DE CONDEIXA A COIMBRA
Imagine-se…
até a mim, hoje, me parece quase impossível, fazer aquele trajecto inúmeras
vezes, únicas no sentido, o custar acreditar, sozinho, despreocupado como
sempre dentro do destino.
Agora, era
viagem duma vila, directo à cidade, com quatro anos o revisor ao lado…
apertando minha mão com cuidado, ajudando-me a descer o estrado…
Como eu
adorava andar de autocarro!
Pela
janelinha, olhando sempre para as árvores, as casas, os automóveis na estrada,
alguém a passar… e eu a sonhar como se estivesse a ver um documentário, as
imagens a passar a noventa ou mesmo a cem quilómetros por hora… num cinema
moderno, daqueles dias coloridos com todas as cores da natureza sem preto nem
branco.
Aquilo é que
eu gostava de ir à janela!
Depois, os
olhos de tanto se focarem, ficavam hipnotizados, parecia um sonho em movimento,
o que estava lá fora, e dava a sensação do quieto, teimosamente parado, e eu a
sonhar que o meu corpo voava ao passar pelas coisas das imagens, entre a
vidraça e a imaginação da velocidade…
Era um filme
real sem playbacks nem imagens gravadas, passado ao vivo.
Aquilo era
demasiado belo, para ser verdade.
Aquilo é que
eu gostava de ir à janela!
Ir à cidade…
viajar de autocarro. Ver o meu
mundo através da vidraça, em sonhos de asas...
mirando
tantos corações, pulsando nas cores arco-íris tão bonitos… a inveja do voo das
aves em pleno contraste das borboletas floridas, batendo em sintonia na beleza e no mistério da
natureza.