quinta-feira, 11 de maio de 2006

VENTO



VENTO


Anda à deriva
por vezes certo isento
tudo quanto é sítio porfia…

Como o mundo sem tempo
leva tudo de fugida.

Espalha a proveniência caída
semeando raízes incertas
por vielas das terras

Rosa-dos-ventos sentida.

Por vezes em fúria e aos gritos
ouvem-se vozes em vão

Como um trovão
deixa tudo destruído
sem penas, cercas ou avisos.

Disfarçado de anjo aos bocadinhos
vem mascarado
parece meigo e tão pequenino
na arte inocente do diabo.

Anda mansinho de boca em boca
fazendo de assobio…

Mareando velas e popa
puxando bois pelo caminho
com toda sua invisível força.

Tudo pega
nada fustiga
porque suas garras de manteiga
por vezes embala a cria
quando nasce o dia à sua beira…

E descansa ao sol noutra cena
sem murmúrios doutra era
e até dá pena
no silêncio do deserto.

…. Nunca fiando na sua cama
porque quando se levanta...

Ele é desperto...


Por vezes triste fantasma
outras, cabelos no ar
gravação de quem passa


vida e passado, rasto de mar...


















terça-feira, 11 de abril de 2006

EU NÃO TENHO OUTRA





/1984 - Propriedade e
vacas do Palhas, Porto Alto/




EU NÃO TENHO OUTRA







À minha maneira perdi a cabeça, bati com ela nas estrelas...depois a tristeza, raiva das perdas…e da perdida bebedeira.
Já tinha bebido uma grade inteira e quase tudo era cerveja.

Enfurecida a amada da minha vida, por fugazes amores que tive sem importância, repeti arrependido:
- Tu não acreditas?
Disse com expressão arrependida usada pelos inocentes:
- Juro, eu não tenho outra!

Seu grito sufocante rebentou como uma bomba. E do céu um trevo da boca como um fundo dum cume. Primeiro, em salivado azedume, depois assassinando a raiva, saindo um pouquinho de ódio e de certeza, talvez ela saiba…que o ódio não passa assim que a modos como o amor seguido do ciúme.

Ao voltar a mim… fiquei desaparecido no infinito. Não consegui sair de lá.
Disse:
- Sim, arranjei o bonito!
Maldita a hora em cima da mesa!... esqueci da minha agenda...

Deambulando pela noite, perdido, dei um passo atrás…não valeu de nada se fosse… no pasto, ao pé dum boi atiro fora a vigésima bejeca de vidro indo junto com o arroto do pifo, e fiquei eu a pastar nas ervas rodeado pelas poças das merdas… cabisbaixo, de tanta cagadela e dor.
Muito cagaram aquelas parvas!
E era tudo caca de vacas.

Coisa que brota fora… servo da angústia perdida com coração de som dilacerado fiquei com cara de parvo!
Sem remédio, vim-me embora. Depois, talvez sem ver saída…

Que estava eu à espera?
Meus olhos quadruplicavam… cornos que nunca mais acabavam!
E via tantos à volta da minha cadela… dei um passo pisando com a bota uma merda que era uma bosta, enterrando até aos tornozelos aquela caganeira de grelos.

Furioso, gritei como estava :
- Filhas da puta das vacas!
Já não bastava enganar uma?
Diga-se de passagem, que não era… e aparecia estas grandessíssimas putas, borrando a quem nenhum mal fizera.

À minha maneira perdi a cabeça, bati com ela nas estrelas... depois a tristeza, raiva das perdas…e da perdida bebedeira.
Fui-me deitar a pensar nela… acordando com o cheiro de tanta merda…