SOMBRAS
/VILA DE MOGADOURO,
TRÁS-OS-MONTES/
As trevas do mistério não é mais que o
sobressalto da mente
comprovar enigmas incríveis, que só são
possíveis imortalizá-los
na realidade dos seres espirituais,
fazendo a ponte entre dois
mundos opostos.
Passam ao redor da cama figuras despercebidas que
aterrorizam meu olhar de criança e me fazem viver horas de horror antes de
adormecer naquele sótão tão antigo… sentia o suor escorrer pelo rosto como se
fosse possuído pela febre dos pesadelos.
Formas profundas dentro daquela escuridão, deambulando
como fantasmagóricas almas dentro do meu mundo, estremeciam o corpo abanando
como se fora uma árvore de folhas caídas, tremendo da cabeça aos pés.
Depois, aquela parede enorme, tinha ao meio uma porta
pequenina que não me atrevia abrir, porque o meu temor me dizia que era dali
que poderiam advir os meus maiores horrores… sentindo uma enorme vontade de
abri-la, faltava-me a coragem.
A sensação de não estar sozinho é demasiado real,
porque via nas trevas aberrações que só sabem viver do pavor da escuridão, que
se querem acostumar à minha sombra, viver dentro dela como a única forma de
andar neste mundo.
À noite, no sótão desta casa, ansiava pela claridade
do dia; uma forma de me libertar do medo misterioso que a obscuridade
comportava, ansiando pela normalidade diurna deste casarão.
Até que um dia… a minha curiosidade era tanta que
venceu o medo. Abri a porta devagar com mil cuidados. Soltando o ferrolho, dei
uns passos receosos atrás… e só vi escuridão e uma queima gelada no rosto.
Logo de seguida me arrependi, quis fechar a pequena
porta, mas estava paralisado de medo que a deixei ficar aberta. E assim fiquei
horas, sentado no chão, tremendo e suando de olhar hipnotizado na sua direção,
à espera que de lá saísse algo assustador. Às tantas, pareceu-me ver duas
bolinhas amareladas piscando de tantos em tantos segundos. Aí, meu coração acho
que parou e deixei de respirar, gritando quando vi minha mãe chegando e me viu
naquele propósito; fechou a portinha e disse para nunca mais a abrir.
Assim fiz, porque agora sabia que algo estava ali
dentro, e porque ainda mal falava pisquei os olhos à minha mãe tentando
explicar o que tinha visto, o que ela achou tanta graça que começou a rir e eu
desesperado por ela não perceber.