terça-feira, 17 de março de 1998

DE CONDEIXA A COIMBRA




DE CONDEIXA A COIMBRA




 
Imagine-se… até a mim, hoje, me parece quase impossível, fazer aquele trajecto inúmeras vezes, únicas no sentido, o custar acreditar, sozinho, despreocupado como sempre dentro do destino.
Agora, era viagem duma vila, directo à cidade, com quatro anos o revisor ao lado… apertando minha mão com cuidado, ajudando-me a descer o estrado… 
Como eu adorava andar de autocarro!  

Pela janelinha, olhando sempre para as árvores, as casas, os automóveis na estrada, alguém a passar… e eu a sonhar como se estivesse a ver um documentário, as imagens a passar a noventa ou mesmo a cem quilómetros por hora… num cinema moderno, daqueles dias coloridos com todas as cores da natureza sem preto nem branco.
Aquilo é que eu gostava de ir à janela!  
Depois, os olhos de tanto se focarem, ficavam hipnotizados, parecia um sonho em movimento, o que estava lá fora, e dava a sensação do quieto, teimosamente parado, e eu a sonhar que o meu corpo voava ao passar pelas coisas das imagens, entre a vidraça e a imaginação da velocidade… 
Era um filme real sem playbacks nem imagens gravadas, passado ao vivo.  
Aquilo era demasiado belo, para ser verdade.

Aquilo é que eu gostava de ir à janela!  
Ir à cidade… viajar de autocarro. Ver o meu mundo através da vidraça, em sonhos de asas...
mirando tantos corações, pulsando nas cores arco-íris tão bonitos… a inveja do voo das aves em pleno contraste das borboletas floridas, batendo em sintonia na beleza e no mistério da natureza.