURO














Aproveitando todo este tempo no espaço, estudei profundamente com ajuda de sistemas computorizados a gigantesca Galáxia Ecoriana.
O sol de Eco de cor prateada a que dei o nome de Orio, abrange horizontalmente um anel circular com dez luas, e no centro o maravilhoso planeta Eterium com todas as características do nosso Globo-Mãe, terra, árvores gigantes, e imensa água doce.


Não consegui encontrar seres inteligentes nem vida animal, mas sendo dez vezes maior que a Terra, tentando desbravar seu território demorará a vida dum ser humano, havendo a possibilidade de encontrar vida orgânica. 
Tamanho mundo foi uma descoberta única para toda sobrevivência da humanidade, podendo ser colonizado como uma Arca de Noé.

Por sua vez, lá, um homem pode viver milhares de anos… por influencia dos raios gama de Orio que sustentam qualquer raiz ou célula no seu crescimento lento, sobrevivendo numa quase imperceptível eternidade.

Tal fonte de energia, é emitida num eixo estreito em todas as direcções das luas num flash isótropo, devolvendo tal potencia bipolar ao centro de Eterium, criando uma atmosfera oxigenada com seus compostos gasosos e gases concentrados quimicamente, com pouca variação e idênticos aos da Terra.










Poucos anos de sono na ida e volta da viagem a dormir em estado latente na câmara frigorífico da nave, ligado a tubos que mantinham minha existência inalterável, com tempo computorizado para adormecer e acordar, no período de pesquisas e estudos na longínqua Galáxia Eco.
Ao regressar ao meus Sistema solar, no meu calendário da minha nave Tempus, estão contabilizados um século depois da minha partida aos 30 anos, mas apenas somaram à minha idade terrestre 10 anos, ou seja, na actualidade tenho 40 primaveras.


Na minha partida angustiosa... recordo meus familiares chegados, suas lágrimas e beijos mortais ao lançarem o ultimo olhar nesta missão centenária.
Lembro o derradeiro momento que lancei ao céu do século vinte e um com os meus trinta anos de idade… agora quarenta… e os cem anos que mudaram radicalmente a minha cidade aquando da minha abalada.


Dos laços mais chegados, ninguém que possa rever.
Uma viagem com uma restante despedida e um preço demasiado alto ao abraçar a profissão de piloto, matemático e cientista.
Troquei a família pelo vácuo negro dos pontos cintilantes como a véspera da árvore de natal na madrugada só de presentes… 



 





De olhar abismal, à saída da porta metalizada da nave, tentei suster um pé num degrau... mas não havia escada nenhuma.
Entre o metal da nave e a borda do estrado, abria-se uma brecha com espaço suficiente que me surpreendeu num pular ridículo e um esgar de expressão cómica, com olhares divertidos à minha volta.


Senti uma corrente oculta que me absorveu, flutuando num vão oco sem fim, para logo ser suavemente colocado numa área branca maternal e esponjosa.
Rapidamente me recompus, andando ao longo da plataforma…
Mirei o foguetão em que chegara repousando numa cavidade profunda, separado de mim por um abismo desprotegido. 












Era uma estação com a chegada e saída de naves e piões por todo o lado, de cores berrantes e sons estereotipados, com casos que mudavam o visual ao simples toque dum botão algures… de formas que se transformavam em futurismos excêntricos e controversos.
Letreiros luminosos...
Ecrãs electrónicos...
Vozes robotizadas...

             
Demasiada tecnologia para um homem do antigo século… não era aquele tempo demasiado transparente, frio, sem emoções que estava à espera. 
Fiquei desiludido.








Apenas queria recolher à cidade, encontrar um hotel, deitar-me em cima da cama e recordar um século atrás…ver se algo valia ainda a pena recordar. Talvez vislumbrasse algum sorriso no passado que removesse sentimentos fazendo bater meu coração.
Era um homem sozinho, muito conservador, meu nome “Sonhador” indicava a minha origem com laços de sangue desconhecidos… totalmente deslocado.
Mas antes de adormecer... já tinha decidido partir em nova missão.
Afinal, era um piloto de corpo e alma com destino marcado no espaço escolhendo o amanhã como o meu lar e trocando algures tudo por mim… sem futuro definido.
/Uma terra quente por um infindável campo gelado, na companhia do silêncio com passeios de fato espacial, entre respirações solitárias de som nos ouvidos, tapando buracos no casco da nave provocados por choque de meteoritos. /








Ao viajar pela estrada do ar, sem tabuletas nem sinais de aviso, ia ao encontro da minha casa de campo com muitos hectares de astro, muitos planetas como árvores vizinhas e sois como sementes da vida.
O presente era demasiado avançado… um futuro incerto… sem sal que me provocasse sede do mar. Uma lua avariada de metades.


As árvores pareciam de plástico, e as flores cuidadas por máquinas não tinham aqueles cheiros de outrora… terrestres perfumes adorados.
Crianças caminhando em fila indiana como robôs telecomandados e animais sozinhos em zoológicos... encarcerados. Era uma tristeza vê-los de queixo caído e sem a sua selvagem natureza. 


