sexta-feira, 3 de outubro de 1997

SONHEI QUE NASCI





SONHEI QUE NASCI


 

É possível sonhar com um ano num lado qualquer sincero? 

Sonhei que nasci num lugar onde só existia inverno.
Ao nascer, eu não queria crescer. 

Grande no sonho, acordado, tristonho, com o coração embaciado, era um acordar acabado de fantasiar, vindo nas batidas das asas, branquinhas penas emprestadas, acabadinhas de chegar. 
Bastava viver noutros mundos a verdade coberta de patamares, onde as crianças falavam e não tinham idades. 

Não era importante a voz ter som, mas só saber voar, por dentro da terra ou do mar… porque o sonho aparecia do lado que era bom. 
Havia magia… sem o não existir, nem precisava do sonhar, nem ter vida, apenas coexistir no amar.














sexta-feira, 5 de setembro de 1997

SONHEI QUE MORRI






SONHEI QUE MORRI
 


 
É possível sonhar com um ano num lado qualquer etéreo?


Sonhei que morri na eternidade do milénio, no tempo enrolado em forma de colher. 
Era uma coisa doce suave, um adormecer nada grave, nada tinha dor, tudo era paz e amor.


Tudo era melhor, não fora a calma... mantos brancos ao meu redor, esvoaçavam como brinquedos da minha alma… tacteavam o meu acordar com um sorriso de prazer, a morte me fazia sonhar e eu queria morrer.
Sempre que morria, meu anjo da guarda me dava asas para fugir… e eu fugia, brincava às escondidas no morrer, e aparecia no voar ao voltar a nascer, sempre a sorrir.














quarta-feira, 6 de agosto de 1997

VIM POR ENGANO





Maternidade Alfredo da Costa, Lisboa.




VIM POR ENGANO






E... o que se vive dormindo, eu sempre consegui vivendo acordado.




Sonhando em vida, pela antecâmara divina vim a correr perdido.
De princípio...?
Vim por engano. não era para ter vindo… humano.
Entre meios por meios indevidos fui trocado. 
Quiseram mudar o lugar para não ser conhecido (talvez demais desvendar o passado é o mesmo que saber do futuro), deram um nome igual e o sangue também era parecido, enfim, fui recolhido.


Purificava minha alma no jejum das coisas terrenas /acompanhava a beleza da natureza/ vivia apenas com o sentido de ser leve na minha transparência, partindo com minhas asas invisíveis para sentir a pureza do mundo como um anjo... dormitando na minha nuvem almofadada e sonhando… sonhando… 



A partir daqui, o real é vivido nos intervalos e a realidade do sonho o tempo acordado de todo o filme da vida.



Voltei... ao princípio de novo comecei. 
Com olhos de criança vi tudo aquilo que sonhei, que havia na imensidão humana outros mundos perdidos, coisas que eram belas doutras partes na lenda, seria desengano?

Era humano apenas no pó da terra, perante o olhar de entes temerosos. 
Sabia que eram poderosos, segredos que em mim encerram, com medo de perderem o domínio que não lhes era, e o significado mãe ventre que tudo gera – senão fora descoberto, era sem pudor o simples amor, maior grandeza da Terra, pecado por ser engano.