segunda-feira, 13 de abril de 1998

RECORDAÇÕES DAS COISAS







ALMEIRIM

RECORDAÇÕES DAS COISAS


 Pois se lá vivi… foi noutro tempo, de recordações que passaram e em nada de mim ficou gravado, ou porque as imagens não me deixaram impressões dos gostos do passado, ou porque minha memória em formação não tenha captado algo que fosse de meu agrado, a não ser a estrada principal, vislumbre quase imperceptível dum nevoeiro, a percepção da visão e via-se mal…

Movimento lado a lado, o andar sem comunicação, passos no passeio… passos no passa seguido, as costas e as pernas altas de um homem que levava debaixo do braço o jornal comprimido, braço com sacola de uma mulher perdida, a montra cheia de manequins com vestidos que a mulher queria, e o cruzar dos dois na passadeira, logo daquela maneira.

De um lado a volta, do outro a ida, troca de caminhos de ida e volta inteira. E no trajecto repetido, nas dobras as esquinas, as mesmas lojas e um café na avenida. 

Por não ser a estrada principal, a visão normal do pouco movimento, um carro de vez em quando, no outro sentido uma carroça e um cavalo e o condutor com um chicote e uma correia, uma bicicleta pasteleira da 2ª guerra mundial, e na ultrapassagem o tinir da buzina duma lambreta prateada, uma furgoneta descarregando material de caixa aberta para uma loja de electrodomésticos em segunda mão, e por fim... 

Uma criança com olhos de emoção… ao ver da janela da casa este movimento naquela rua, e que ainda não sabia os nomes que havia dar àquelas pessoas e veículos em circulação, a não ser, guardar no coração para poder contar um dia…