Os humanos eram alérgicos a pelos de animais domésticos... tinham horror a uma lambidela dum cão e a um roçar pelo de gato. 
Constatei que eu era o único habitante da terra que ainda gostava de animais, e ao passear nas ruas com uma trela e um cão que me fôra difícil adquirir num zoo, as pessoas vestidas com cores aberrantes olhavam  com receio à sua imaginária alergia sacudindo tudo quanto era sítio do corpo nuns tiques esquisitos... murmurando que ia ali o astronauta do século passado.


  





Fez-me bem voltar para dissipar dúvidas e fortalecer incertezas.
Mas já nada me restava aqui.
Sem os meus pais e irmãos vivos, os descendentes deles eram-me  completamente estranhos. Já não havia aquelas tardes de fim de semana em que se faziam belos churrascos e a família se reunia para conviver... 


A automatização da actual sociedade era mecanizada pelos gestos e diálogos estritamente curtos vivendo como robôs... e o que era mais estranho - os homens misturavam-se pouco com as mulheres, pois as drogas  além  de serem permitidas pela lei, substituíam todos os hábitos da raça humana, sendo a natalidade das crianças mantida pelos numerosos bancos de espérmen... o planeta estava a morrer aos poucos.








  

Foi me dada uma nova missão, e só pensava no dia em que faria de minha despedida uma nova partida ao encontro das minhas amigas estrelas… na companhia dos meus gatos e cães que andavam pela nave roçando o meu corpo como um adorado companheiro. 
As únicas vozes que me faziam companhia eram de um casal de papagaios aos quais ensinava a falar como um gravador, lembrando-me da suposta hora das refeições, de ouvir musica, de cantarem para mim Frank Sinatra... e me darem as boas noites e os bons dias de dias que eram eternamente noites.


O único lugar, o último lar, quem sabe… sonhando para sempre no cemitério eterno com todas as flores do Universo embelezando meu jazigo para a posteridade.


E naquele deserto escuro e cheio de rochas incandescentes me tornaria novamente numa lenda viva... um factor adverso da incontida solidão, estado natural de quem sobrevive às loucuras do pensamento e se transforma num Hércules dos mundos explorados. 
Um pensamento inabalável tinha tomado de assalto meu coração - não voltar mais ao meu planeta Terra. Um cisco no espaço, que alguém diria na Terra pertencer às estrêlas, e viver como o eterno Homem do Futuro.










" END"






















domingo, 4 de novembro de 2012

EU SOU UM LIVRO ABERTO








EU SOU UM LIVRO ABERTO





Eu sou um livro aberto.
Pensa, quem entende inscrições de mim encoberto, nascendo letras em talhe de flores,  como o milagre sarando todas as dores.
Tenho o título fantasma numa capa sem páginas e umas nativas palavras... que podem ser lidas por todos aqueles que usam o coração com amor, e são príncipes e princesas filhos simples do povo sem distinção. 

Eu sou um livro aberto.
Lá, vem a história do início… igual a tantas outras, pegado pelos pés de cabecita para baixo, com uma palmada no rabito dum ser que veio à Terra, mal abriu os olhos… em vez do choro o grito do poeta:


 Eu quero ver o Mundo!
De pernas pró ar!
A Terra, debaixo, fecundo!
E por cima o mar.


Assim sou eu, o contrário trocado entre humanos, diferente dos sexos, entre almas de judeus… meu corpo nega o vazio abençoado e a contradição do espírito perdido.

Aberto sou um livro.
Sem páginas, tenho o título… e a marca são destinos na minha capa.
O timbre da escrita esbranquiçado usa tinta de algo dourado, apenas visível ao toque da vara do mago, embora legível a gentes de todo o Império, são segredos que podem ser desvendados sem mistério.
Por isso…
Eu sou um livro aberto.


Aberto, sou um livro.
Pensa quem me conhece de perto.
E as páginas escritas em verso, estão espalhadas na areia do meu deserto.


/Acordo de manhã com os pés na cabeceira e a cabeça no fundo da cama sonhando a noite inteira.../


Eu sou um trovador no oásis das minhas palavras, a única coisa certa são as minhas letras amadas.
Cada grão que goteja por entre dedos, são as letras do meu sangue vertendo lágrimas… fluindo locuções de amante, que atulham a cobertura de aparições letradas em recordações de memórias gravadas. 

Sem o meu livro aberto, o corpo vai nu desfolhando meus pensamentos com a dor do homem sincero, sentindo folhas invisíveis de sentimentos, espalhadas no ventre das minhas vísceras por entre odores transparentes, afogando todos os parasitas que querem contaminar a vida da alma, sânscrito e pura.

Eu sou um livro aberto. 

Quem me abre…
Pensa que me reconhece, mas o que sabe não dá por nada, esquece. 
E nasce o título na companhia de desenhos incrustados de flores e rendados a ouro, a sonhar nas nuvens com o sonho no mundo do meu livro aberto, ensinando os homens a serem sonhadores, e as mulheres de peito descoberto amamentando como musas os jardins da Terra.

Vagueando em parte incerta, sondando as trevas de meus escombros, vou sonhando como um triste sentimental, escondendo nas sombras pontas soltas que eu transporto aos ombros... como um zombie pateta.

/E o volume inconclusivo,  folhas dobradas pelo encanto, se tornam amadas num santuário sagrado como a obra mais redentora que os homens esquecem, e eu venero, porque encetado… sou uma qualquer historia, de um livro qualquer aberto./